Os discos rígidos (ou HDs, de hard disks) são muito mais sensíveis do que seu próprio nome sugere – eles não gostam que gritemos com eles. Pergunte ao engenheiro Brendan Gregg, da Sun Microsystems, que postou um vídeo no YouTube no qual ele grita diante de um rack de discos rígidos e, em seguida, mostra o correspondente aumento na latência, tempo que uma unidade leva para ler e gravar informações. Os dispositivos consistem em um pequeno braço pairando nanômetros acima de um disco em rápida rotação. Assim como a agulha de um toca-discos pula quando esbarramos no aparelho, os HDs cometem erros quando submetidos às chamadas microvibrações causadas por ondas de som ou movimentos nas imediações.
Isso não é um problema enorme quando se trata de um único laptop executando o Excel, mas as gigantes de internet, como Google e Facebook, estão cada vez mais acumulando em seus centros de dados racks de HDs do tipo usado por consumidores comuns para manter os custos baixos. Por não levar em conta as perdas de desempenho causadas pelas microvibrações, as empresas de tecnologia estão arcando com custos iguais aos valores que conseguem poupar, segundo Stephen Sicola, diretor de tecnologia da Xiotech. “Você está desperdiçando dinheiro, porque está quebrando coisas quando não precisaria”, diz ele. A porta-voz do Google Kate Hurowitz recusou-se a comentar o assunto. Michael Kirkland, um porta-voz do Facebook, diz que vibração “não é uma questão importante em nossas instalações”.
A Xiotech é uma das empresas novatas que alegam ter uma solução. Solucionar o problema das vibrações não requer material exótico: basta um bem concebido encapsulamento e apoios simples para amortecer impactos sobre os discos, diz Sicola. Juntamente com outros veteranos que trabalharam na Seagate Technology, uma fabricante de discos rígidos, Sicola fundou a Xiotech para vender racks de aço dotados de rigidez extra e amortecedores de borracha que em grande parte eliminam o impacto das vibrações, diz ele. Numa demonstração, os discos rígidos “acolchoados” da Xiotech somente apresentaram problemas de desempenho quando submetidos a enxurradas musicais de mais de 140 decibéis – intensidade sonora aproximada de um motor a jato.
A Green Platform, de Mountain View, Califórnia, oferece outra maneira de “acolchoar” um rack de discos de armazenamento. O fundador da empresa, Gus Malek-Madani, iniciou sua carreira projetando centrífugas numa empresa de biotecnologia. Cerca de 10 anos atrás, ele fundou uma empresa que emprega suportes de fibras de carbono para isolar sofisticados sistemas de áudio de vibrações. A Green Platform está adaptando essa ideia para o mundo dos centros de dados. Por valores entre US$ 1,5 mil e US$ 2 mil por mês, Malek-Madani aluga racks e softwares capazes de medir o impacto das vibrações, e diz que o equipamento proporciona uma economia de aproximadamente o equivalente a US$ 5,5 mil mensais em consumo de energia e equipamentos por rack.
A parte difícil é convencer as empresas de que o problema existe. “Se você vai a um centro de dados e pergunta se há problemas de vibração, perguntarão: ‘Do que você está falando?'”, diz Madani. Tradicionalmente, as unidades de disco são tão baratas que as empresas simplesmente as descartam quando elas apresentam defeitos, embora os HDs tenham encarecido 20% depois das inundações ao norte de Bangkok, onde muitos deles são fabricadas. “O primeiro desafio para qualquer pessoa preocupada com isso é que você precisa despertar a atenção das pessoas para essa questão”, diz Mark Peters, analista de tecnologia da informação (TI) na consultoria Enterprise Strategy Group. “É algo com que temos convivido há bastante tempo.”
Nem todos os operadores de centro de dados são ignorantes quanto ao problema. A Microsoft não usa as unidades de disco mais baratas nem abarrota os dispositivos de armazenamento em racks de grandes dimensões. E a companhia afere e empenha-se na manutenção dos equipamentos para amenizar os impactos de vibrações, diz Dileep Bhandarkar, arquiteto-chefe da Global Foundation Services, da Microsoft. “É preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre exagerar na minimização de custos e incorrer em problemas”, diz ele. “Nós nos prevenimos contra esse problema, em vez de termos de corrigi-los ‘a posteriori'”.
Fonte: Valor