Com a economia doméstica a todo vapor, o investidor não quer se arriscar a ficar fora da festa do consumo. Mesmo que, para isso, tenha de pagar caro. É o que sugere o desempenho espetacular que as ações de empresas ligadas ao mercado interno vêm sustentando ao longo do ano. O impulso, dizem os especialistas, vem especialmente de fora.
“O investidor estrangeiro quer exposição em mercado doméstico e, com isso, acaba estimulando exageros em setores como os de varejo, imobiliário e até de logística”, afirma o gestor de renda variável da Modal Asset, Eduardo Roche. Muitas dessas ações, segundo ele, têm potencial de ganho limitado e, em alguns casos, estão cotadas acima do preço justo. “O cenário positivo já está nos preços”, argumenta.
É o caso das queridinhas do mercado Lojas Renner e Natura. As ações ordinárias (ON, com voto) de ambas as empresas, cotadas no topo histórico, estão entre as maiores altas do Ibovespa, com mais 67% e 35%, respectivamente, para R$ 64,39 e R$ 47,15. Também os múltiplos estão nas máximas.
Segundo cálculos da Itaú Corretora, o Preço/Lucro (P/L, que dá ideia do prazo de retorno dos investimentos e, assim, se uma ação está cara ou barata) de 2011 para a Renner está em 22,5 vezes e para a Natura, em 23,9 vezes. Para o Ibovespa, com alta de 1,37% no ano, o P/L é de 13 vezes.
Ainda pelas contas da Itaú, a Renner tem chance de subir 8,2%, dado preço-alvo de R$ 69,70 para 2011. Já para Natura, a corretora trabalha com valor de R$ 42,60, o que significa queda de 9,7% ante o preço de sexta-feira.
O apetite de estrangeiros por ações de consumo, levando-as às máximas históricas e a múltiplos mais altos que de outros setores, não é um fenômeno restrito ao Brasil, mas de países emergentes como Índia, Turquia, Indonésia e China, aponta o gestor da americana AllianceBernstein responsável pela América Latina, Jean Van de Walle. “Essa tendência é sustentável enquanto o crédito e o consumo continuarem fortes.”
No curto prazo, aponta Walle, as perspectivas continuam “brilhantes” para o país, o que deve sustentar o fluxo externo para as ações de consumo. “O Natal promete ser um dos melhores da história.”
Perspectivas ainda favoráveis para a economia brasileira mais excesso de liquidez global têm tudo para continuar beneficiando não só o mercado de ações, como empresas de consumo. Do ponto de vista das companhias, os resultados do quarto trimestre devem vir fortes, com crédito farto e mais longo. No Brasil, a ascensão social de classes mais baixas é outro fator para sustentar o crescimento.
Mas Walle, da AllianceBernstein, ressalta que há opções mais baratas do que varejistas para pegar carona na onda do consumo forte. “Os bancos são empresas de consumo com múltiplos mais baixos.”
O Ibovespa acumulou queda de 3,20% na semana, pior desempenho desde julho.
Alessandra Bellotto
Fonte: Valor