Écomum ouvirmos variadas definições da bolsa de pessoas que vivem esse mundo de longe: alguns acham que é um cassino ou uma loucura, que sobe e desce como uma montanha-russa.

Outros acham que é onde muitas pessoas ficam ricas ou quebram; outros ainda a encaram como uma oportunidade a mais de investimento de alto risco, mas, em compensação, como tudo na vida, com mais retorno.

A verdade é que a bolsa pode ser tudo isso e talvez até um pouco mais. A melhor definição, para mim, é a de um órgão em que podemos trocar o papel-moeda por ativos e ficar sócios de empresas sólidas, que podem render, e muito, no longo prazo. Mas como o mercado é extremamente sensível a qualquer variação e os agentes tentam adivinhar com antecedência o que vai subir ou cair para fazer suas apostas, o que vemos é uma volatilidade bem alta.

Esse mercado mistura expectativas racionais, que mudam com os acontecimentos da economia, com a emoção humana – razão pela qual vemos os movimentos de manada e muitos exageros, seja por excesso de otimismo e ambição (na alta), seja por excesso de pessimismo e medo (na baixa).

É por todos esses motivos que a bolsa também pode ser encarada como um lugar no qual se compra barato e se vende caro (vice-versa). A volatilidade do mercado possibilita lucro ou prejuízo, o que torna o agente muito mais um especulador (“trader”) que um investidor. Com isso, muitas pessoas acabam sendo atraídas para o mercado pensando no lucro fácil e rápido.

Apesar de verem na prática que não é assim tão fácil ganhar dinheiro, as pessoas acabam atraídas pelas fortes emoções que as operações trazem, seja na forma de desafio, de prazer ou por outros sistemas que estimulam químicas cerebrais do circuito de recompensa. Algo que no extremo pode até gerar vícios, mas que no geral é saudável, assim como qualquer atividade que gere emoções que estimulem qualidades como sagacidade, jogo de cintura e pensamento lógico, entre outros.

Existe uma diferença enorme entre investir na bolsa e fazer um “trade”. Primeiro, há a questão do tempo: um “trader” pode ser de curto, médio e longo prazos, enquanto um investidor está necessariamente ligado a longo prazo. Outra diferença é que o “trader” quer aproveitar ao máximo a volatilidade dos preços para ter lucros, comprando barato e vendendo caro. Já o investidor está mais preocupado em isolar a volatilidade e empregar o seu dinheiro em ativos que, no longo prazo, venham a trabalhar para ele, pagando dividendos ou se valorizando.

A maneira mais fácil de ser investidor é tratar a bolsa como previdência privada, comprando todo mês, seja na alta, seja na queda das boas ações. Quem fez isso nos últimos trinta, vinte ou dez anos com certeza está muito feliz, principalmente se investiu nos setores de commodities e bancos.

Existem maneiras de conhecer os fundamentos das ações para tentar comprar nas horas em que elas estão baratas e vender quando estão caras. Usar derivativos para isolar a volatilidade é outra estratégia disponível. Mas a verdade é que comprar todos os meses ações de boas empresas é a maneira mais fácil e lucrativa de participar da bolsa, até porque, quando se está “comprando”, a queda é sempre bem-vinda para aumentar o portfólio e diminuir o preço médio sem que a alta seja ruim. Nesse caso, a emoção só vai atrapalhar no sentido de manter a disciplina e não querer inventar. De resto, não há grandes dificuldades, só virtudes, como a paciência.

Já o “trader” precisa controlar muito as emoções. Todo “trader” perde. O importante para ele não é ganhar ou perder, e sim o quanto ele lucra nos acertos em comparação ao quanto perde durante os erros; o que vale é o saldo positivo. Especuladores ou “traders” bem-sucedidos têm muita disciplina, bom senso, noção de risco/retorno e um método claro para aumentar suas chances de ganho, seja ele técnico ou fundamentalista.

Mas a grande conclusão de tudo isso é que, antes de conhecer a bolsa, é preciso conhecer o seu perfil. É preciso saber se você é especulador ou investidor, se tem a disciplina de não inventar ou se tenta aproveitar a volatilidade. O bolso é a parte mais sensível do ser humano e é nessa hora que cada um conhece um pouco mais de si.

Fonte: Valor

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