O patrimônio dos fundos de investimento ganhou um reforço de peso na semana passada, quando a captação líquida – aportes menos saques, sem contar a rentabilidade – do setor atingiu nada menos do que R$ 12,2 bilhões. Com essa forte entrada de dinheiro, os fundos já receberam ao todo R$ 16,09 bilhões na primeira quinzena de janeiro, levando os ativos domésticos do setor (sem contar as carteiras offshore) a R$ R$ 1,646 trilhão. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
As categorias conservadoras – curto prazo, referenciado DI e renda fixa – destacam-se neste mês, com captação de R$ 14,25 bilhões, 89% de todos os recursos atraídos nas duas primeiras semanas de janeiro. O maior volume foi para os fundos de curto prazo (R$ 6,56 bilhões). Os referenciados DI atraíram R$ 4,67 bilhões, e as carteiras de renda fixa, R$ 3,02 bilhões.
Parte dessa captação pode ser atribuída ao ciclo de aperto monetário iniciado ontem pelo Banco Central (BC), que eleva a atratividade dos fundos conservadores. É preciso ressaltar, contudo, que, em janeiro, essas categorias recebem muitos recursos do setor público. O início do ano é marcado pelo recolhimento de tributos como IPVA e IPTU, o que turbina a arrecadação de Estados e municípios. Esses recursos são deixados em fundos conservadores para pagamento de gastos de curto prazo.
Enquanto as categorias conservadoras nadam em dinheiro, os fundos mais agressivos amargam perda líquida de recursos. Os fundos multimercados, por exemplo, perderam R$ 580,2 milhões na primeira quinzena de janeiro. Já os fundos de ações tiveram saída de R$ 3,156 bilhões no período. Parte expressiva desse valor (R$ 2,7 bilhões) deve-se, contudo, à reclassificação de oito carteiras da categoria ações para a previdência. Mesmo sem contar esse efeito, os fundos de ações amargam saída de cerca de R$ 450 milhões este ano.
Ao elevar a rentabilidade dos fundos DI, a alta da Selic diminui o apetite do investidor por aplicações mais arriscadas, sobretudo em ações, afirma Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos, empresa de aconselhamento financeiro. Ele lembra que as projeções da maioria dos analistas para o Índice Bovespa no fim do ano gira em torno de 80 mil pontos. Isso representa um ganho potencial por volta de 14%. Como a perspectiva do mercado, de acordo com o boletim Focus, é de que a Selic seja elevada até 12,25%, o prêmio exibido pela bolsa pouco parece atraente, afirma Lembi. “Com aumento de juros, não vale tanto a pena correr o risco da bolsa”, ressalta .
O desânimo do investidor local com a bolsa contrasta com o entusiasmo do estrangeiro. Este ano, até o dia 17, o saldo do capital externo na bolsa é positivo em R$ 2,04 bilhões. Como os juros lá fora tendem a permanecer em níveis muito baixos, o estrangeiro tem todo estímulo para apostar na bolsa brasileira.
Lembi também vislumbra um ano difícil para os fundos multimercados. As dúvidas sobre a extensão do ciclo de aperto monetário e a incerteza sobre a trajetória do câmbio serão um desafio para a capacidade dos gestores de multimercados em obter ganhos acima da renda fixa, alerta ele.
Fonte: Valor