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Mais do que consciência ambiental, a individualização da conta de água no condomínio traz o benefício da justiça social

Viver em condomínio implica ter que dividir espaços, decisões, responsabilidades e gastos, que estão resumidos na cota condominial. Depois do salário dos funcionários, a conta de água é a maior fonte de despesas no rateio. Mas isso vem sendo alterado em função da individualização de água. Com a medida, cada unidade paga apenas pelo seu próprio consumo.

Economia e consciência – Embora as discussões sobre o uso consciente do recurso natural estejam se tornando cada vez mais frequentes, o aspecto financeiro e a justiça social são comumente apontados por síndicos e moradores como os maiores benefícios da individualização.

“De cinco anos para cá, as pessoas têm se preocupado mais com o uso racional da água. A individualização apresenta o real consumo de cada unidade, mas o item número 1 [para a implantação do sistema] é a questão da justiça social”, afirma o gerente de negócios da CAS Tecnologia e especialista em técnicas de medição de água, Marco Aurélio Teixeira.

Para ele, a questão da consciência está atrelada à financeira. Isso porque quando toma conhecimento do quanto a sua unidade consome e o gasto que esse consumo gera, o condômino passa a avaliar melhor a utilização do recurso natural.

“Há o desperdício puro por falta de informação. As pessoas desconhecem, por exemplo, a pressão de água nos prédios. Nos apartamentos há maior pressão da água por conta da distância da caixa d’agua. Então a pessoa instala um chuveiro de grande vazão de água e isso aumenta muito o consumo”, explica Teixeira.

O especialista afirma que após a individualização, a conta de água pode se tornar 25% mais barata. “Há casos de até 48% de economia”, diz.

Implantando o sistema – No caso de condomínios mais antigos, o processo pode ser mais complicado, já que as adaptações são mais complexas, como explica o Engenheiro e diretor da Metragen, Marco Aurélio de Toledo Arruda.

“Nos condomínios novos já existe uma estrutura para receber esse sistema. Isso já está no projeto. No caso da instalação em um prédio mais antigo, normalmente existe a necessidade de mais hidrômetros e requer que seja feita uma abertura na parede”, diz.

De acordo com Arruda, em condomínios mais novos, a instalação do sistema, além de rápida, não causa nenhum transtorno aos moradores, já que exige apenas que o profissional permaneça na unidade por cerca de 20 minutos.

Tanto Teixeira quanto Arruda afirmam que os condomínios que mais têm procurado a medição individualizada são os residenciais.  Para Teixeira, isso se dá, principalmente, em função da justiça social. “Hoje todos pagam o mesmo valor na conta de água. Mas há diferença do número de pessoas na família”, diz.

José Airton Sosiatti é gerente de diversos condomínios residenciais de São Paulo onde os moradores recebem contas individuais. Ele conta que os condomínios que administra, por serem mais novos, já tinham uma estrutura que facilitou a instalação do sistema.

Sosiatti confirma que a implantação da medida causa redução no consumo. “É possível identificar os moradores que consomem mais, possíveis vazamentos etc.”, explica.

Passo a passo – Mas qual é o procedimento para instalar o sistema? O primeiro passo é a decisão em assembleia, já que a medida deve ser aprovada pela maioria absoluta dos condôminos (50% dos votos mais um). O condomínio pode optar por duas modalidades de individualização: a que é homologada pela Sabesp e a que não é.

No primeiro caso, deve-se entrar em contato com a concessionária e informar o interesse pela individualização. O condomínio então recebe um formulário e responde ao contato de um funcionário da empresa para agendar uma visita ao prédio, onde são analisados os reparos necessários.

Em seguida, o processo de individualização é feito por uma empresa terceirizada indicada pela própria Sabesp, e a emissão das contas é feita por ela ou por um sistema de radiofrequência.

Já no caso do sistema que não é homologado, a contratação da empresa que presta o serviço de individualização fica a cargo do próprio condomínio. A empresa não tem nenhum vínculo com a Sabesp e as contas de água são emitidas pela administradora.

Obrigatoriedade – Em alguns Estados e municípios do Brasil a instalação de hidrômetros individuais é obrigatória. Em Recife, por exemplo, a obrigatoriedade está prevista desde 2002 pela Lei 16.759/2002.

No caso de São Paulo, já houve um projeto de lei para estabelecer a medição individualizada em prédios novos e antigos (PL 551/03), mas ele foi vetado pelo então governador José Serra em 2007.

Apesar disso, a Lei Municipal 14.018/05, alterada pela Lei 14.403/07 e regulamentada pelo Decreto 47.731/06, institui o “Programa Municipal de Conservação e Uso Racional da Água e Reuso em Edificações”.

O objetivo do programa é “instituir medidas que induzam à conservação, uso racional e utilização de fontes alternativas para a captação de água e reuso nas novas edificações, bem como a conscientização dos usuários sobre a importância da conservação da água”.

Dentre as ações previstas pelo programa está o estudo de soluções técnicas para aplicação em novas edificações, entre elas, a instalação de hidrômetros para medição individualizada. Entretanto, a norma possui conteúdo explicitamente programático e não torna a medida obrigatória.

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