A aposentada Ilka Brandão Bezerra, de 77 anos, faz parte do grupo de investidores novatos que começaram a aplicar no mercado de ações nos últimos cinco anos, impulsionados pela nova onda de aberturas de capital das empresas brasileiras. Há dois anos, ela decidiu investir cerca de 20% de seus investimentos em um fundo de ações da Petrobras e em outro da Vale. “Como eu podia imaginar que os papéis das duas maiores companhias do mercado brasileiro poderiam cair tanto?”

A crise da dívida soberana na Europa, aliada à perspectiva de menor crescimento da economia mundial, puniu as empresas exportadoras, principalmente os papéis mais líquidos. Só neste ano, as ações da Vale e da Petrobras acumulam queda de 7,4 % e de 16,7%, respectivamente, até segunda.

Dona Ilka, no entanto, faz parte de um pequeno grupo entre o público feminino. Apesar da participação das mulheres na bolsa ter crescido nos últimos anos, representando 25% dos investidores, a maior parte ainda não investe em ações.

Para orientar as investidoras na elaboração de um planejamento financeiro, o Banco Santander promove encontros voltados para as clientes do segmento de alta renda, com o objetivo de trazer orientações sobre investimentos. Neste ano, foram realizados 15 eventos, em diversas regiões do Brasil. O último ocorreu na semana passada, em São Paulo, e reuniu 90 investidoras. “As mulheres são mais conservadoras e cautelosas do que os homens na hora de investir”, diz Sinara Polycarpo, superintendente de investimentos do Santander.

A maior parte das aplicações ainda está concentrada em renda fixa. As mulheres já são a maioria nos fundos de previdência, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e na poupança nos segmentos Van Gogh e Especial do Santander. A maioria dos clientes de alta renda tem perfil moderado, com apenas 10% em ações. “Com a queda da taxa de juros, no entanto, eles terão de abrir mão da liquidez e correr mais risco”, ressalta Sinara.

Na apresentação em São Paulo, além da questão que aflige a maioria dos investidores em bolsa neste momento – o que fazer com as aplicações em ações em um ano que o Ibovespa acumula perda de 15,94% -, surgiu também um questionamento sobre como investir no Tesouro Direto, tema que não foi abordado na palestra.

Concorrentes dos papéis emitidos pelos bancos, os títulos públicos estão disponíveis para pessoas físicas a partir de aplicação mínima de R$ 100, valor que cairá para R$ 30 a partir de janeiro de 2012. Sinara, do Santander, lembra, no entanto, que é preciso ficar atento às taxas de custódia e de corretagem que são cobradas por algumas instituições.

No caso das aplicações em renda fixa, muitos clientes costumam ficar renovando os investimentos em CDBs a cada dois anos, pagando Imposto de Renda de 15% sobre os rendimentos no vencimento dos papéis. É o caso de uma investidora, de 58 anos – que estava presente no encontro do Santander acompanhada de sua mãe, de 85 anos, e de seu pai, de 95 anos – e pediu para não ter o nome citado.

As duas costumavam renovar os investimentos em CDBs, mas com a queda da taxa de juros já começam a olhar para papéis com prazo de carência maior. “Para conseguir taxas melhores, tivemos de abrir mão da liquidez.”

Há um ano, elas também começaram a investir em fundos de crédito privado em busca de retorno diferenciado. Aplicaram também em Letras de Crédito Imobiliário (LCI), que têm como grande vantagem a isenção de IR sobre os rendimentos para as pessoas físicas.

Apesar da idade, a senhora de 85 anos é quem administra sua carteira de investimentos. Há mais de 30 anos, o casal vendeu uma empresa, aplicou uma parte do dinheiro em imóveis comerciais e hoje vive dos rendimentos.

A preferência dos investidores por aplicações atreladas ao CDI, no entanto, tende a mudar em um cenário de queda dos juros e aumento da longevidade da população brasileira.

As mulheres citadas acima são o retrato de uma geração que hoje conta com uma expectativa de vida maior e tem de aprender a administrar seus investimentos para garantir um ganho adicional ao da aposentadoria. No caso da mulher, a expectativa de vida no Brasil é de 77 anos, maior que a dos homens, de 69,4 anos.

As mulheres representavam 49,7% da População Economicamente Ativa (PEA) em 2009. “É a mulher, na maioria das vezes, que cuida da formação da poupança da família e se preocupa em fazer um plano de previdência para os filhos”, afirma Sinara, do Santander.

Diante do potencial desse público, o banco lançou produtos voltados para as investidoras, como o Prev Mulher, que oferece serviços como orientação nutricional e desconto em clínicas de estética. A carteira está acessível para aplicações a partir de R$ 1 mil e aportes adicionais de R$ 200 por mês.

Além do objetivo de formar uma poupança para a aposentadoria, os fundos de previdência também são usados como planejamento sucessório. Isso porque o valor investido não entra no inventário e é repassado diretamente para os herdeiros. Isso permite uma redução do impacto fiscal, além da facilidade de, em vida, alocar a distribuição dos recursos para os beneficiários.

Foi o que fez a aposentada Ilka, que hoje mantém 56% dos investimentos aplicados em fundo de previdência do tipo Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), sem renda variável. “Migrei parte dos recursos para o fundo de previdência há quatro anos por causa da facilidade na transferência de herança.”

A executiva do Santander recomenda a alocação de pelo menos um terço dos investimentos com horizonte de longo prazo em fundos de previdência.

A partir de dez anos, as aplicações em fundos de previdência começam a ficar mais vantajosas que a de fundos de renda fixa e CDBs, por causa do imposto de renda sobre os ganhos, que fica menor, destaca Sinara, do Santander. “É importante definir o objetivo e o prazo para utilização dos recursos e diversificar as aplicações.” Fonte:Valor

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