O mercado brasileiro de private equity está bem aquecido. Em 2010, foram realizadas 80 transações por cerca de 50 gestoras diferentes. O valor total investido foi de US$ 6 bilhões, um recorde histórico para o setor.
Desde 2004, é a primeira vez que o volume investido em private equity supera o valor levantado por ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) na bolsa de valores. A expectativa é que, em 2011, o volume investido possa atingir US$ 10 bilhões e permanecer nesse patamar até 2013.
É possível notar o interesse dos investidores estrangeiros em fundos e operações de private equity na região. O Brasil passou a ser o destino mais procurado entre os países emergentes e já representa 1/5 do mercado de private equity desses países. Esse número era metade em 2009.
Com a chegada dos fundos de fundos de private equity no Brasil, algo ainda novo, os investidores pessoas física e “family offices” – de alta renda – poderão também entrar nesse mercado. Um fundo de fundos aplica em diversos fundos de private equity e realiza coinvestimentos em empresas junto com gestores selecionados.
No mundo, mais de 22% dos recursos investidos em private equity passam por fundos de fundos. Esse instrumento permite a diversificação da carteira de investimentos com “tickets” de entrada muito mais acessíveis.
Fundos de fundos são especialmente úteis para se acessar o segmento de “growth capital” e “mid-market buyout”, no qual atuam gestoras independentes especializadas e de tamanho menor, muitas vezes com nomes pouco conhecidos dos investidores. A grande tendência no Brasil é que a maioria das transações, principalmente aquelas com preços de entrada mais atrativos, aconteçam nesses segmentos.
Companhias de menor porte, mas com crescimento projetado que permita sua venda ou mesmo entrada em bolsa de valores em prazo de cinco anos, são excelentes oportunidades e continuam sendo negociadas de quatro a seis vezes o Ebitda, o que muitas vezes se reflete em um preço bastante atrativo de entrada. Além disso, essas empresas se beneficiam muito do apoio estratégico-operacional que os melhores fundos de private equity conseguem aportar às empresas.
Com esse segmento do mercado mais aquecido, mais empresários e empreendedores buscarão capitalizar suas empresas e projetos por meio de private equity. Nos segmentos de “growth capital” e “buyout” pode se observar empresas de médio e grande porte, muitas vezes familiares, buscando recursos para adquirir concorrentes, colocar em prática seus planos de crescimento ou mesmo facilitar processos sucessórios e de profissionalização.
Muitos entraves para o desenvolvimento do private equity foram superados como, por exemplo, a falta de estruturas jurídicas adequadas para regular os fundos de private equity, a dificuldade de desinvestimento, instabilidade econômica, entre outros.
Atualmente, a CVM criou instrumentos modernos para private equity (FIP, FIC-FIP e FMIEE) dando mais segurança ao investidor, a bolsa restaurou o apetite por IPOs e há mais estabilidade tornando mais atrativos investimentos de longo prazo. Sem falar nos excelentes retornos que os fundos têm alcançado. Investimentos como Gafisa, ALL, Gol, Odontoprev e outros retornaram de cinco a 30 vezes mais o capital investido.
São Paulo e Rio de Janeiro ainda são os estados que mais atraem capital. Em 2009, os dois estados representavam 80% do volume investido em PE, em 2010 esse percentual passou para 89%. Outras regiões como Minas Gerais e Rio Grande do Sul começam a ganhar espaço. Nesses Estados, é possível encontrar um grande número de empresas de médio porte atrativas, que poderiam ser alvo dos investimentos de “growth capital” e “mid-market buyout”.
Esse “gap” já começa a ser coberto. Em Minas, os investimentos cresceram 48%, para US$ 272 milhões no ano passado, e o número de transações aumentou 167%, para oito. Já no rio Grande do Sul, o aumento dos investimentos foi de 550%, para US$ 105 milhões e as transações registraram elevação de 25%, para um total de cinco operações.
O mercado de private equity vem mantendo um desempenho extraordinário desde 2004, ano em que os desinvestimentos foram facilitados pelo aquecimento de capital e os diversos IPOs decorrentes disso. Durante os últimos cinco anos o mercado de private equity tem crescido 46% ao ano. A crise não diminuiu as atividades de investimento nem as captações, principalmente nos fundos de pensão. Essa é uma tendência que deve permanecer por um bom tempo.
Fonte: Valor