Divã Executivo:

Meu marido trabalha em uma empresa de logística que recentemente passou por uma reestruturação completa. Agora, ele trabalha em casa, on-line, e quase nunca sai. Somos casados há quase 40 anos e nunca tivemos grandes problemas, mas esta nova situação está atrapalhando nosso convívio. Como não trabalho, tenho tentado arranjar programas e atividades fora, mas essa não parece ser a melhor solução. Como posso resolver isso, já que trabalhar em casa não foi uma escolha dele, mas sim uma determinação da companhia?

Dona de casa, 66 anos

Depois de tantos anos não é fácil aceitar uma mudança tão radical. Nem para você, nem para ele. Mas é muito melhor que ele tenha voltado para casa para trabalhar e não para ficar sem nada para fazer, desempregado ou aposentado. O trabalho é fundamental. A perda do trabalho é uma das piores sensações de perda vividas pelo ser humano. Causa um profundo desequilíbrio e desamparo. O ato de trabalhar é muito mais do que uma relação econômica. O trabalho é fonte de identidade pessoal e o meio de se encontrar e manter a saúde e o equilíbrio.

Outro ponto importante dessa situação é a nova forma de trabalho. Uma das mais maiores mudanças produzidas por esses novos tempos de sociedade do conhecimento é a possibilidade de se poder trabalhar diretamente de casa. Algumas empresas, por razões estratégicas ou para reduzir custos, estão adotando essa prática. Em um futuro próximo, provavelmente, a maioria dos trabalhadores do conhecimento vai atuar sem horário definido e controlado. Seremos todos pagos por trabalho executado e não mais pela quantidade de horas disponibilizadas.

No entanto, essa nova forma de trabalho pressupõe novas competências e organização pessoal. A maioria das pessoas tenta separar suas vidas em duas partes distintas: a vida pessoal e a vida profissional. Essa separação parece significar que o ser humano aplica regras e procedimentos diferentes de acordo com a parte da vida na qual ele se encontra e que não vive sentimentos ou emoções de mesma natureza. Não é verdade. Quando a mistura é obrigatória, as relações familiares tendem a ficar comprometidas. Para poder ter sucesso nesse processo, o profissional e a família precisam criar novas estruturas e hábitos. É preciso existir na casa um local especifico – um quarto, ou mesmo apenas um canto- que esteja configurado e que seja respeitado como local de trabalho. Ninguém entra, ninguém invade.

Outro ponto importante é criar disciplinas domésticas. O profissional precisa estabelecer hábitos e horários; o café da manhã, o banho, vestir-se para o trabalho e ir ao quarto de trabalho, o almoço, a volta. “Trancar-se” e trabalhar. A disciplina é fundamental.

Por outro lado, os familiares devem aprender a respeitar os momentos e locais de trabalho um do outro.

Finalmente, muito importante é o fato de um “cinquentão” passar incólume por uma reestruturação. Os tempos estão mudando. Nos últimos anos a quantidade de seniores que são mantidos ou contratados tem sido cada vez maior. A maior parte não tem vontade de parar e eles têm razão! Não foi um percurso fácil para essa geração sacrificada. Eles viveram crises, inflação e recessão. Tiveram dificuldades de alcançar o topo, porque a geração anterior envelheceu se agarrando ao poder. Os “cinquentões” conhecem bem a casa, as pessoas, as filiais etc. Um profissional nessa faixa de idade, em tese, estará livre de problemas financeiros e familiares, pois os filhos já devem ter partido e constituído novas famílias. Enfim, depois de quarenta anos, aproveitem diva.executivo@valor.com.br

Fonte: Valor


Write A Comment

Bitnami