Num ano em que as aplicações em renda variável decepcionaram boa parte dos investidores, a renda fixa ganhou terreno na carteira dos aplicadores. Tanto que o Tesouro Direto – sistema de compra e venda de títulos públicos via internet – caminha para encerrar 2011 como o melhor ano desde que foi lançando, em janeiro de 2002. Só para se ter ideia, no acumulado do ano até novembro, o número de novos investidores cadastrados já supera o total visto em todo 2010.
O total de novos cadastros neste ano, de 57.282, até novembro, é 43,20% superior aos 39.999 aplicadores que aderiram ao programa em todo 2010. Mas não foi apenas o número de investidores que cresceu. As vendas também estão maiores. Somente neste ano, R$ 3,229 bilhões de títulos foram vendidos ante R$ 2,022 bilhões no mesmo período do ano passado (ou R$ 2,235 bilhões em todo 2010).
O que se vê é que os pequenos aplicadores são a maioria daqueles que aderem ao programa. Em novembro, por exemplo, o volume de vendas até R$ 5 mil representava uma fatia de 62,3%. Quando considerada as aplicações até R$ 10 mil, essa fatia sobe para 76,4%. O valor médio por operação, em novembro, foi de R$ 12.939.
E essa popularização do Tesouro deve aumentar ainda mais. Isso porque, a partir do ano que vem, vai ficar mais barato e mais fácil investir no sistema. Se hoje com cerca de R$ 100,00 já é possível aplicar no programa, será permitido fazer o mesmo com apenas R$ 30,00. Além disso, o valor máximo também será alterado, passando dos atuais R$ 400 mil por mês para R$ 1 milhão.
A forte volatilidade da bolsa neste ano fez com que os aplicadores dessem prioridade a ativos de menor risco, como os títulos públicos, o que contribuiu para popularizar o Tesouro Direto, diz Rodrigo Menon, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. “Os investidores estão se informando cada vez mais e, com isso, buscando alternativas mais interessantes e baratas em relação a muitos dos fundos de investimento mais conservadores”, afirma.
E as novidades no Tesouro Direto no ano que vem vão além. Em julho de 2012, o investidor poderá agendar compras ao longo de um período definido, com o valor e a frequência desejada por ele. Essas aquisições poderão ser de um único tipo de título ou de uma cesta de papéis. Será possível também fazer agendamentos de vendas.
Isso significa que um pai que decidir fazer uma poupança de longo prazo para pagar a faculdade do filho poderá programar aplicações até chegar a um valor de R$ 300 mil, por exemplo. Além disso, será possível reaplicar automaticamente os recursos provenientes de pagamento de juros (cupom) ou quando ocorrer o vencimento do papel.
Os números mostram ainda que o estoque total do Tesouro Direto, que representa os títulos públicos em poder dos investidores do programa, somava R$ 7,2 bilhões – alta de 3,6% sobre o mês anterior e um crescimento de 62,4% em relação a novembro de 2010. Os papéis remunerados por índices de preços respondiam pelo maior volume no estoque, de 51,5% no mês passado. Em seguida, aparecem os títulos prefixados, com participação de 35%. Já a parcela dos papéis indexados à taxa Selic era de 13,5%.
O alongamento da dívida também fica evidente quando se observa o prazo de vencimento dos títulos comprados pelos investidores do programa. Os títulos com vencimento superior a cinco anos corresponderam em novembro a 51,3% do total vendido. Já as vendas de papéis com prazo entre um e cinco anos representaram 48,8% do total.
Fica claro também o crescimento da predileção dos investidores pelas Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) Principal – papel com rentabilidade vinculada à variação do IPCA com pagamento de juros somente no vencimento. No fim do ano passado, o estoque desses títulos somava 23,1%, fatia que subiu para 27,8% em novembro.
Para os investidores que podem alongar o prazo de resgate, a aplicação em NTN-B com vencimento em maio de 2017 se mostra interessante, avalia Menon, da Beta. Na segunda-feira, esses papéis pagavam 5,39% além da variação do IPCA. “E acredito que esse nível de juro real não vai mais existir daqui a três anos”, afirma ele.
Com a tendência de queda da taxa básica de juros, houve crescimento no estoque em poder dos investidores do programa de Letras do Tesouro Nacional (LTNs) – títulos com taxa prefixada. Ao fim de 2010, esses papéis somavam 23,8% do estoque, percentual que foi elevado para 25,7% em novembro.
Fonte: Valor