Já está em curso uma expansão mais moderada da demanda doméstica. A certeza foi expressa pelo Banco Central (BC), pela primeira vez, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 12,5% ao ano. No documento anterior, de junho, o BC via um “ritmo ainda incerto” de moderação da atividade econômica.
Além disso, o Copom incluiu na ata uma frase que mostra sua confiança na estratégia definida no início do ano para a convergência da inflação para a meta de 4,5% em 2012, ao afirmar que os impactos de política monetária, tanto das ações convencionais quanto das medidas macroprudenciais, “tendem a se acentuar nesse semestre”. No texto anterior, o BC dizia apenas que as ações “ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços”.
Ao descrever o cenário prospectivo para a inflação como “mais favorável” e demonstrar maior assertividade na moderação da economia, o BC emite sinais de que o ciclo de elevações da Selic está próximo do fim, com grandes chances de a alta de julho ter sido a última do ano, na visão de analistas de mercado.
A ata, portanto, completa a sinalização dada no comunicado que seguiu à reunião do Copom. Ao alterar completamente o texto e retirar a frase “suficientemente prolongado” do texto, incluindo que a decisão foi tomada avaliando o cenário “neste momento”, o BC abriu as portas para qualquer tipo de ação no encontro seguinte, em agosto, a depender do desenrolar das economias doméstica e internacional.
Segundo Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a redação foi parecida com o documento de junho, com pouca informação que possa elucidar os próximos passos da política monetária. Ele reconhece, no entanto, que entre coincidências e pequenas alterações, é possível dizer que aumentou a probabilidade de que a alta da reunião de julho tenha sido a última.
Leal cita ainda a alteração no cenário do BC para as commodities — cuja elevação dos preços foi importante fator de pressão para a inflação no Brasil no fim do ano passado e início deste ano.
Se na ata de junho a autoridade monetária via “grande incerteza” na trajetória dos preços das commodities, no texto divulgado ontem o BC expressa sua crença que “desde abril esses preços mostram certa acomodação”. Segundo Leal, a redação atual dá a “sensação de que o BC considera que as commodities poderão ajudar a inflação daqui para frente.”
O BC também afirmou que houve “deterioração adicional dos mercado internacionais, com a volatilidade e a aversão ao risco se elevando.” Desde a última reunião, continua o BC, aumentaram as preocupações com as dívidas dos países e bancos europeus, inclusive de economistas centrais — que não apareciam no documento da reunião anterior. Ainda de acordo com a ata, as evidências apontam moderação “adicional” no processo de recuperação em que se encontram as economias do G3. Mas o BC ainda vê influência “ambígua” sobre o comportamento da inflação aqui no Brasil.
Mesmo com “sinais mais favoráveis”, nas palavras do BC, para o cenário prospectivo para a inflação doméstica, as projeções da autoridade monetária ainda apontam que a inflação só ficará “ao redor da meta” no primeiro semestre de 2013. Para 2012, ano em que o BC direciona seus esforços para atingir a convergência dos preços, as projeções ainda se encontram “acima do valor central da meta.”
Fonte: Valor