Quem olha para o Índice Bovespa neste fim de ano tem a desalentada impressão de que 2010, com todas suas fortes emoções, não existiu. O índice, a 68.485 pontos na quinta-feira, está praticamente no mesmo nível de dezembro de 2009, 68.588 pontos. O valor das empresas listadas, o chamado “market capitalization”, também pouco mudou, de R$ 2,335 trilhões para R$ 2,529 trilhões. A impressão é que não se ganhou dinheiro com a bolsa este ano.

Esse é um erro comum. Confundir o resultado do investimento em bolsa com o índice. Apesar de o Ibovespa representar os papéis mais negociados, de grandes empresas, são apenas cerca de 50 das 470 listadas. A bolsa é, portanto, muito mais que isso.

Basta olhar outros índices, como o de pequenas empresas (“small caps”), que acumula no ano ganho de 19,54% até dia 23. Ou o do setor de consumo, com alta de 24,82%. Outros setores, como o elétrico, com 10,5% de alta, de indústrias e de financeiro, ambos com 8%, também não fazem tão feio assim. A grande vilã dessa história é a Petrobras que, com queda de 29% no ano, atrasou a vida do Ibovespa ao longo de todo o ano.

O lado bom é que a maioria dos fundos de ações de gestão ativa deve ter resultados melhores que o Ibovespa. Muito gestor vai alardear esse resultado, mas poucos vão admitir que o ganho veio do simples fato de os fundos serem mais diversificados que o Ibovespa.

Os fundos de “small caps”, então, que acertaram em cheio na tendência do mercado, nem se fala. E há também os fundos de eventos e arbitragem, que ganharam com as inúmeras operações de fusões, aquisições, reestruturações societárias e financeiras de empresas.

Ou seja, muito do ganho do mercado veio mais dos casos específicos, micro, do que do macro. E isso garantiu o sucesso dos investidores que gostam de ficar esmiuçando os detalhes de setores e empresas. É a “vingança dos nerds”, resume Guilherme de Morais Vicente, responsável pela área de renda variável da Mauá Sekular Investimentos.

Vicente acha que essa vingança vai continuar no ano que vem. Muitas empresas lá de fora estão vendo no Brasil um mercado estratégico e vão buscar parcerias ou aquisições aqui. “Tivemos muitas operações neste fim de ano e isso deve continuar forte no início de 2011”, diz.

Além disso, as empresas brasileiras tiveram forte geração de caixa em 2011, estão com vontade de expandir suas atividades e devem buscar também fusões e aquisições para crescer. “Deve ser um ano de forte criação de valor, e os gestores que trabalham com esses eventos têm grandes chances de ganhar dinheiro.”

Em 2011, o lado macro também pode ajudar a bolsa, avalia a Mauá. A incerteza com a equipe econômica do governo Dilma diminuiu e a economia dos Estados Unidos pode crescer até 4%, diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Sekular. A liquidez internacional também seguirá elevada, favorecendo os mercados que estiverem crescendo, como o Brasil. “E a bolsa caiu no fim do ano, enquanto o mercado americano subia, o que deve atrair os investidores”, diz. O risco continuará sendo a Europa. “Mas o ambiente será melhor para o investir aqui”.

Angelo Pavini

Fonte: Valor

Write A Comment

Bitnami