Em épocas de grande volatilidade no mercado, os fundos de índice, conhecidos como Exchange Traded Funds (ETFs, na sigla em inglês) têm ganhado atratividade, com os investidores privilegiando mais a liquidez do que o fundamento das empresas.

Em agosto, o número de negócios registrados pelos ETFs listados na BM&FBovespa cresceu 146,3% em relação a julho. Foram 78.809 transações, que somaram R$ 1,4 bilhão, ante R$ 667,75 milhões movimentados no mês anterior.

Os ETFs são fundos de índice cujas cotas são compradas e vendidas em bolsa, como ocorre com as ações. Eles reproduzem as carteiras dos índices acionários e sua rentabilidade segue o desempenho desses referenciais. Nos últimos dias, esses ativos, principalmente o ETF iShares Bova11 – fundo gerido pela BlackRock e que replica a carteira teórica do Ibovespa -, têm sido usados para montar ou sair de uma posição em bolsa.

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Só no dia 8 de agosto, por exemplo, quando o Ibovespa chegou a cair 9,74% na mínima do dia, o Bova11 apresentou volume recorde de negociação de R$ 201 milhões. Para se ter ideia, a média de negociação diária no mês anterior havia sido de R$ 27,3 milhões. Foram negociados mais de 4 milhões de cotas, sete vezes a média diária dos últimos 30 pregões. Entre 8 e 10 de agosto, o volume médio aumentou quase 50% comparado à média dos 20 dias anteriores, e o Bova11 foi o 15º ativo mais líquido na BM&FBovespa.

O mesmo ocorreu no mercado americano. O volume médio diário negociado nos Estados Unidos em ETFs aumentou 83% em agosto em relação a julho. Entre os dias 4 e 9 de agosto, os ETFs representaram 40% das negociações na bolsa americana, quando geralmente a fatia é de 25% a 35% ao longo do ano. O volume atual é similar ao negociado em outubro de 2008, durante o período mais crítico da crise financeira no país.

Os ETFs costumam ser utilizados como uma ferramenta de alocação eficiente durante épocas voláteis, afirma Diego Mora, chefe de relacionamento com o segmento institucional da BlackRock. Isso já ocorreu em 2001 e 2008 no mercado americano e está sendo testado no Brasil. Atualmente existem oito ETFs listados na bolsa brasileira, sendo seis geridos pela BlackRock e dois pelo Itaú Unibanco.

Neste ano, os ETFs listados na BM&FBovespa têm negociado, em média, R$ 40,5 milhões por dia – um aumento de 42% ante a média verificada em 2010.

Esses fundos são utilizados pelos investidores para montar posições direcionais, seja apostando na queda ou na alta da bolsa. Em momentos de perda generalizada no mercado acionário, por exemplo, muitos investidores têm dificuldade para analisar cada ação e acabam optando por vender a cota do ETF atrelado ao principal índice da bolsa, como o Bova11 por exemplo, ao mesmo tempo em que outros aproveitam os preços descontados dos papéis para comprar, diz Mora.

Além disso, muitos investidores têm utilizado o Bova11 para montar estratégias de proteção para suas carteiras de ações. Esse ETF oferece duas vantagens em relação ao contrato de Ibovespa futuro para a estruturação de operações de hedge. A primeira é não ter ajuste diário. A segunda é que os investidores que não querem vender as ações em carteira podem oferecê-las como garantia e, em seguida, alugar as cotas do Bova11 e vendê-las posteriormente no mercado, explica Hugo Azevedo, superintendente da corretora do Santander, que presta serviço de formador de mercado para os iShares, da BlackRock.

A corretora tem oferecido operações automatizadas de hedge para clientes com aplicações a partir de R$ 5 mil. “Das 17 operações de long/short – compra e venda simultânea de ativos – que realizamos desde 1 de junho, nove delas envolveram o Bova11, sendo sete atreladas a posições vendidas (aposta na queda da bolsa)”, afirma Azevedo.

Para facilitar a elaboração de operações estruturadas – que são utilizados principalmente na criação de fundos de capital protegido – com cotas de ETFs, a bolsa deve lançar opções flexíveis desses ativos, que serão negociadas no mercado de balcão. Esses contratos dão o direito de comprar ou vender um ativo a preço determinado em uma data futura.

Mora, da BlackRock lembra que a liquidez dos ETFs não está condicionada ao seu volume histórico de negociação, mas à liquidez dos ativos em carteira. Isso explica, por exemplo, porque o Bova11 é o mais negociado, representando 95,5% do número de transações registradas em ETFs no mês de agosto, com giro médio diário em 2011 de R$ 35 milhões. Em seguida aparecem o Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB) – primeiro ETF negociado no mercado brasileiro, que replica o índice IBrX-50 -, com média diária de negociação de R$ 2,669 milhões.

Dos novos fundos de índices, destaque ainda para os ETFs Smal11, que replicam o índice Small Cap (que reúne as ações de menor liquidez e capitalização de mercado), com volume de negócios R$ 858 mil, e o Mobi 11, atrelado ao Índice Imobiliário (IMOB), com R$ 558,3 mil.

No caso desses últimos, lembra Mora, da BlackRock, apesar de as ações que compõem o fundo apresentarem menor liquidez, eles podem ser utilizados para posicionamentos estratégicos.

Todos os ETFs contam com formador de mercado, que compram e vendem cotas garantindo um preço justo para os ativos. Nos próximos meses, mais seis ETFs devem começar a ser negociados na BM&FBovespa.

O Itaú Unibanco, por exemplo, ganhou a concorrência para oferecer quatro fundos, que têm como referência os índices de Dividendos (IDIV), de Materiais Básicos (IMAT), de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e outro ligado ao IGCT (variação do Índice de Governança Corporativa (IGC) com ações com maior liquidez. Já a BlackRock ganhou a licitação para oferecer um ETF atrelado ao Índice de Utilidade Pública (UTIL), que reúne as empresas prestadoras de serviços públicos.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que participou da criação do Índice Carbono Eficiente (ICO2), também lançará um ETF ligado a esse índice, que será gerido pela BlackRock. O indicador é composto pelas ações das companhias participantes do índice IBrX-50 que aceitaram adotar práticas transparentes com relação às emissões de gases do efeito estufa (GEE).

A bolsa ainda aguarda a autorização da Comissão de valores Mobiliários (CVM) – que está analisando a alteração da Instrução 359, que regula os ETFs – para oferecer fundos de índices estrangeiros. “Esse mercado é muito novo no Brasil e, aos poucos, os demais índices devem ganhar liquidez”, diz Julio Ziegelman, diretor de renda variável da BM&FBovespa.

Hoje, os ETFs representam 0,6% do volume transacionado na bolsa brasileira. Esses ativos estão entre os mais negociados nos demais mercados acionários no exterior. No México, por exemplo, o iShares Naftrac ETF fund foi o ativo mais líquido da Bolsa Mexicana. O iShares Colcap – da BlackRock, índice composto pelas 20 ações mais transacionadas da Bolsa da Colômbia, lançado há cerca de um mês – já captou mais de US$ 330 milhões e, ficou entre os cinco ativos mais negociados lá.
Fonte: Valor

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