Os loteamentos de altíssimo padrão, com pista de pouso, campo de golfe de 18 buracos, heliponto, rede elétrica subterrânea e hípica – a casa de campo dos muito ricos e influentes – pegaram carona no boom imobiliário. Novos empreendimentos surgem ao mesmo tempo em que marcas tradicionais se relançam para disputar um mercado restrito, mas muito rentável. Ótimo negócio para as incorporadoras e para os próprios compradores, que engordam seu patrimônio com a valorização de 400% desses terrenos nos últimos dois anos.
Os principais empreendimentos ficam a, no máximo, 120 quilômetros de São Paulo – a maioria nas redondezas de Campinas. São pelo menos cinco. O mais tradicional é a Quinta da Baroneza, entre Itatiba e Bragança Paulista, concebido por Oscar Americano, que abriu uma nova fase de venda de loteamentos. Antes dele, havia apenas Terras de São José, que também abriu nova fase agora. Nos últimos três anos, surgiram Fazenda Boa Vista, Haras Larissa e Fazenda da Grama. “Eles carregam as exigências dos códigos de alto luxo que as famílias ricas de São Paulo querem”, afirma Álvaro Coelho da Fonseca, dono da imobiliária Coelho da Fonseca. Empresários, banqueiros, executivos do primeiro escalão, médicos e advogados se encontram nos finais de semana.
E novas regiões também começam a ser exploradas. O mais novo lançamento desse mercado sai desse eixo concorrido em busca dos endinheirados de outras regiões do país, como Ribeirão Preto (SP) e Minas Gerais. Trata-se de um pedaço de terra na imensidão da Furnas, o “mar” de Minas Gerais. Uma península de mais de 1,8 milhão de m2 na represa de Furnas atraiu a família Carbonari, donos da Anhanguera Educacional. Compraram metade do terreno – os outros 50% continuam com o antigo proprietário, o criador de cavalos, Jayme Resende.
Juntos, montaram a Porto Rezende, empresa criada para idealizar e gerir o empreendimento, que terá investimentos de R$ 45 milhões na infraestrutura e montagem das áreas temáticas: centro náutico, Hotel Spa (bandeira ainda não definida), clube equestre e aeroclube. O acesso, nesse caso, é muito mais fácil por ar – o folheto de vendas já dá as coordenadas ao piloto e indica viagem de 50 minutos partindo de Belo Horizonte, 45 minutos a partir de Ribeirão Preto e 1h10 de São Paulo – e por água, pelo lago de Furnas. A empresa está construindo uma balsa para oito veículos para fazer a travessia (estimada em oito minutos) a partir da cidade de Guapé (MG).
O empreendimento fica a 15 minutos de barco da Escarpas do Lago, outro condomínio de altíssimo padrão também no Lago de Furnas. Os lotes começam com mil m2 , mas têm na média 1,8 mil. Com lançamento previsto para novembro, os terrenos dos dois primeiros condomínios começam a ser vendidos por R$ 300 o metro quadrado.
Segundo Erik Carbonari, administrador da Porto Resende e filho do fundador da Anhanguera Educacional, o objetivo é fazer a venda total em três anos – como é de praxe nesse tipo de empreendimento, os incorporadores deixam as áreas mais nobres por último para captar toda a valorização do projeto. “Estamos muito entusiasmados com o mercado imobiliário”, afirma Carbonari, que já atuava no mercado imobiliário de Itatiba e, com a Porto Resende, pretende ampliar atuação na área de loteamentos de alto padrão.
Esse segmento reflete o aquecimento do mercado imobiliário. Apesar de ser voltado a um público de alta renda, durante a crise as vendas também diminuíram, mas responderam rapidamente. A Fazenda Boa Vista, da JHSF, na rodovia Castelo Branco, vendeu um conceito de exclusividade e, além dos tradicionais campos de golfe, prometeu um Hotel Fasano para dar mais charme ao empreendimento. As primeiras casas já estão entregues, mas o hotel ainda não está operando. Segundo a empresa, a previsão de início de operação do hotel é maio de 2011. “Os lotes começaram a ser vendidos por R$ 150 o m 2 e agora estão custando R$ 750″, diz Rogério Lacerda, diretor de incorporação.
Além de lotes, a JHSF resolveu vender casas prontas, assinadas por arquitetos renomados. “Esse é um diferencial importante do empreendimento”, diz Coelho da Fonseca. O empreendimento está com 74% do total vendido. A incorporadora também lançou o conceito de estâncias, que vão de tamanho médio de 5 mil a 6 mil m2 no início e chegará a espaços de até 30 mil m2 nas próximas fases.
Da portuguesa Espírito Santo Properties, a Quinta da Baroneza, com terrenos a partir de 2 mil m2, pôs à venda os últimos 200 lotes a um preço médio de R$ 900 mil. Os outros 700 estão todos vendidos. Outro que está em fase de comercialização é o Haras Larissa, na Fazenda Santo Antônio, a cerca de 100 km de São Paulo pela rodovia dos Bandeirantes. Lançado há um ano e meio está 60% vendido.
A Senpar está lançando uma nova fase das Terras de São José – o primeiro foi construído há 30 anos – em Itu (SP), com lotes de 2,5 mil m2, vendidos por cerca de R$ 650 mil. O empreendimento está com 65% do total vendido. A empresa também lançou o condomínio Serra Azul, numa antiga fazenda de café, ao lado do Outlet Premium, com 379 lotes. Fechou projeto com o ex-jogador de golfe Jack Nicklaus, que projeta o campo. Para quem não gosta de construir, lançou casas prontas. “O mercado está muito bom, muita gente compra até três terrenos”, diz César Augusto Federmann.
Fonte: Valor