Para que um correntista do Banco do Brasil possa visualizar no site da instituição um cheque emitido por ele e já compensado – ou seja, consultar uma imagem que já está disponível no banco de dados do BB -, precisará desembolsar R$ 6. No Santander, o mesmo serviço custa R$ 4,50, enquanto no Bradesco e no Itaú Unibanco, sai de graça para os clientes.

O sistema bancário está obrigado, desde maio, a fazer a compensação de cheques por meio da digitalização da imagem. Ontem, o prazo de compensação de cheques com valores inferiores a R$ 299,99 caiu de quatro para dois dias úteis e de cheques acima de R$ 300, de dois para um dia útil. Efeito direto da digitalização.

Esse processo, conhecido por truncagem, tende, inclusive, a reduzir os custos das instituições financeiras. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estima uma economia de R$ 100 milhões só com o transporte dos cheques por malotes à Compe, câmara centralizadora de compensação do Banco Central (BC). A eliminação do trajeto físico também ajuda a diminuir fraudes, perdas e roubos. “Esperamos uma forte redução na clonagem e falsificação de cheques que proporcionaram, em 2010, um prejuízo estimado em R$ 1,2 bilhão para o comércio e de R$ 283 milhões para os bancos”, afirma o diretor adjunto de serviços da entidade, Walter Tadeu de Faria.

Se os bancos são obrigados a digitalizar as imagens de cheques e vão economizar com isso, por que, então, cobrar do cliente a simples visualização? Carlos Wiechers, gerente de tecnologia do BB, argumenta que o modelo centralizado de compensação digital adotado pela instituição (e por boa parte do setor) ainda prevê o trânsito físico, já que a imagem é obtida a partir dos centros de compensação dos bancos, e não das agências.

No modelo descentralizado, como o utilizado pelo Bradesco, a captura da imagem é feita diretamente nas agências, permitindo que o processo seja de ponta a ponta online. “Há um movimento de descentralização em curso e, no futuro, os custos devem baratear para o cliente”, afirma Wiechers, do BB. O BB opera com 15 centros no país e, além de participante da Compe, é a instituição responsável por executar as compensações na centralizadora.

Assim como o BB, o Santander opera de forma centralizada. Marcelo Zerbinatti, diretor de organização, tecnologia e processos do banco, diz que ajustes estão sendo feitos para que, em breve, o Santander passe a capturar as imagens de cheques em sua rede de agências. “Na medida em que todos os investimentos se estabilizarem, a tendência é oferecer mais vantagens aos clientes”, diz Zerbinatti, para na sequência emendar: “Mas não só em termos de tarifa.”

Embora a obrigatoriedade da truncagem tenha começado a valer para o sistema financeiro no fim de maio, os investimentos dos bancos nessa tecnologia ocorreram anos atrás.

O Santander começou a investir na digitalização de imagens há pelo menos uma década, período durante o qual boa parte dos recursos aplicados na infraestrutura tecnológica foi diferida, enquanto o serviço de visualização de cheques também era cobrado dos clientes.

“Parte do custo da digitalização é recorrente, como processar e armazenar a mídia, além de garantir a interface sistêmica”, defende Zerbinatti. Manter as operações funcionando, no entanto, é obrigação do banco e faz parte do risco do negócio, rebate Renata Reis, supervisora de assuntos financeiros da Fundação Procon. “Esse tipo de custo não deve ser repassado ao consumidor, principalmente porque o serviço vai se reverter em benefícios financeiros e de segurança para o banco”, diz.

Discutir valores de tarifas é complicado pois não existe um tabelamento. Como lembra Zerbinatti, do Santander, “o serviço não é obrigatório e o banco entende que é uma facilidade oferecida ao cliente”. De fato, desde abril de 2008, quando o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central disciplinaram a cobrança de tarifas bancárias, um pequeno conjunto de transações classificadas como “essenciais” passou a ser isento, como a realização de até quatro saques por mês. Mas serviços considerados “diferenciados”, a exemplo da visualização de cheques, podem ser livremente taxados.

Fonte: Valor

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