Se não fossem as recompras de ações realizadas pelas empresas, provavelmente o desempenho do Índice Bovespa seria muito pior. No ano, até ontem, o Ibovespa acumula desvalorização de 23,33%. Diante da derrocada de preços, muitas companhias estão aproveitando para adquirir papéis próprios no mercado. E enquanto as empresas compram, o investidor local bate em retirada.
Dados da BM&FBovespa mostram que, no ano, até o dia 16, o saldo líquido (compras menos vendas) das empresas está positivo em R$ 5,862 bilhões. Só neste mês, as companhias realizaram compras no valor de R$ 1,360 bilhão até o dia 16, já que os dados da bolsa têm defasagem de dois dias.
Ontem, a Saraiva engrossou a lista de empresas que anunciaram programa de recompra. A empresa vai adquirir até 150 mil ações preferenciais (PN, sem voto) de sua própria emissão. O total corresponde a 0,8% dos papéis que estão em circulação no mercado (18,5 milhões de ações PN). Com isso, sobe para 48 o número de companhias com programas de recompra de ações em andamento.
Mas enquanto as empresas aproveitam o momento para comprar ações mais baratas, o investidor local parece não estar disposto a esperar para ver como essa crise vai acabar. As pessoas físicas, por exemplo, já retiraram pelo menos R$ 5,052 bilhões da bolsa no ano, dos quais R$ 444,926 milhões somente em agosto, até o dia 16. Em número de investidores, a bolsa já perdeu no ano 12.682 aplicadores, passando de 610.915 no início do ano para os atuais 598.233.
É bastante preocupante haver fluxo positivo apenas por parte das empresas, avalia César Crivelli, analista técnico da Citi Corretora. “Hoje, existem várias ofertas de recompra de ações em andamento e, quando essas recompras cessarem, quem vai segurar o mercado? Ninguém”, diz ele.
O mesmo movimento de venda de ações é visto entre os institucionais – fundos de pensão e seguradoras -, que já retiraram R$ 2,371 bilhões no acumulado do ano, dos quais R$ 918,559 milhões somente em agosto, até o dia 16.
Os investidores externos também registram saídas, embora em níveis bem menores do que os aplicadores locais. O saldo dos estrangeiros no ano está negativo em R$ 54,321 milhões, mas foi apenas nos últimos dias que as vendas superaram as compras. No mês, as saídas somavam R$ 343,170 milhões, até o dia 16.
Embora a chance de novas quedas não possa ser descartada, há oportunidades no mercado e esta pode ser a hora de o investidor ir às compras. É preciso, no entanto, separar o joio do trigo, comprando com muito cuidado e critério. “Do contrário, o investidor corre o risco de comprar um papel com fundamentos frágeis, só porque ele registra uma queda acentuada”, diz um gestor que preferiu não ter o seu nome citado.
Para se ter ideia, entre os papéis que compõem o Ibovespa, 12 caem mais de 40% no ano. Dentro desse grupo estão ações que caíram injustamente e, portanto, podem esboçar uma boa recuperação assim que o mercado melhorar. “Mas também há papéis que possuem motivos de sobra para terem apanhado com a recente deterioração da bolsa”, diz o gestor. “Tem papel que ficou barato e que merece ficar ainda mais.”
Na avaliação dele, as ações de Vale, Lojas Renner, B2W e algumas elétricas, como a Cesp, têm plenas condições de se recuperar e, portanto, se mostram como opções interessantes neste momento. Já papéis de companhias como Gol, TAM, Natura, Hypermarcas e Marfrig não possuem fundamentos suficientes para embarcar numa recuperação, diz ele. O investidor deve estar disposto a arriscar mais, comprando papéis como Gol e TAM, em momentos em que o mercado é mais fácil, diz o gestor. “Já em fases mais complicadas, em que tudo cai, não faz sentido arriscar tendo ações de empresas muito mais seguras valendo tão pouco.”
No mercado futuro, a maior parte dos estrangeiros acredita na queda do Ibovespa. Até ontem, as posições vendidas (que apostam na desvalorização do índice) superavam as compradas (que apostam na alta) em 105.473 contratos. Já as pessoas físicas tinham posição vendida em 285 contratos. Os institucionais, por sua vez, apostavam na alta e tinham posição comprada de 95.858 contratos.
Fonte: Valor