Panelas fumegantes no fogão a lenha, aromas confortáveis e mesa farta do tradicional e típico. Minas Gerais sempre teve uma relação especial com a comida. Não é de surpreender que seja lá, em Tiradentes, um dos eventos gastronômicos mais charmosinhos do país. A 13 edição do Festival Gastronômico de Tiradentes ? entre os dias 20 e 29 de agosto ? ganhou mais sustância em relação às edições anteriores. O investimento para sua realização foi 30% maior do que no ano passado, chegando a R$ 2 milhões.

Desta vez, o evento, que vai homenagear as mulheres na cozinha, conta com duas chefs nacionais e seis internacionais, sendo que três têm estrela Michelin. ?Quando conseguimos atrair mais patrocinadores viabilizamos o convite a chefs especiais?, diz Rodrigo Ferraz, um dos organizadores. Antes, o festival passou por uma fase de vacas magras. ?Nos anos em que o dólar disparou houve dificuldade de captação de recursos e realmente foram edições mais fraquinhas. O patrocínio faz diferença porque o preço dos jantares não paga nem 10% do evento?

O tema de cada edição começa a ser discutido assim que termina a anterior. ?Agora, decidimos explorar o mundo feminino, fazer uma homenagem às mulheres e levantando uma questão: Se são elas que nos amamentam e normalmente cozinham em casa, por que existem mais chefs homens do que mulheres??. Os cachês para as convidadas variaram de € 5 mil a € 20 mil. Uma das presenças de destaque é a francesa Adeline Grattard, do restaurante Yam ‘ Tcha, em Paris, que acaba de ganhar uma estrela do Guia Michelin.

?A estrela é muito gratificante e recompensa o trabalho de toda a equipe. Mas poucas coisas mudaram depois dela. Continuamos focados em atender e satisfazer nossos clientes?, disse ela. Adeline vai mostrar, em Tiradentes, a característica de sua cozinha, a união de sabores franceses e orientais. Ela utiliza técnicas e temperos asiáticos, harmonizando aos pratos com chá vintage chinês ? influência de seu marido, natural de Hong Kong. A presença de Adeline no festival será sua primeira experiência no Brasil.

Uma das preocupações da chef, compartilhada com a sua colega de evento, a holandesa Margot Janse , é a tentativa constante de equilibrar trabalho e vida pessoal, reservando, mesmo na correria da cozinha, tempo para a família. ?Passo os meus dias no restaurante. Faço a preparação do pratos, a condução dos projetos e ainda sou responsável pela gestão da empresa. No entanto, tento separar algumas horas para ficar com meus familiares. Não abro mão disso.?

A holandesa Margot Janse vem direto da África do Sul, onde comanda o restaurante do hotel Lê Quartier Français, que fica em Franschhoek e ocupa o 31 lugar no ranking dos 50 melhores restaurantes do mundo da revista inglesa ?Restaurant?. Sua especialidade é a cozinha africana, feita com ?honestidade e paixão?. Assim como a chef Adeline, ela faz malabarismos para jantar em casa com seu filho de cinco anos. ?Começo a trabalhar por volta das 10h. No hotel, temos dois restaurantes, ambos sustentados pela mesma cozinha. Trabalhamos sete dias por semana. Muitas vezes, fico até depois da meia-noite. Por isso, tento ir para casa, das 17h às 19h , para ficar com meu filho?.

Comparada com suas colegas de evento, Margot tem grande experiência por aqui. Já esteve no Brasil duas vezes, uma em 2007 e outra em abril deste ano. ?Quando estive no país pela primeira vez, por duas semanas, experimentei vários pratos e ingredientes. Comi moqueca, feijoada e provei o maracujá?. Na segunda vez, jantou no DOM, onde provou ?incríveis? ingredientes da Amazônia. ?Estou ansiosa para essa terceira visita porque quero conhecer novos sabores. Também não vejo a hora de me encontrar com as outras chefs?.

Da Espanha, chega Pepa Romans, do restaurante Casa Pepa, em Ondara, que tem uma estrela do Michelin. Seu restaurante fica em um casarão de 140 anos, cercado por laranjeiras, hortaliças e oliveiras. A plantação não está ali por acaso. ?Aproveito todos os produtos da minha horta: as ervas aromáticas, as flores, os brotos e as hortaliças?. O que não encontra em seu quintal, encomenda de produtores locais e confiáveis, porque faz questão de trabalhar com ?matéria-prima de alta qualidade?. Com ingredientes selecionados e a dedicação que coloca em cada prato, ?espera que o cliente se sinta feliz a cada garfada?. Para isso conta com a ajuda da filha, Sole Romans.

O hábito de Pepa de usar ingredientes de sua horta e de sua região é um ponto em comum com as outras chefs. Entre os pratos tipicamente espanhóis que Pepa faz em seu restaurante, o destaque fica por conta do arroz, em versões ?melosas e caldalosas?. A chef espanhola já esteve em Salvador há alguns anos. ?Pude experimentar moqueca de pescado e marisco, feijoada com carne de sol, farofa e outras frutas muito interessantes?.

Além de Adeline, Margot e Pepa, o festival conta com a presença das francesas Rougui Dia (do Petrossian, em Paris) e Reine Sammut (do Auberge de la Fenière, em Lourmarin, com uma estrela), da inglesa Angela Hartnett (do Murano e do York & Albany, ambos em Londres) e das brasileiras Helena Rizzo (do Maní, em São Paulo) e Bel Coelho (do Dui, em São Paulo). Os jantares, com bebida incluída, custam R$ 330, por pessoa, com as chefs internacionais, e R$ 280, por pessoa, com as chefs nacionais. Nesta edição do evento, assim como nos outros anos, também haverá cursos, palestras e shows de música.

Fonte: Valor

Write A Comment

Bitnami