Enquanto a tendência para as ações dos setores de commodities – petróleo, siderurgia e mineração – segue rodeada de incertezas, bancos e corretoras buscam alternativas menos óbvias, que possam se beneficiar da retomada da expansão da economia local e, portanto, com perfil um pouco mais conservador.
Em oposição aos papéis dependentes dos ciclos econômicos globais, o Deutsche Bank, por exemplo, aponta para o que chama de ‘ações cíclicas de melhor qualidade’ – a metalúrgica Gerdau em destaque, ao lado de um grupo de empresas fabricantes de autopeças e outros bens de capital, que inclui Mahle Metal Leve, Randon, Iochpe e também a fabricantes de aviões Embraer.
A percepção do Deutsche é que todos esses papéis, em especial as ações da Gerdau, podem se beneficiar indiretamente dos novos investimentos anunciados pelo governo em infraestrutura. Daí a opção de escolhê-los em detrimento das ações cíclicas e de construtoras. “Gerdau tem sido um de nossos nomes favoritos no Brasil, além de um consenso entre os investidores locais”, diz o Deutsche em relatório.
Na mesma linha, a corretora Ativa voltou a incluir os papéis da Gerdau em sua carteira semanal de investimentos por acreditar que o papel tem perspectivas mais favoráveis que seus pares, em meio a um cenário positivo para o segmento de aços longos e potenciais investimentos em infraestrutura no Brasil. “Fora o ‘driver’ positivo de curto prazo da monetização dos seus ativos de mineração, que não estão corretamente precificados pelo mercado”, afirma a equipe.
Para a Ativa, a oportunidade de compra foi aberta pela forte queda do papel na última semana, ocorrida em razão de um movimento de realocação de portfólio dentro do setor, que deverá ser revertido no curto prazo.
Entre as empresas fabricantes de autopeças, a casa de análise Empiricus também coloca em destaque os papéis da Metal Leve e da Autometal, os quais podem ser beneficiados por uma eventual prorrogação da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros por mais dois meses.
O mau humor com relação às empresas cíclicas, contudo, não é generalizado. Em relatório divulgado ontem, a Citi Corretora reduziu o preço-alvo para os ADRs (os recibos de ações negociados no mercado americano) da Petrobras para US$ 28, mas manteve a recomendação de compra para o papel. “Nosso preço-alvo reflete os riscos de um potencial aumento de capital em função dos níveis de alavancagem da companhia, mas mantemos a recomendação de compra, pois acreditamos que a Petrobras conta com um dos ativos mais subavaliados do mundo”, diz o Citi.
A eventual necessidade de mais capital compõe o pior cenário do Citi para a companhia – com 40% de chance de vir a se realizar. O cenário-base, no entanto, inclui uma recuperação na paridade dos preços de combustíveis, o que asseguraria à companhia não precisar cortar investimentos ou levantar capital. Para as ações ordinárias da empresa, as preferidas do Citi, o preço-alvo é de R$ 28,28, um potencial de alta ao redor de 28,5% sobre o preço de ontem do papel.
As percepções diversas dos investidores com relação à trajetória dos setores mais sensíveis à recuperação da economia global, e também de toda a bolsa, se refletem em pelo menos dois relatórios de pesquisa divulgados na semana passada.
Com foco mais no curto prazo, pesquisa do Deutsche Bank com investidores locais sugere um tom menos otimista em relação à recuperação econômica no terceiro trimestre e ao impacto disso sobre os resultados das empresas. Em conversas com investidores locais, os estrategistas Frederick Searby e Francisco Schumacher identificaram uma grande divergência entre os setores preferidos pelo chamado “buy side” (gestores de carteiras), refletindo as incertezas a respeito da expansão da economia e a grande valorização das ações do varejo – até então as “queridinhas” da bolsa, o que diminuiu o potencial de retorno desse segmento. Em linhas gerais, no entanto, o sentimento ainda é bastante negativo em relação às chamadas ‘blue chips’, Vale e Petrobras.
Focada em um prazo mais longo, pesquisa da Citi Corretora com investidores também divulgada na semana passada apontou que o sentimento em relação às ações brasileiras continua positivo. O ‘buy side’ – bem menos humorado na pesquisa do Deutsche – aqui dá mostras de otimismo. Para 52% dos entrevistados, o Ibovespa deve alcançar os 65 mil pontos em meados de 2013. Outros 20% veem o índice em 70 mil pontos em igual período. O Brasil é o mercado mais atrativo da América Latina para 37% dos entrevistados, seguido por Peru e México. Os setores financeiro e de consumo terão os melhores desempenhos até o fim do ano.
Falando em setor financeiro, o próprio Deutsche revisou para cima as expectativas para o setor, com preferência para Itaú Unibanco, Banco do Brasil, BTG Pactual e Bradesco.
Fonte: Valor