No mundo da tecnologia, em que tudo costuma ser muito rápido, não é incomum que alguns países pulem determinados ciclos tecnológicos, simplesmente porque se atrasaram em sua adoção. Nesses casos, o que geralmente acaba acontecendo é partir direto para a etapa seguinte.
É esse o cenário dos serviços de acesso à internet em alta velocidade no Brasil. Enquanto mercados maduros conviveram durante muito tempo com a supremacia das conexões fixas, no Brasil o serviço de banda larga móvel já soma 27,9 milhões de acessos, representando quase dois terços do total de conexões em banda larga no país.
Nos primeiros seis meses do ano, as operadoras adicionaram 8,5 milhões de usuários de banda larga por meio das redes de celular, mostra estudo da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) divulgado na sexta-feira. No total, o mercado brasileiro conta com 43,7 milhões de conexões de banda larga móvel e fixa. O cálculo dos acessos móveis leva em conta os modens de acesso à internet e os celulares de terceira geração (3G).
O avanço das internet móvel é, em grande parte, uma questão de custo. Para levar conexões de banda larga fixa até a residência do consumidor é preciso instalar uma rede de cabos – um processo caro e demorado. A banda larga móvel também depende de uma infraestrutura física de fibra óptica – igualmente cara – para interligar as estações de transmissão entre si. Mas a comunicação com o usuário é feita pelo ar, o que dispensa esse aparato. O resultado é que os prestadores dos serviços móveis têm mais flexibilidade para reduzir preços que os do serviço de banda larga fixa.
Além disso, os serviços fixos estão ligados a assinaturas. Os móveis, não necessariamente. As operadoras têm feito ofertas para estimular o uso por meio de planos pré-pagos. A TIM, por exemplo, oferece acesso ilimitado por US$ 0,50 ao dia.
Em junho, a Telebrasil – associação que reúne operadoras e fabricantes de equipamentos – apresentou estudo no qual estima que o total de conexões de banda larga pode mais que triplicar no país nos próximos dez anos. Segundo o levantamento, feito pela consultoria LCA, as velocidades de acesso podem crescer de uma média de 1,7 megabit por segundo (Mbps) para mais de 12 Mbps na maioria das conexões.
De acordo com a LCA, serão necessários investimentos de R$ 144,6 bilhões, até 2020, para que essa expansão aconteça.
Um fator que pode contribuir para o aumento dos acessos de banda larga no país é o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), aprovado recentemente pelo governo federal. O programa exige a oferta de internet com velocidade de 1 megabit por segundo (Mbps) a R$ 35 por mês.
Para o plano surtir efeito, no entanto, é preciso definir prazos e critérios de implantação, afirmou ao Valor o diretor-executivo do SindiTelebrasil (sindicato que reúne as empresas do setor), Eduardo Levy. “As obras da Copa estão atrasadas e sabemos disso porque há uma data. Já o PNBL precisa ter um cronograma. Precisamos saber quando e como será implantado”, ressaltou.
Levy reconheceu que, apesar do crescimento do setor, ainda é necessário “melhorar muito” a qualidade dos serviços. O executivo observou que os contratos de banda larga oferecidos atualmente pelas teles não são aderentes ao Código de Defesa do Consumidor – as operadoras se comprometem a entregar apenas 10% da velocidade contratada pelos clientes.
No debate do PNBL, o governo queria que as teles entregassem ao menos 40% da velocidade contratual. A discussão desse percentual, que enfrenta a resistência das operadoras, está em suspenso.
Levy alertou que a exigência pode interferir na expansão da oferta de banda larga. Na prática, a regra impõe às teles a necessidade de mais investimentos para aumentar a capacidade da rede. Segundo o diretor-executivo do SindiTelebrasil, o preço do serviço pode aumentar. “A regra exige a expansão da oferta e pode impedir que outros entrem na brincadeira [como usuários de banda larga]. A conta não fecha”, afirmou.
O levantamento da Telebrasil mostra que o setor de telecomunicações chegou ao fim de julho com 286 milhões de assinantes de telefonia fixa, celular e banda larga – número nove vezes maior que o apresentado na época da privatização da Telebrás, um processo que completou 13 anos na sexta-feira. De acordo com o levantamento, o país contava com apenas 30 milhões de acessos de telefonia fixa e móvel em 1998. A banda larga ainda não era oferecida no mercado brasileiro.
Grande parte dessa expansão deveu-se aos celulares. As linhas de telefonia móvel, que naquela época somavam apenas 7,4 milhões, hoje chegam a 217,3 milhões.
Em pouco mais de uma década, as empresas do setor investiram R$ 235,3 bilhões na construção e ampliação da infraestrutura de telecomunicações do país. A arrecadação de impostos subiu de R$ 8 bilhões, em 1998, para R$ 41,6 bilhões no ano passado.
Paralelamente, as teles recolheram R$ 48,6 bilhões em taxas setoriais, referentes ao fundos de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) e de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel). Desse montante, apenas R$ 2,6 bilhões – ou 5,4% do total – foram efetivamente usados pelo governo em projetos do setor. O restante tem sido mantido no Tesouro para ajudar na composição das metas de superávit primário.
Fonte: Valor