No começo deste mês, o presidente da TIM, Luca Luciani, subiu a Rocinha ao lado de investidores e analistas para inaugurar uma antena de Wi-Fi que vai conectar os moradores da comunidade à internet móvel. Mais que um ato simbólico, o gesto ilustra como as teles começam a apostar nessa tecnologia para ampliar o acesso à web ao mesmo tempo em que economizam milhões de reais em investimentos.

As principais operadoras de telecomunicações do país desenvolvem projetos para instalar pontos de acesso Wi-Fi em locais como praças, parques, praias, estádios, bairros e avenidas movimentadas. A ideia é resolver dois problemas com uma tacada só: atender à crescente demanda dos usuários de smartphones e tablets por internet móvel e desafogar o tráfego das já congestionadas redes móveis de terceira geração (3G).

A TIM planeja instalar 10 mil “hotspots” Wi-Fi no país até o fim de 2012. A Oi comprou a Vex – a maior empresa do segmento – e trabalha em um projeto que vai transformar a banda larga fixa de seus assinantes em um ponto de conexão pública. O grupo mexicano América Móvil (Claro, Net e Embratel) está implantando uma rede de internet sem fio nas maiores cidades brasileiras. A Telefônica -Vivo, unificada, tem adotado uma postura cautelosa, mas também trabalha em seu modelo para o padrão Wi-Fi.

Todos esses projetos devem contribuir para mudar a percepção corrente de que Wi-Fi é um recurso para se ter em casa ou um benefício oferecido em aeroportos ou bares estilosos. Com a popularização de celulares, tablets e computadores capazes de acessar a internet via Wi-Fi, passou a fazer sentido para as operadoras usar essas redes como um complemento de 3G.

O conceito é simples. Nos locais onde há conexão Wi-Fi, o celular do cliente capta automaticamente os pontos de acesso de sua operadora em vez de fazer o tráfego de dados por meio da infraestrutura de 3G – que, assim, fica menos sobrecarregada. A ideia é que o usuário sequer perceba em qual rede está navegando. Para os assinantes, essa forma de conexão tende a garantir uma navegação com maior velocidade (o Wi-Fi distribui o sinal de banda larga de uma rede fixa, que quase sempre é mais rápida que a móvel). Para as teles, trata-se de uma maneira mais eficiente de administrar suas redes e de oferecer melhor qualidade a seus clientes.

“A gente vê a grande classe C querendo acessar a internet móvel [o que gera mais tráfego]. Em alguns locais, começa a ser inteligente usar o Wi-Fi”, afirma Rafael Marquez, diretor de marketing da Intelig – unidade da TIM que vai prover infraestrutura de banda larga para o Wi-Fi da operadora.

Em locais de grande concentração de pessoas, instalar um ponto de acesso de Wi-Fi pode sair até dez vezes mais barato que expandir a cobertura de 3G. “É uma questão de dezenas de milhares de dólares contra centenas de milhares”, afirma Rodrigo Dienstmann, diretor de operadoras da Cisco – fornecedora que está por trás de alguns dos projetos de Wi-Fi das teles. Por isso mesmo é que a tecnologia vem se tornando tão atrativa.

No começo de 2011, pouco se falava nessa possibilidade. Porém, o crescimento vertiginoso do tráfego de dados nas redes de telefonia móvel levou as operadoras a ver no padrão Wi-Fi um caminho para reduzir os congestionamentos – que, além de custar caro, são capazes de irritar até o mais zen dos assinantes. “As teles estão olhando para essa alternativa até porque a receita não cresce na mesma proporção que o tráfego”, afirma Dienstmann.

O movimento ainda é incipiente. A base de “hotspots” Wi-Fi instalada no Brasil é pequena – há um ponto de acesso para cada 50 mil habitantes. A proporção é 15 vezes menor que a existente nos EUA, segundo levantamento da JiWire, empresa de tecnologia para publicidade móvel. No entanto, a entrada das teles nesse mercado tende a multiplicar a oferta, já que elas têm presença nacional.

A maior parte dos “hotspots” disponíveis no país corresponde à rede da Vex, empresa que a Oi adquiriu, em julho, por R$ 27 milhões. Muitos deles estão instalados em hotéis e nos aeroportos e estão disponíveis para uso pontual de viajantes que passam por ali.

Porém, a intenção da Oi é expandir a rede de “hotspots” e torná-la acessível a qualquer assinante da companhia. “Uma operadora tem de conectar as pessoas da melhor forma e o Wi-Fi é mais uma tecnologia de acesso à internet”, afirma o diretor de inovação e novos negócios da Oi, Pedro Ripper.

Para isso, a operadora trabalha em três frentes. Uma delas foi a compra da Vex. A segunda é a instalação de pontos de acesso em ruas, praças e até na praia – nesse caso, a tecnologia usada chama-se WiMesh, uma versão do Wi-Fi mais potente e de maior alcance. As primeiras antenas já foram instaladas e o objetivo é cobrir a cidade do Rio até o próximo mês. O terceiro projeto da Oi prevê o compartilhamento da banda larga fixa que seus clientes têm em casa para formar uma rede pública de Wi-Fi.

A Oi planeja oferecer Wi-Fi de forma gratuita para os assinantes de planos pós-pagos de banda larga fixa a partir de 5 megabits por segundo (Mbps), ou para assinantes de modens de internet móvel. Para os demais clientes, a operadora vai criar pacotes específicos.

A proposta da TIM é diferente. O Wi-Fi poderá ser acessado sem custo adicional por todos os usuários dos serviços de dados da operadora. O aparelho dos assinantes vai se conectar à melhor rede disponível em cada momento – 3G ou Wi-Fi.

Na Claro, o modelo ainda não está finalizado. Por enquanto, o Wi-Fi está disponível gratuitamente para os assinantes do pacote multisserviços que a operadora lançou em parceria com a Net e a Embratel. No início de 2012, o grupo vai definir o roteiro de expansão da rede – hoje disponível em alguns bairros de São Paulo – e o modelo de negócio. “O objetivo é atender à demanda por conexão o tempo todo. Mas, no futuro, poderemos usar a rede para fazer ações de marketing direcionadas a clientes que estiverem usando o Wi-Fi, por exemplo, em um estádio”, afirma Fiamma Zarife, diretora de serviços de valor agregado da Claro.

Até agora, a Telefônica – Vivo é a operadora que está mais discreta em relação ao Wi-Fi. No entanto, o Valor apurou que a companhia está em negociação com fornecedores da tecnologia. O primeiro passo deverá ser a extensão, aos assinantes da Vivo, da rede Wi-Fi que a Telefônica oferece aos seus clientes em aeroportos. O diretor de marketing móvel da operadora, Daniel Cardoso, afirma que não há prazo para isso acontecer. Fonte:Valor

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