Enquanto engatinham em suas estratégias no segmento digital, os jornais brasileiros enfrentam um cenário diferente da queda de circulação apresentada por publicações dos Estados Unidos e da Europa: por aqui, a tendência é de crescimento. Só nos primeiros seis meses do ano, o volume de jornais cresceu mais de 4%, impulsionado pelos títulos gratuitos, que tiveram uma expansão de 12%, segundo o Instituto de Verificador da Circulação (IVC). Em algumas regiões do país a circulação de periódicos cresceu quase três vezes nos últimos quatro anos. “O papel ainda tem muitos anos pela frente”, disse Luiz Alberto Albuquerque, diretor-executivo do “Correio da Bahia”, que participou ontem do Seminário Internacional de Jornais, organizado pela International Newsmedia Marketing Association (Inma).

Com tiragem diária de 61 mil exemplares, o “Correio da Bahia” tem registrado crescimento do número de leitores desde 2007, segundo Albuquerque. O executivo explica que a expansão também aconteceu com os concorrentes: em quatro anos, a circulação de jornais na região metropolitana de Salvador passou de 49 mil para 133 mil. Com isso, o investimento no meio digital não é considerado prioritário.

O Valor, que desde 2010 vem investindo a transição para o mundo digital, também registrou crescimento. Nos últimos 12 meses, a tiragem aumentou 10%, afirmou Selma Souto, diretora de publicidade do jornal. “Precisamos estar no mundo digital porque nosso leitor pede isso. Mas acreditamos que o jornal impresso ainda vai existir por muito tempo”, disse a executiva durante o evento.

Segundo pesquisa do Datafolha, 73 milhões de brasileiros afirmam ler jornais. Desses, 21 milhões dizem ver algum periódico todos os dias. Na avaliação de Sérgio Dávila, editor-executivo da “Folha de S. Paulo”, as vendas de jornais representam 90% da receita dos grupos brasileiros, em média. Na Infoglobo, essa participação é de 96%, segundo Paulo Motta, editor-executivo da companhia. Para Ricardo Gandour, diretor de conteúdo de “O Estado de S. Paulo”, é preciso investir em inovações para o jornal em paralelo aos investimentos que são feitos na área digital. “Temos que aproveitar essa vantagem que o jornal impresso tem no Brasil e tirar o máximo de proveito disso”, disse o executivo.

A interpretação do mercado brasileiro é totalmente contrária ao que está acontecendo com o grupo espanhol “El País”. “O jornal impresso está morto. Ainda não sabemos quando isso vai acontecer de fato, mas a tendência é essa”, disse Víctor Arbáizar González, diretor de operações do jornal.
Fonte: Valor

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