O câmbio teve papel importante na aceleração de 0,85% para 1,02% no IGP-M entre abril e maio, e também foi o principal fator que puxou os preços das tabelas industriais em abril. No Índice de Preços ao Produtor (IPP), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a variação passou de 1,04% em março para 1,38% em abril, a maior desde novembro de 2010, quando o indicador subiu 1,43%. NO IGP-M, o índice de maio foi o maior desde novembro de 2011. Apesar do impacto, economistas avaliam que a pressão do câmbio sobre a inflação deve diminuir já a partir de junho.
Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), calcula que a desvalorização do real pode ter sido responsável por 50% da alta do Índice dos Preços ao Produtor Amplo (IPA), de maior peso no IGP-M, e que passou de 0,97% em abril para 1,17% em maio. Na leitura anterior, o impacto do câmbio foi menor: em torno de 30%. Ele, contudo, avalia que o cenário é menos propício à inflação. O quadro externo não indica alta de commodities e a atividade estagnada no mercado interno enfraquece repasses da escalada do dólar ao consumidor, diz.
A aceleração do IPA foi provocada pelos produtos industriais, que subiram 1,29% em maio, ante 0,89% em abril, segundo Quadros. O subgrupo materiais e componentes para manufatura avançou de 1,26% para 1,94% no período, com taxas maiores em fertilizantes, produtos químicos orgânicos e na cadeia de soja, entre outros. Já nos preços agropecuários, que se desaceleraram de 1,18% para 0,85%, na passagem de abril para maio, Quadros afirmou que o efeito do câmbio esteve concentrado na soja, cujos preços no mercado internacional estão cedendo, mas ainda sobem nos IGPs.
A alta de 3% do dólar ante o real, em abril frente a março, impulsionou o resultado do IPP no período, avalia o gerente do índice, Alexandre Passos Brandão. A moeda americana catalisou o preço das principais atividades do IPP, com destaque para o fumo, que entre março e abril subiu 7,95%, e alimentos, cujos preços avançaram 2,81%. Sobre o fumo, também pesou o reajuste de preços concedido pelo governo em abril.
O câmbio também exerceu influência sobre papel e celulose, atividade que teve alta nos preços de 1,92% em abril na comparação com março. No mesmo período, outros equipamentos de transporte subiram 2,13%. “Muitos dos produtos das atividades que registraram alta são negociados em dólar. Com a alta da moeda, o preço dessas atividades aumenta em real”, disse Brandão.
O período de aceleração dos IGPs, de acordo com Quadros, aparentemente ficou para trás e nada indica que a trajetória do câmbio possa provocar uma escalada da inflação nos próximos meses. “Não necessariamente vamos subir ladeira acima. Essa desvalorização do real já nasce meio moderada por outro efeito”, disse, referindo-se à expectativa de queda de preços das commodities.
Quadros também destacou que o IGP-M de maio é o terceiro da família dos indicadores de atacado da FGV a marcar taxa na casa de 1%. “Aparentemente bateu no teto. O câmbio não preocupa tanto.”
A passagem do primeiro para o segundo trimestre, explicou, foi marcada por uma piora do quadro internacional, principalmente na situação da zona do euro, mas também por expectativas de crescimento menor da economia chinesa e de uma recuperação mais lenta que a prevista nos Estados Unidos. Este cenário de instabilidade ao mesmo tempo em que contribui para dispersar ainda mais a taxa de câmbio, joga para baixo as cotações das matérias-primas. Assim, concluiu, o saldo para a inflação, é positivo. “Pode ser que a participação do câmbio nos IGPs aumente, mas não necessariamente as taxas vão aumentar”;
Do lado do consumidor, os impactos da alta do dólar, na sua visão, serão em produtos isolados, como óleo de soja e produtos de limpeza. Em sua avaliação, a evolução mais modesta da economia inibe repasses mais fortes.
Os próximos dois meses serão de menor inflação no varejo, com alimentos pressionando menos, preços de carros caindo e os impactos dos reajustes de cigarros e medicamentos sendo neutralizados. A avaliação é do economista Thiago Carlos, da Link Investimentos, que projeta desaceleração no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dentro do IGP-M. Pelos seus cálculos, a alta do IPC-M, que foi de 0,49% em maio, deverá ser reduzida a 0,30% em junho.
Além do varejo, o atacado também deve apresentar menor inflação em junho e julho, segundo o economista. Ele estima que o IPA se desacelere de 1,17% em maio para 0,60% em junho e 0,50% em julho. “O impacto do câmbio parece estar chegando a um limite. Além disso, os preços agropecuários também devem perder fôlego, seguindo um movimento sazonal.”
Com menor pressão no varejo e no atacado, a previsão é de que o avanço do IGP-M ceda de 1,02% em maio para 0,68% em junho e 0,50% em julho. Apenas o INCC, observa Carlos, deve se acelerar nos próximos meses, devido ao reajuste esperado nos preços de mão de obra. “Há a expectativa de aumentos salariais em São Paulo. Como o Estado tem grande participação no indicador, a pressão deve ser relevante”, afirma.
Fonte:Valor