O investidor de varejo de longo prazo que busca uma opção de ganhos mais elevados no universo da renda fixa deve prestar atenção à nova oferta de debêntures (títulos de dívida) da BNDES Participações (BNDESPar), o braço de investimentos do BNDES.
Dividida em três séries com modelos de rentabilidade distintos, as debêntures devem render mais que os fundos de renda fixa dos bancos de varejo e até mesmo que os títulos públicos comprados por meio do Tesouro Direito. “As debêntures do BNDES são uma opção interessante porque têm risco semelhante ao do papel público, mas com um ganho adicional”, afirma Rodrigo Menon, sócio da Beta Independent, ressaltando que, como o BNDES é um banco público, o Tesouro Nacional garante, na prática, o pagamento das debêntures.
A oferta será de 2 milhões de debêntures com valor de R$ 1 mil cada uma, o equivalente a R$ 2 bilhões (35% reservado para o varejo). A pessoa física interessada em participar tem até o dia 3 de abril para fazer seu pedido de compra das debêntures. Para o investidor de varejo, a aplicação mínima é de R$ 1 mil (o equivalente a uma debênture) e a máxima, de R$ 500 mil (500 debêntures).
A pessoa física pode optar por três tipos de remuneração, de acordo com séries definidas na oferta. A primeira série terá uma rentabilidade prefixada equivalente ao contrato futuro do Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2017 (hoje por volta de 10,80%) mais um ganho adicional de, no máximo, 0,70%.
A segunda série será pós-fixada (ou flutuante), com rentabilidade definida a cada três meses a partir da taxa de juros de referência trimestral (TJ3) divulgada pela BM&FBovespa. Essa taxa reflete as condições do mercado de juros futuros, ou seja, é baseada no contrato futuro de DI. Além da TJ3, o investidor receberá uma sobretaxa, também de no máximo 0,70%. A rentabilidade da terceira série será baseada na taxa da NTN-B (título público que paga a variação do IPCA mais juros) de 2020, além da sobretaxa máxima de 0,70%. A NTN-B com vencimento em 2020 remunera hoje o investidor com uma taxa anual de 4,92% mais a variação do IPCA.
Nas três séries, o ganho adicional (ou sobretaxa) será definido durante o processo de coleta de propostas de compra – “bookbuilding”, no jargão do mercado – realizadas pelos investidores institucionais, como fundos de investimento, seguradoras e entidades de previdência privada.
Menon, da Beta Independent, acredita que a procura pelos títulos deve ser grande. Com muita gente querendo comprar, provavelmente a sobretaxa vai ficar abaixo dos 0,70% estipulados como nível máximo. “Acredito que algo em torno de 0,35%, ainda assim um bom prêmio”, afirma.
No momento da reserva, o investidor pode definir a sobretaxa mínima que aceita para comprar a debênture. Por exemplo, o investidor assinala taxa de 0,45%. Se durante o “bookbuilding” for definida taxa de 0,40%, ele automaticamente não participará da oferta. Outra possibilidade é assinalar, durante o pedido de reserva, a opção “à taxa de mercado”. Isso significa que o investidor aceita comprar a debênture seja qual for a sobretaxa definida no “bookbuilding”.
Entre as três séries, Menon vê como mais atraentes a prefixada e a atrelada à inflação. No primeiro caso, o investidor deve conseguir uma taxa alta, já que a perspectiva é de que os juros recuem ainda mais do que o previsto no DI para 2017. Com a terceira série, é possível fixar, graças à sobretaxa, um ganho real (descontada a inflação) superior ao obtido no Tesouro Direto. “O ideal é comprar um pouco de cada uma dessas séries, garantindo um mix de taxa prefixada alta e proteção contra a inflação”, diz Menon, que vê poucas oportunidades de ganhos adicionais na série flutuante. “Como os juros tendem a ser menores, a rentabilidade, embora acima do CDI por causa do prêmio, deve recuar com o tempo”.
Embora considere o investimento nas debêntures atraente, Menon ressalta que o investidor deve considerar seus objetivos e a composição atual de sua carteira de investimentos antes de participar da oferta. De modo geral, o investidor não deve colocar mais de 10% ou 20% de suas aplicações de longo prazo nessas debêntures.
Além das diferentes rentabilidades, é preciso ficar atento ao custo representado pela a taxa de custódia das debêntures – R$ 6,90 a cada seis meses (R$ 13,80 ao ano). “Com essa taxa, para o investimento se tornar atraente é preciso que o investidor aplique pelo menos R$ 10 mil”, afirma Menon.
Quem já possui ações ou outros títulos custodiados na BM&FBovespa (sem contar títulos públicos comprados pelo Tesouro Direto) não paga taxa de custódia. É claro que, nesse caso, é possível aplicar valores inferiores a R$ 10 mil sem complementar a rentabilidade.
Outro aspecto relevante é o prazo. As debêntures das séries com juros prefixados e taxa flutuante vencem em julho de 2016, quando o investidor receberá de volta o capital aplicado mais os juros. Já os títulos atrelados à inflação vencem em 15 de maio de 2019, com pagamento anuais de juros em 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018. No vencimento, em 2019, o investidor recebe o valor aplicado mais a sexta parcela de juros.
Quem quiser se desfazer da aplicação antes do vencimento tem como alternativa vender os papéis no mercado secundário de debêntures na BM&FBovespa (BovespaFix) e na Cetip (CetipNET). Como não há muito negócios, o comprador vai exigir um desconto (deságio, no jargão do mercado) sobre o valor do título. Por exemplo, uma debênture no valor de R$ 1 mil poderá ser negociada por R$ 990. “E com esse deságio o investidor perde todo o rendimento”, afirma o economista Luiz Gustavo Medina, especialista em aconselhamento financeiro. “Não acho que valha a pena manter o dinheiro preso tanto tempo pelo prêmio oferecido”, diz ele. “Desconfio da capacidade do brasileiro de se planejar para o longo prazo, acho que a maioria vai querer vender [as debêntures] antes do vencimento e vai acabar perdendo dinheiro”. Fonte:Valor