Mesmo depois de ter declinado substancialmente, o juro básico ajustado pela inflação (ex-post) no Brasil é ainda dois pontos percentuais acima da dos países emergentes que utilizam o sistema de metas de inflação. Um estudo do FMI avalia sumariamente as causas e conclui que a baixa poupança doméstica é uma das principais razões para isso. A melhor forma de fazê-lo é dar prioridade à melhoria da posição fiscal, cujo efeito “é três vezes maior do que o que seria obtido com aumento equivalente na poupança privada”.

Há margem substancial para o aumento da poupança doméstica, embora pelos padrões históricos do Brasil não seja factível ambicionar o modelo dos emergentes asiáticos, como Coreia do Sul e Tailândia, onde esse indicador atinge 30% do PIB. Mas elevar a poupança brasileira, que em 2009 (último ano da série do estudo) era de 16,5%, para o nível mexicano (22,6% do PIB) já seria uma grande passo à frente. No modelo utilizado, isso poderia produzir um declínio na taxa de juros real de dois pontos percentuais. Se o nível de poupança interna fosse idêntico ao coreano, os juros encolheriam de 4 a 5 pontos percentuais.

A média do juro real ex-post no Brasil de 2000 a 2009 foi de 9,5%, pouco superior à da Turquia e também a maior dos emergentes analisados, além dos dois citados, Colômbia, México, Polônia, Romênia, Peru, África do Sul, Hungria, Filipinas, Coreia, Chile, Indonésia, Republica Tcheca e Tailândia.

Os cinco últimos países obtiveram média de 1% ou menos. A taxa brasileira é 4 pontos percentuais maior que a dos demais países da amostra nesse período, mas mesmo com ajustes feitos para considerar vários fatores, ela ainda era dois pontos percentuais superior. Isso levantou a hipótese de que explicações possíveis para os juros serem mais altos no Brasil não terem sido contempladas no modelo utilizado.

A principal hipótese do autor é a de que isso seja efeito dos empréstimos públicos a taxas subsidiadas (BNDES, agrícola etc), embora essa hipótese não possa ser testada empiricamente por falta de dados. “Embora esse tipo de crédito tenha sido a mais eficiente ferramenta contracíclica usada pelas autoridades brasileiras no período pós-Lehman, o uso em tempos normais deve ter em conta de que ele pode também reduzir o mecanismo de transmissão da política monetária e contribuir para uma maior taxa de juros de equilíbrio”, conclui.

Fonte: Valor

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