Antes desta crise deflagrada nos países da zona do euro, o Índice Bovespa caminhava a passos largos para novamente alcançar a sua máxima histórica, na casa dos 73 mil pontos. A maioria esmagadora dos analistas defendia que o índice caminhava na direção certa e chegaria ao fim do ano entre 80 mil e 85 mil pontos. Alguns poucos, bem poucos, acreditavam que havia euforia demais nesse discurso. Esse é o caso do economista-chefe da Way Investimentos e diretor do curso de relações internacionais da ESPM-RJ, Alexandre Espírito Santo. Na visão dele, se a crise tem alguma serventia, é de trazer o mercado, enfim, para níveis mais realistas.
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“Os fundamentos econômicos são suficientes para explicar o Ibovespa entre 55 mil e 57 mil pontos; qualquer coisa acima disso me parece salgada demais e sem motivos que expliquem”, diz Espírito Santo. Considerando o fechamento do índice aos 60.259 pontos na sexta-feira, ele ainda tem um espaço para cair, até chegar a esse preço justo. No começo do ano, quando o Ibovespa ultrapassava os 70 mil pontos, o professor e economista já afirmava que o mercado estava “caro” e que faria sentido uma boa realização de lucros.
Se o preço justo em 57 mil pontos significa que o mercado teria realmente que cair, também revela que esse movimento de queda tem um limite, ou pelo menos deveria ter. Diferentemente da crise de 2008, o mercado não deve registrar quedas abruptas. “Alguns acreditam que o Ibovespa poderá fazer novas mínimas históricas nesta crise; eu discordo”, diz Espírito Santo.
A explicação para esse limite de queda é que o Brasil se encontra em um momento de forte crescimento econômico, algo que não existia durante o chacoalhão de 2008. “Sair dos 72 mil pontos, que é onde o Ibovespa estava antes do começo dos problemas na Europa, para baixo dos 60 mil pontos já é uma bela desvalorização para um país cujo Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer no mínimo mais de 6% este ano”, diz o professor e economista.
Isso é o mesmo que dizer que, se o mercado continuar caindo nos próximos dias, provavelmente várias ações se tornarão boas oportunidades de investimento. “Pela primeira vez depois de muito tempo a bolsa está próxima do seu preço justo e poderá ficar atraente, caso caia ainda mais”, completa Espírito Santo.
O chefe de análise da Bradesco Corretora, Carlos Firetti, divide a mesma opinião. Para ele, não há espaço para a bolsa cair mais, fazendo o Ibovespa perder quase 40 mil pontos como ocorreu em 2008, quando o indicador saiu de mais de 70 mil pontos para a casa dos 30 mil pontos, segundo apurou a repórter Alessandra Bellotto. “Temos um suporte dado pelos fundamentos das empresas e o nível de lucros, que não está sendo afetado pela crise”, diz ele.
Firetti lembra que, em 2008, o impacto da crise externa foi acentuado pelo episódio das perdas dos derivativos cambiais nas companhias brasileiras, algumas de grande porte e com relevância dentro da bolsa. Hoje, além do cenário favorável para a economia local, as empresas reestruturaram seus passivos e estão em situação confortável.
Tanto Firetti quanto Espírito Santo lembram que a história pode ser bem diferente se a crise se agravar e ficar pior que a de 2008, o que ambos acham pouco provável, ao menos por enquanto.
Para os que gostam de olhar o mercado pelo aspecto técnico, a bolsa americana se encontra num nível de definição tanto para cima quanto para baixo. Segundo Espírito Santo, o índice Standard and Poor’s de 500 ações (S&P 500) atingiu os 1.100 pontos, que é a média móvel de 200 dias, considerado um indicador importante. “Esse pode ser um sinal de que o mercado fará uma parada técnica para depois continuar a cair ou começar a subir”, diz ele.
Fonte: Valor