A casa térrea, de 120 m2, nem de longe lembra sua forma original. Localizada na rua Aurélia, no bairro paulistano da Vila Romana, a construção ganhou um ar retrô desde a fachada para abrigar a Barbearia Bastos, especializada em barba, cabelo e bigode, como nos velhos tempos. “Eu sentia falta de fazer uma boa barba, mas não encontrava mais uma barbearia que somasse serviço e boa higiene”, diz o analista de sistemas Luiz Carlos Farias Bastos. “Paralelamente, percebia que os homens estavam insatisfeitos com o atendimento em salões unissex”.
Foram dois anos de pesquisa, elaboração do plano de negócios e ajuda de consultorias, entre elas o Sebrae, para desenhar o projeto, escolher o ponto e selecionar a mão de obra. Encontrar barbeiros de ofício é um dos grandes desafios de quem deseja investir no ramo. Não há mais cursos de formação de profissionais e pouca gente está disposta a aprender os ensinamentos passados de pai para filho.
A Barbearia Bastos, que exigiu um investimento de R$ 350 mil sem contar o ponto, abriu as portas em 2011 e em pouco tempo transformou-se em um verdadeiro “Clube do Bolinha”, com direito a um bar no lugar da sala de espera, cerveja gelada, café, TV para não perder um lance do futebol e muitas revistas. O carro-chefe são os cortes de cabelo artesanais à tesoura e a barba feita com navalha e toalhas quentes para abrir os poros. Uma barba completa custa R$ 30 e leva em média 30 minutos para ser finalizada. A barbearia recebe cerca de 300 clientes por mês. A meta é dobrar o número até 2014 e chegar a um faturamento anual na casa dos R$ 700 mil.
A trajetória percorrida pela empresária Meire Ferreira Pinto, de Curitiba, é semelhante à de Bastos. Atuando na área de distribuição de cosméticos por 20 anos, ela acompanhou de perto o crescimento da indústria de beleza masculina e teve contato com uma pesquisa sobre qual o formato ideal para atender à demanda de serviços estéticos voltados aos homens.
Deixou a distribuidora e investiu numa barbearia com serviços clássicos e ares retrô. Assim nasceu, em 2007, a Barbearia Clube, com um único barbeiro de ofício que treinou a equipe para oferecer serviços de barba tradicional completa e corte de cabelo artesanal, além de podologia, limpeza de pele, massagem e depilação. A decoração remete ao passado com piso de azulejos preto e branco, cabideiro para chapéus e casacos, além de mobiliário original de época. O salão exibe cinco cadeiras, das décadas de 20, 30, 40, 50 e 60 garimpadas junto a um restaurador que percorre as cidades do interior em busca de raridades.
“Em meados de 2009 já tínhamos duas franquias”, lembra Meire. “Infelizmente, não deram certo por erro na escolha dos parceiros e falta de padronização”. Mais certa de como gostaria de expandir o negócio, a empresária abriu a segunda unidade no início deste ano. O faturamento em 2013 deverá chegar a R$ 1 milhão, com média de 1.500 clientes por mês.
Meire observa que a concorrência cresceu bastante nos últimos três anos não só em Curitiba.
Modelos de negócios parecidos têm aberto as portas em Brasília, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo na esteira do aumento do consumo de produtos de cuidados pessoais para os homens, que cresceu 163% de 2006 para cá. Um segmento que movimenta US$ 4 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) e do Euromonitor.
O Brasil só perde para os Estados Unidos, devendo transformar-se no maior mercado mundial até 2015. “Os novos serviços masculinos em salões de beleza e a reformulação das barbearias refletem o crescimento do interesse desse público pelo bem-estar e a aparência”, afirma Luiz Barreto, presidente do Sebrae.
Para ganhar destaque entre a concorrência, muitos empresários vêm diversificando a atividade, compartilhando o espaço com a oferta de outros produtos e serviços. É o caso do Bardot Hair Soul, no bairro paulistano da Vila Madalena, que há quatro anos abriu o espaço para a comercialização de roupas usadas e novas de parceiros, além de funcionar como galeria para a venda de obras de arte. “No primeiro ano o faturamento 25%”, diz o sócio Marcos Furquim. “A iniciativa ajudou a elevar o número de novos clientes, que saltou de 30 para 150 a cada mês”. Embora não seja um salão exclusivamente masculino, o Bardot também apostou no resgate da barba, cabelo e bigode tradicionais.
Conhecido por cuidar das madeixas de celebridades, Marcos Proença firmou parceria com a Noir, marca de moda masculina da Le Lis Blanc. Ele abriu uma barbearia retrô dentro da flagship da marca, em São Paulo. São 12 m2 de pura sofisticação, com projeto assinado pelo escritório argentino Estudio PAC, com cadeiras e objetos típicos dos anos 40.
Fonte: Valor