Uma sigla de quatro letras tornou-se sinônimo de venda certa nas lojas de Paris. São os turistas dos países do Bric: Brasil, Rússia, Índia e China. Eles impulsionam o varejo em meio ao desalento eiorpeu causado pela crise econômica. No caso do Brasil, os números impressionam: o volume de compras “tax free” (isento de imposto ao consumidor) feitas pelos turistas brasileiros cresceu quase 60% entre janeiro e maio deste ano, em relação a igual período de 2009, disse ao Valor Jean-Marc Leroy, diretor-geral da Global Blue França.
Esse número é bem superior ao aumento registrado em relação às compras de turistas chineses e russos em Paris, que foi de 10% entre janeiro e maio deste ano. O faturamento obtido com os indianos cresceu 5,7% nesse período, segundo a Global Blue, antiga Global Refund, que afirma ser líder mundial do setor de serviços financeiros “tax free” para turistas. O resultado do primeiro semestre ainda não foi fechado, mas Leroy estima que o faturamento gerado pelos brasileiros deverá crescer além de 60%.
Eles preferem artigos de moda, óculos, equipamentos e roupas de esporte, que representam, em geral, 88% das transações. Relógios e acessórios de couro, como bolsas, vêm registrando crescimento e totalizam 4% dos gastos. Em 2009, os brasileiros haviam feito um pouco menos de compras em Paris – a queda foi de 1,5%.
No total, as compras em Paris feitas por turistas do Bric aumentaram 24,7% nos primeiros cinco meses deste ano, enquanto os gastos dos visitantes do resto do mundo cresceram abaixo de 10%. Os japoneses, por exemplo, gastaram 20% menos no período.
Os números não incluem as compras realizadas por turistas da União Europeia, que não podem se beneficiar da “tax free” e não entram nos cálculos da Global Blue. “Acredito que em razão da crise muitos visitantes do Bric cancelaram ou adiaram suas viagens no ano passado e vieram à França neste ano”, diz Leroy.
No ano passado, os 600 mil chineses que visitaram a França já haviam assumido a liderança dos turistas que mais gastam no país (€ 158 milhões, o equivalente a 15% das compras “tax free”), à frente dos russos (€ 111 milhões), japoneses (€ 100 milhões), americanos e, no quinto lugar, dos brasileiros, com gastos de € 35 milhões.
Devido ao aumento importante, de 60%, no volume de compras dos brasileiros no primeiro semestre, Leroy estima que o Brasil poderá ocupar em 2010 o quarto lugar no ranking da Global Blue, enquanto os russos, cujos gastos médios em cada compra vêm registrando queda de 3% neste ano, poderiam cair para a quinta posição.
Em 2009, os brasileiros gastaram, em média, € 716 em compras em Paris, valor que se mantém estável em 2010. É menos do que os € 1.140 gastos, em média, pelos chineses em 2009 em Paris, montante que, neste ano, já cresceu 19%.
A loja de departamentos Galeries Lafayette confirmou ao Valor que o volume de compras dos brasileiros cresce em 2010, mas não revelou números.
O crescimento dos gastos dos turistas do Bric também repercute na hotelaria parisiense. No elegante hotel Hotel Castille, na rue Cambon (o tradicional endereço da grife de moda Chanel), o número de brasileiros dobrou nos últimos dois anos e já representa 8% do total, diz Loïc Le Berre, diretor-geral do hotel. “Nenhuma outra clientela cresceu tanto nesse período”, diz ele, que prevê contratar funcionários brasileiros para facilitar o contato com os clientes.
O segundo semestre começa positivo para os lojistas parisienses: a cidade, neste mês de julho, em plena época de liquidações, está lotada de brasileiros querendo fazer compras, muitos deles em butiques de luxo.
Fonte: Valor