A um trimestre do fim do ano, os aportes em fundos DI superam os saques em R$ 24,1 bilhões. A captação destoa em relação ao histórico. Ao longo de todo o ano passado, ela foi de apenas R$ 6,4 bilhões, depois de seis anos consecutivos de resgates. Em 2013, entraram recursos nos fundos DI em seis dos nove meses. Só em setembro, a captação líquida foi de R$ 5,8 bilhões. O saldo entre aportes e resgates é o maior para o período de janeiro a setembro considerados os dados para uma janela de dez anos levantados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) a pedido do Valor.
Um olhar para a rentabilidade ajuda a entender os movimentos em 2013 do investidor, ainda muito atento ao curto prazo. Os fundos DI, os que mais captam no ano, têm ganho de 5,79% até setembro. Eles fazem parte de um seleto grupo de cinco dentre 21 tipos de fundos que batem o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), em 5,62% no período. Já os fundos de inflação – os mais rentáveis no ano passado – perdem 3,54% em 2013 até setembro e estão entre as carteiras com resgates, assim como alguns tipos de fundos de ações e multimercados.
Os fortes aportes nos fundos DI põem em xeque um discurso, crescente em 2012, de que o investidor estava mais maduro, mais atento a alternativas de investimento e mais afeito à volatilidade. Essa ideia foi reforçada pela atenção dada a produtos diferenciados, como fundos imobiliários, diz Carlos Massaru Takahashi, vice-presidente da Anbima. Parte do movimento se reverteu neste ano. “A conclusão a que se chega é que o investidor estava buscando ativos diversificados de forma oportunista e não planejada”, afirma Takahashi, que aponta esse como um dos grandes aprendizados que 2013 deve deixar à indústria. “A falta de planejamento é o que faz o investidor ter movimentos erráticos, entrando na alta e saindo na baixa e cristalizando prejuízos”, completa.
Diante da volatilidade dos mercados em 2013, os investimentos que avançaram foram os mais óbvios e corriqueiros, aponta Takahashi, também diretor-presidente da BB DTVM. “A indústria de fundos tem que se reinventar e principalmente se tornar mais amigável”, afirma. Para a pessoa física, considera, é preciso pensar em fundos de baixa volatilidade e maior liquidez, com custos baixos, que possam atrair tanto interesse quanto a poupança, por exemplo.
Takahashi destaca que, além do movimento das pessoas físicas, houve aportes do setor público – federal, estados e municípios – nos fundos DI. Isso porque muitos precisam obedecer a regras de liquidez e volatilidade.
O fato é que o avanço da taxa básica – de 1,75 ponto percentual para 9% ao ano – favoreceu o retorno dos fundos DI. “O juro interno subindo acaba incentivando as pessoas a terem uma postura conservadora”, consideram Renato Cohn e Rogério Pessoa, chefes da área de wealth management do BTG Pactual.
Enquanto os DIs se tornavam um pouco mais atraentes, outros tipos de investimento sofriam com a volatilidade, principalmente a partir do segundo trimestre. A expectativa de juros mais altos no Brasil machucou alguns investidores de fundos e títulos prefixados e indexados à inflação, lembra Pessoa. “Claro que o investidor se retrai um pouco diante desse cenário. Mas a volatilidade traz algumas oportunidades para quem tem um pouco de paciência e não olha somente o dia a dia”, afirma. Ele lembra que, em 2009, o banco fez um esforço para não deixar que os clientes que tinham sofrido perdas com a crise “jogassem a toalha”. “E, para os que ficaram, isso se provou bom”, diz Pessoa.
Cohn sugere que, em vez de focar o curto prazo, o investidor olhe janelas móveis maiores, como os últimos 12, 18 ou 24 meses, para melhor avaliar a consistência dos resultados. Ele vê como boas opções fundos que têm uma maior diversidade regional e de classes de ativos e que, assim, acabam balanceando os riscos. “Faz sentido ter uma parcela de investimentos no exterior. Para quem não tinha nada, talvez seja hora de ter 10%, se tinha 10%, de ter 20% e assim por diante”, diz Cohn, ressalvando que ainda há oportunidades em ativos brasileiros.
Marcelo Mendes, gestor de renda fixa da BBM Investimentos, também aponta os fundos multimercados como o tipo de carteira que poderia lidar melhor com um cenário como o atual, já que os gestores têm liberdade de mudar rapidamente de apostas contra e a favor de juros, dólar e bolsa. O foco, entretanto, tem que ser mesmo o longo prazo. O desempenho recente não anima. Os multimercados macro, que apostam em uma tendência para os ativos, ganham 4,62% no ano e perdem na média 0,36% no mês.
Muitos multimercados apostavam na alta do dólar e tiveram perdas com a desvalorização recente da moeda, resultante da decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de adiar a retirada de estímulos à economia. Não houve, entretanto, mudanças de tendência, considera Mendes. “Meu cenário principal é que vai ter subida do dólar no médio prazo”, diz. Ele lamenta, entretanto, que o investidor esteja mais atento ao desempenho recente. “O investidor ainda é muito pró-cíclico”, diz.
Sandra Blanco, consultora da butique de investimentos Órama, concorda. “O investidor não aceita variações negativas, mesmo que o investimento seja para longo prazo. Ainda falta educação”, diz. Ela lembra, entretanto, que, com a alta de juros, os fundos DI realmente se tornaram mais atraentes do que outras opções de curto prazo, como a poupança, desde que tenham taxa de administração inferior a 1%.
Já para o investidor que não tem pressa para usar os recursos, Sandra indica reavaliar a opção. “O fundo DI é para o dinheiro de curto prazo ou para investidores ultraconservadores. Essa cultura tem que ser expandida”, defende.
Fonte: Valor