O segundo semestre começou sem alívio para os fundos do tipo renda fixa índices. As carteiras mais rentáveis de 2012 perderam 0,42% nas duas primeiras semanas de julho e já acumulam prejuízo de 4,28% no ano. A expectativa de alta dos juros continua a trazer perdas para os papéis que essas carteiras carregam – NTN-Bs, títulos que pagam uma taxa prefixada mais a inflação. Os gestores estão divididos. Parte considera que houve um exagero nas perspectivas para a alta da taxa, o que poderia ser revertido no segundo semestre, trazendo retornos positivos a essas carteiras. Do outro lado, há os acreditam que um novo patamar veio para ficar, principalmente devido a uma conjuntura internacional de menor liquidez. As primeiras semanas de julho ainda pendem mais para a segunda tese.
Os resultados no Tesouro Direto, sistema de negociação de títulos na internet, mostram que as taxas não só não caíram, como em alguns casos foram ainda mais longe. A taxa real da NTN-B com prazo mais longo, que vence em 2050, marcou o segundo pico anual, de 5,82%, na última sexta-feira. É bom lembrar que esse mesmo papel chegou a pagar apenas 3,88% em janeiro.
Huang Kuo Seen, superintendente de gestão da Mapfre Investimentos, continua a prever um desempenho melhor para os fundos de inflação no segundo semestre. Diz, entretanto, que o movimento será gradual. “Acho que é possível vermos retornos positivos, mas ainda com muita volatilidade no meio do caminho”, afirma.
Por outro lado, Kuo Seen chama a atenção para uma redução nos prêmios dos títulos que pagam uma taxa prefixada. As LTNs com vencimento em 2015, por exemplo, que abriram o segundo semestre com retorno nominal de dois dígitos, chegaram a 9,6% ontem. Nesse caso, diz o superintendente, houve um ajuste nas expectativas para a inflação. “O mercado ainda estava trabalhando com um cenário de inflação pressionada, que cedeu aos poucos, com um tom mais firme do Banco Central”, afirma.
O recuo nas taxas prefixadas deixou no positivo os fundos renda fixa, que em geral carregam LTNs. O retorno em julho, até o dia 12, é de 0,22%. Ainda assim, perde no período para o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), de 0,30%.
Para as LTNs mais longas, com vencimentos em 2016 e 2017, o ganho nominal permanece em dois dígitos. “Ainda enxergamos bastante prêmio, principalmente nos títulos longos, mas isso não vai acontecer da noite para o dia. Vai vir ao longo do segundo semestre”, diz Kuo Seen.
Para José Carlos Carvalho, sócio da Paineiras Investimentos, ainda que à primeira vista os prêmios pareçam altos, é preciso ter cautela, dada a virada no cenário. “A gente acha que uma taxa de juros de dois dígitos no passado é muito diferente de uma taxa de dois dígitos hoje”, afirma.
Em 31 de agosto, quando o Banco Central (BC) deu início à queda dos juros – e os títulos prefixados rendiam fartos dois dígitos -, o contexto era outro, diz Carvalho. A inflação entrava em uma trajetória de queda, com o IPCA chegando a 4,9% em junho de 2012. Além disso, os bancos centrais do mundo todo despejavam liquidez nas economias, derrubando taxas de juros por todo lado. Na mesma linha, o BC brasileiro entrava em um caminho de corte da taxa. “Nesse cenário, uma taxa de dois dígitos era um bom negócio”, afirma.
Hoje é diferente, considera Carvalho. A onda de liquidez global começa a refluir, puxada pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano). A tendência, diz, é de um dólar mais forte e de um real ainda mais fraco, o que deve pressionar a inflação brasileira para cima. Isso pode levar o BC a subir juros, diz, por um período mais longo do que gostaria. “10% naquele cenário era muito. No cenário de hoje talvez não seja”, afirma Carvalho.
Enquanto não é consensual se a alta recente das taxas trouxe oportunidades na renda fixa, a incerteza sobre o fundo do poço na bolsa permanece. E se reflete nas carteiras. Nas duas primeiras semanas de julho, todos os tipos de fundos de ações ficaram, na média, no campo negativo. O maior prejuízo foi das carteiras de small caps, com papéis menos líquidos, de 3,64%.
Apenas cinco tipos de fundos bateram no período o CDI, custo de oportunidade do investidor – DI, “long and short”, multimercados multiestratégia e cambiais. Ainda de carona na alta do dólar, as carteiras cambiais continuam como as mais rentáveis no segundo semestre. Elas renderam 1,88% nas duas primeiras semanas de julho e acumulam ganho de 11,34% no ano.
É também dos fundos cambiais o melhor desempenho em 12 meses, de 11,9%, seguidos de perto pelos long and short, com 11,37%, favorecidos pela possibilidade de apostar contra ações e aproveitar a volatilidade do mercado para fazer operações de arbitragem.
Fonte: Valor