Tirando os problemas financeiros em países da Zona do Euro, a volta da inflação no Brasil foi a principal surpresa negativa deste ano. O pujante crescimento econômico do país trouxe com ele o aumento dos preços. Apesar das medidas que o governo já tomou para conter o crédito, como o aumento dos depósitos compulsórios, a inflação deve continuar pressionanda, pelo menos enquanto não começar o aperto monetário. Se a inflação é negativa para a economia real, existem formas de o investidor se proteger do prejuízo. Um relatório da Itaú Corretoralista quais são os setores que mais perdem e os que mais ganham com o movimento inflacionário.
Os maiores perdedores são: papel, construtoras de baixa renda, empresas de diagnósticos, setor de educação, além das companhias aéreas. Já o grupo dos que se beneficiam é bem mais magro: apenas shopping centers e o setor de “properties”, caracterizado por empresas que negociam terrenos e empreendimentos comerciais.
Segundo a estrategista de renda variável para pessoa física da Itaú Corretora, Cida Souza, isso não significa que vale a pena comprar as ações dos setores que ganham e vender aquelas de empresas que perdem. “A inflação é só mais um elemento que o investidor deve considerar dentro de sua análise para escolher em quais papéis aplicar, mas não deve ser o único, principalmente considerando que a inflação deve ficar sob controle em 2011”, explica Cida.
No cenário de inflação controlada e continuidade do crescimento econômico, a Itaú Corretora mantém a recomendação de investimento em ações voltadas ao mercado doméstico, mas que também, de alguma forma, se defendam da alta inflacionária. As principais são: CCR, BR Malls, Hypermarcas, Pão de Açúcare Localiza.
Segundo o relatório da Itaú Corretora, diferentemente do que ocorreu em 2010, quando principalmente os alimentos afetaram os índices de preços, no ano que vem, os preços administrados – como o de energia elétrica e transporte público -, de serviços – como aluguéis -, de manufaturados no varejo – como os preços do algodão – e os salários devem pressionar a inflação brasileira.
Ou seja, as grandes perdedoras são as empresas em que os preços administrados, como energia, os aluguéis e os salários têm um peso importante dentro da estrutura de custos. Já as mais beneficiadas são as que possuem tais elementos contando a favor dentro da receita.
No caso do setor de papel, por exemplo, o gasto com salários representa 30% dos custos de produção e com energia, 13%. No segmento de educação, os gastos com pessoal são nada menos que 60% dos custos, o maior percentual entre todos os setores, e o aluguel dos imóveis, 8%, sem contar que a forte concorrência dificulta o repasse desses aumentos para os preços.
Já as construtoras de baixa renda que participam do programa Minha Casa Minha Vida perdem por não poderem ajustar os preços após o comprador assinar o contrato. No caso das empresas de diagnósticos, elas sofrem uma grande resistência dos planos de saúde para repassar a inflação. Por fim, nas companhias aéreas, o combustível é 35% dos custos, os salários, 20%, além da competição acirrada entre elas que não permite grandes repasses para as passagens.
Do lado vencedor, as empresas de shopping centers reajustam os aluguéis com base nos índices de preços, além do custo com pessoal ser bastante baixo. As empresas de “properties” têm essa mesma dinâmica.
Daniele Camba
Fonte: Valor