O mercado de arte no Brasil tem crescido muito nos últimos tempos e já movimenta cerca de R$ 200 milhões por ano, segundo especialistas. Um termômetro desse crescimento foi o leilão realizado na Sotheby’s, em maio, com obras de artistas brasileiros e do colombiano Fernando Botero, que arrecadou US$ 21 milhões. Na ocasião, a escultura do brasileiro Cildo Meireles “In-Mensa”, de 1982, foi vendida por US$ 18 mil, um recorde para o artista em leilões. Em abril, a feira SP Arte já havia movimentado mais de R$ 30 milhões.
Tamanha ebulição tem feito com que a aquisição de obras de arte ultrapasse a esfera do lazer e passe a ser vista cada vez mais como um investimento. Muitos dos novos colecionadores, estimulados pelos casos recentes de valorização acentuada de quadros e esculturas, estão buscando as obras de arte apenas de olho no ganho futuro. “Novos clientes têm vindo de olho no lucro, mas é preciso entender que arte não é como comprar um lote de cem ações”, diz Renato Magalhães Gouvêa Júnior, da Arte57, escritório especializado em arte.
Antes de se aventurar no mundo da arte, é preciso entender que esse mercado tem diversas peculiaridades que devem ser observadas atentamente pelos colecionadores. Se a intenção é lucro rápido, a melhor coisa é nem começar a comprar, segundo os especialistas. “Sempre começo dizendo o que aprendi há 25 anos, quando ingressei no mercado: é essencial unir o útil ao agradável”, afirma o consultor de arte João Carlos Lopes dos Santos. “É fundamental que o colecionador compre aquilo de que ele goste, porque obra de arte tem longevidade, pode ficar mais de 40 anos com uma pessoa.”
Conciliar o gosto do comprador e um eventual retorno financeiro é uma das tarefas mais difíceis para os “marchands” – intermediários entre os artistas e os compradores – e para as galerias que vendem para os colecionadores. Um dos pontos que merecem atenção é a liquidez, ou seja, a possibilidade de vender rapidamente a obra para embolsar os lucros.
Gouvêa Júnior, da Arte57, ressalta que “a liquidez é elevada quando se trata de grandes nomes, já que muitas pessoas querem um quadro de artistas consagrados”, como o espanhol Pablo Picasso e os brasileiros Cândido Portinari e Tarsila do Amaral. Já no caso de obras de artistas contemporâneos, por exemplo, a liquidez é mais restrita, isto é, o colecionador pode ter dificuldades em vender o quadro pelo preço que considera justo. “Quem coleciona pensando apenas em lucro começa errado”, afirma Gouvêa Júnior. “Vender um Portinari por R$ 1,65 milhão em um leilão judicial é uma tarefa fácil, mas, com o artista novo, às vezes não se consegue nem R$ 500”, diz o consultor Lopes dos Santos.
Outra particularidade é o caráter cíclico desse mercado. Em 20 anos, o que hoje está em alta pode estar em baixa, enquanto um outro tipo de arte passa a cativar os colecionadores. “Arte não é bolsa, não dá para ficar olhando no monitor a oscilação do preço, mas muita gente está ingressando no mercado com esse olhar”, afirma Murilo Castro, da galeria Murilo Castro, de Belo Horizonte (MG).
Hoje, por exemplo, diz Castro, o mercado está com foco grande na arte contemporânea. Há 25 anos, contudo, o destaque era a arte do fim do século XIX e do início do século XX. O que mudou a cara do mercado foi o ingresso de novos colecionadores, cuja faixa etária está entre 30 e 40 anos. “Ainda há demanda pela arte moderna, mas a procura está muito grande na contemporânea”, diz Castro.
Nesse cenário, há um foco especial na busca de novos artistas. Com isso, marchands e galerias correm atrás de novos talentos que podem render muito nos próximos anos. “Grande parte dos novos talentos são descobertos em exposições e eventos que ocorrem no país inteiro. “Cerca de 95% dos talentos saem desses dois canais, que passam a trabalhar o artista”, diz Gouvêa
São três os caminhos para quem adquire uma obra de arte: participar diretamente de um leilão ou adquirir de um artista; contatar um marchand ou um consultor de arte; ou então bater à porta de uma galeria onde são expostos artistas. O primeiro caminho é escolhido pelos grandes colecionadores que não precisam de aconselhamento, enquanto os outros dois são usados por interessados que ingressam nesse universo.
Os colecionadores são em geral executivos do mercado financeiro, publicitários, advogados e, mais recentemente, executivos que trabalham no mercado de tecnologia de informação e de empresas que abriram o capital. Os principais centros do mercado são Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Salvador e Curitiba, destaca Lopes dos Santos, que atua no Rio de Janeiro. “O público está desconcentrado no país inteiro, em alguns leilões no Rio, cerca de 70% dos compradores são de fora do Estado”, afirma.
Fonte: Valor