A grande oportunidade para a tecnologia de tela sensível ao toque surgiu em 2007, com o lançamento do iPhone. O sucesso do smartphone da Apple – dotado de uma interface que permitia uma navegação rápida, intuitiva, na internet – levou a maioria dos concorrentes a adotar prontamente a tecnologia, o que remodelou o setor em torno de movimentos de pinça, para ampliar, e de rolagem. Com a previsão de amplos círculos de analistas de que o próximo modelo do iPhone trará uma leitora de impressões digitais, os fabricantes de aparelhos de segurança biométrica estão usufruindo de grandes saltos nos preços de suas ações. Os investidores apostam que outros fabricantes de telefones vão adotar rapidamente os identificadores físicos como substitutos das senhas e nomes de usuários convencionais.

A Apple adquiriu a fabricante de leitoras de impressões digitais AuthenTec por US$ 350 milhões, no ano passado. Pouco depois, a empresa recém-adquirida deixou de vender seus produtos às concorrentes da Apple, entre as quais a Hewlett-Packard, a Dell, a Lenovo e a arquirrival em celulares Samsung. A Apple vai apresentar uma nova versão do iPhone no mês que vem, de acordo com pessoa bem-informada sobre os planos da empresa, que não foi autorizada de falar sobre eles publicamente.

A ABI Research e a KGI Securities Thailand estão entre as empresas de pesquisa de mercado que dizem que o aparelho terá uma leitora de impressões digitais para acelerar os pagamentos eletrônicos e a recuperação de arquivos de música, documentos e outros da armazenagem remota em nuvem. A Apple preferiu não comentar. “Consideramos que o iPhone continuará a superar os telefones Android e o Windows Phone por ampla margem em tecnologia de leitura de impressões digitais e design”, escreveu o analista Ming-Chi Kuo, da KGI, em nota de pesquisa. “Nessa condição, a Apple, provavelmente, conseguirá oferecer aos usuários uma maneira mais segura e mais intuitiva para realizar transações de pagamento, e acesso aos serviços de computação em nuvem por celular.”

Apple adquiriu a fabricante de leitoras de impressões digitais AuthenTec por US$ 350 milhões, no ano passado

Outras fabricantes de smartphones e tablets adquiriram um novo interesse pela biometria após a compra da AuthenTec pela Apple, diz Thomas Marschall, principal executivo da fabricante sueca de leitoras de impressões digitais Precise Biometrics. “Todas as concorrentes procuram alternativas para se equiparar à Apple”, diz ele. “Estamos acelerando as turbinas na ponta da produção industrial nos Estados Unidos” (ele preferiu não fornecer números específicos.). As ações da empresa de Marschall quase dobraram de valor desde o anúncio do negócio da AuthenTec, em julho de 2012; os papéis da Fingerprint Cards, outra empresa sueca de biometria, tiveram sua cotação multiplicada por dez, e as ações da empresa norueguesa de biometria Idex mais do que quadruplicaram de valor.

Empresas de biometria como a Gemalto, a Morpho e a Oberthur Tecnologies já estão experimentando algum sucesso, na medida em que governos e bancos começam a adotar leitoras de impressões digitais e de retina e sistemas de reconhecimento facial. Em abril, a empresa de pesquisa SmartMetric disse que o mercado mundial de leitoras de impressões digitais vai movimentar sozinho mais de US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos. O fundador e vice-presidente-executivo da Morpho, Bernard Didier, cuja empresa emite carteiras de motorista com chips biométricos em 42 Estados americanos e vende para governos que vão desde a Albânia até o Chile, diz que a complexidade dos documentos de identidade emitidos pelos governos continuará a aumentar.

O principal executivo da Gemalto, Olivier Piou, afirma que o governo de Omã, um de seus clientes, acrescenta selos de impostos, de estacionamento e de pagamento eletrônico de pedágio a seu documento de identidade biométrico. As ações da Gemalto, sediada em Amsterdã, deram um salto de 41% nos últimos 12 meses; os papéis da Safran, mantenedora da Morpho, dispararam 52%.

As fabricantes de leitoras, no entanto, tiveram problemas em introduzir o recurso nos telefones celulares. Sistemas de identificação pelas impressões da palma da mão e digitais de uso intensivo empregam leitoras ópticas grandes e onerosas demais para serem embutidas em um smartphone, e mesmo os sistemas encontrados em muitos laptops voltados para o consumidor têm pouca vida útil. Em fevereiro, o Pentágono assinou um contrato de US$ 3 milhões com a empresa de biometria AOptix, com sede na Califórnia, para desenvolver um dispositivo para smartphones que possibilite aos soldados escanear rostos, olhos, vozes e polegares das pessoas.

Para os consumidores, a identificação biométrica ainda não chegou aos pagamentos por celular e a outros empregos de praticidade suficiente para tornar seu uso indispensável, diz Francisco Jeronimo, analista da empresa de pesquisa de mercado IDC. “A única maneira de essa tecnologia se tornar dominante é que agregue, verdadeiramente, valor para os usuários”, diz Jeronimo. “É uma aposta arriscada.”

O primeiro smartphone Atrix da Motorola, vendido pela AT&T dois anos atrás, tinha uma leitora de impressões digitais, mas essa tecnologia não estava presente no Atrix 2, lançado posteriormente, em 2011. “Está longe de ser certeza que a biometria é a próxima tecnologia a ser considerada de uso obrigatório”, afirma Neil Mawston, diretor-executivo da empresa de pesquisa Strategy Analytics.

A Apple é uma das empresas mais bem-preparadas para vencer os céticos, diz o principal executivo da Fingerprint Cards, Johan Carlström. Se “a Apple conseguir fazer sua solução de impressão digital funcionar de maneira perfeitamente integrada e oferecer uma ótima experiência ao usuário, [a biometria] significará uma mudança de paradigma”, diz ele. (Tradução de Rachel Warszawski)

Fonte:Valor

Write A Comment

Bitnami