Uma recente pesquisa da consultoria britânica Informa Telecoms & Media revelou que, até o fim do ano, o número de mensagens de celular enviadas por aplicativos gratuitos, como o WhatsApp, vai representar o dobro dos torpedos transmitidos no mundo. Os usuários têm optado pelos aplicativos via internet no lugar do serviço de mensagens curtas (ou SMS, na sigla em inglês), por conta da gratuidade. Em média, mostra a pesquisa, as pessoas mandam cinco torpedos por dia, contra 33 mensagens via aplicativos.

Essa é uma má notícia para as teles, que veem uma fonte de receita importante minguar. No Brasil, o cenário é diferente. Dados da consultoria Frost & Sullivan, levantados a pedido do Valor, indicam que o negócio com SMS cresceu 20,9% no ano passado, para R$ 5,2 bilhões. “Nos últimos dois anos, as operadoras passaram a oferecer o SMS dentro de um pacote de serviços, e não cobrado à parte, como costuma ser feito no exterior”, afirmou Renato Pasquini, consultor da Frost & Sullivan. “Isso diminui bastante o custo médio do torpedo, o que desestimula a migração para os aplicativos gratuitos”.

Há outro motivo que ameniza a ameaça dos aplicativos gratuitos no Brasil. Os programas precisam de smartphones para funcionar, mas esses equipamentos ainda são minoria no país. A maior parte da base é de telefones menos sofisticados, que não comportam os aplicativos, disse o consultor Jorge Monteiro, da Superfones. De acordo com a consultoria Nielsen, só 36% dos aparelhos móveis no país são smartphones.

Apesar da situação mais confortável, as operadoras estão investindo em novidades para evitar o desinteresse do público. Isso inclui oferecer dicas de carreira, conselhos de saúde e até cursos de inglês – tudo por mensagens curtas no celular. Foi criado até o modelo do torpedo a cobrar, que custa R$ 0,45 a mensagem, de uma operadora para outra.

“No Brasil, o SMS está longe de atingir a estagnação”, afirmou Roberto Guenzburger, diretor de mobilidade da Oi. Na operadora, são enviados cerca de 1,6 bilhão de SMS por mês, uma média de 90 mensagens por usuário. “Cerca de 40% da minha base usa SMS.”

Na Oi, a receita com torpedos cresceu 26,5% entre março de 2012 e março deste ano. O que mais contribuiu para isso foi a oferta de pacotes ilimitados. Quem tem um smartphone, por exemplo, pode pagar R$ 79 por mês para falar 60 minutos com qualquer operadora e mandar quantos torpedos quiser, inclusive para a concorrência. É uma maneira de a Oi inibir o interesse do usuário em aderir aos aplicativos gratuitos. Guenzburger diz que a operadora tem boa rentabilidade na venda do pacote, mesmo com o torpedo de graça. “Quando o usuário troca voz por SMS, a empresa economiza no investimento em rede”, afirmou.

No ano passado, a Oi começou a oferecer cursos de inglês por SMS. Em maio deste ano, ampliou o serviço com novas modalidades: português, qualidade de vida e direitos do consumidor (a R$ 1,99 por semana). Outra novidade, a ferramenta “tradutor”, custa R$ 0,22 por palavra.

A Vivo reagrupou seu conteúdo de educação, em maio, em um portal na web. No caso do SMS, as mensagens transmitidas semanalmente, a R$ 2,99, são variadas: vão de lições de gramática do professor Pasquale Cipro Neto a cursos de vinho e dicas de como cuidar do animal de estimação. Há sugestões do consultor de carreiras Max Gehringer e do médico Drauzio Varella. “Hoje, 6 milhões de clientes acessam o conteúdo da Vivo”, disse Christian Gebara, diretor de mercado individual da Vivo. “É uma forma de trazer valor à conexão e manter o interesse no SMS”.

No México, com uma base de assinantes similar ao do Brasil, o consumo de torpedos é três vezes maior, disse o diretor de roaming da Claro, Alexandre Olivari. “Para incrementar o uso, adotamos no início de 2012 um preço fixo para torpedos ilimitados para qualquer operadora”, disse. O cliente do pós-pago paga R$ 11,90 ao mês e, o do pré-pago, R$ 0,50 ao dia. O número de mensagens mais do que dobrou, para 2,5 bilhões ao mês no fim do ano passado. Agora a empresa está “exportando” o torpedo a cobrar para sua controladora, a mexicana América Móvil.

Fonte: Valor

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