O mercado não está uma beleza este ano, mas dificilmente existe um setor que esteja sofrendo mais que o de construção. Os papéis dessas companhias caem, em média, entre 20% e 25%, uma senhora perda. Esse movimento é resultado de uma combinação de fatores: temor de aumento nas taxas de financiamento com o processo de aperto monetário, quedas nas vendas e, mais recentemente, o corte de R$ 5 bilhões na segunda fase do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas, para o analista da Banif Corretora, Flávio Conde, os investidores estão com percepções exageradas de todos esses fatores e, consequentemente, do impacto sobre as construtoras.

“Apesar do exagero na queda, os investidores só vão voltar para os papéis de construtoras de forma consistente quando enxergarem que a inflação parou de subir e que, portanto, os juros também poderão parar de subir”, diz Conde. Ele acredita que isso deve ocorrer apenas no terceiro trimestre. Até lá, os papéis têm tudo para continuar altamente voláteis, como já vem ocorrendo. Num dia caem 4%, 5% e, no seguinte, sobem esse percentual.

Os investidores estrangeiros, especialmente os fundos hedge, segundo o analista da Banif, são os grandes vendedores das ações. Eles venderam com base no histórico de comportamento dessas companhias em outros países. “No resto do mundo, elas sofrem muito em processos de elevação da taxa de juros, só que no Brasil é diferente”, diz Conde.

Aqui, os financiamentos se baseiam na Taxa Referencial (TR), que sobe marginalmente com o aumento da Selic. Segundo Conde, alguns estudos mostram que, a cada elevação de um ponto percentual na taxa básica de juros, a TR sobe menos de 0,20 ponto percentual, ou seja, um impacto marginal.

As pessoas de média e alta renda são mais sensíveis a juros e, portanto, uma parte delas pode até adiar a compra do imóvel. De qualquer forma, as vendas continuam fortes nesses segmentos, afirma Conde. Já a baixa renda é indiferente à taxa de juros e sensível apenas à oferta de crédito que, segundo o analista, permanece intacta.

Selic e corte de recursos aumentam percepção de risco

A reação ao corte de R$ 5 bilhões no programa Minha Casa, Minha Vida também parece exagerada. Muitas vezes, o governo corta exatamente aquela quantia que ele sabe que não haverá condições de ser implementada. “Este pode ser o caso desse corte no programa habitacional, mas o investidor é racional e, quando vê riscos, prefere sair das ações, mesmo que esses riscos mais tarde não se concretizem”, explica Conde.

Múltiplos como o preço em relação ao lucro (P/L, que dá uma ideia de quanto anos pode demorar para o investidor ter de volta o quanto aplicou) também mostram como as construtoras caíram. O P/L médio do setor está em 10 vezes, a metade do que estava em meados de 2007.

Ontem, o Ibovespa subiu 1,57%, para 67.281 pontos, com destaque para algumas construtoras. As ordinárias (ON, com direito a voto) da Rossi Residencial subiram 4,87% e as ON da Brookfield, 4,02%.
Fonte: Valor

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