O otimismo com relação ao Índice Bovespa visto no início deste ano vem dando lugar a um verdadeiro teste de perseverança. Faltando poucos dias para o fim do primeiro semestre do ano, o Ibovespa acumula queda de 11,37% até ontem. A paciência, no entanto, é o nome do jogo quando se trata de renda variável e o investidor pode começar a comprar agora que o preços caíram. A ideia é estar posicionado justamente para quando a bolsa começar a subir.
Ainda que a grande maioria dos analistas indique ações de empresas voltadas à economia doméstica como estratégia de investimento na bolsa neste momento, as oportunidades também podem estar nos papéis de companhias produtoras de matérias-primas. “Se o investidor tem visão de longo prazo, é paciente e acredita no crescimento chinês, mesmo para as produtoras de commodities, como Petrobras e Vale, o momento é de compra”, afirma Mauricio Pedrosa, sócio da Queluz Asset Management.
As ações de empresas produtoras de matérias-primas têm sido deixadas de lado entre as recomendações dos analistas por conta das dúvidas com relação ao desaquecimento da economia americana e, por tabela, do crescimento global. A cotação das commodities também tem oscilado muito lá fora por conta da China, que tenta conter a escalada da inflação e ainda não é possível mensurar se a desaceleração do PIB chinês será gradual ou ocorrerá de maneira brusca.
Mas, ainda assim, a carência de petróleo é grande e a China vem adicionando milhões de veículos a sua frota, o que contribui para uma visão otimista para os papéis da Petrobras e da Vale no longo prazo, avalia Pedrosa. Entre os segmentos ligados ao crescimento doméstico, o executivo cita seguros, varejo e construção.
Para quem tem visão de longo prazo, o momento é bom para comprar ações gradualmente, diz Francisco Costa, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Capital Investimentos. Quem já mantém aplicações em bolsa deve ter a mesma visão do investidor que está pensando em começar a alocar parte de seu capital em ações, avalia. Ele lembra que há uma certa desconexão entre a bolsa e os fundamentos macro e microeconômicos. “A economia brasileira cresce, o lucro das empresas vem aumentando, mas ainda assim isso não se reflete numa alta do Índice Bovespa.”
Apostar em empresas mais voltadas ao crescimento do mercado doméstico é uma estratégia interessante para que o investidor fique mais protegido das oscilações das commodities lá fora e do desempenho da economia internacional, avalia Costa. Para ele, ações dos setores de construção, serviços e bancos aparecem entre as oportunidades. Os papéis de empresas boas pagadoras de dividendos, considerados mais defensivos, podem proteger o investidor de fortes oscilações, afirma o executivo.
O setor bancário está barato, mas ainda assim ele não anda, pois o investidor estrangeiro coloca os bancos europeus, americanos e brasileiro numa mesma cesta, diz Bruno Lembi, sócio da M2 Investimentos. “Eles não entendem que, por aqui, os controles são mais severos”, afirma. As medidas adotadas pelo governo para conter a escalada da inflação reduzindo o crédito contribuem para o fraco desempenho das ações de bancos no ano.
Observando-se pelo lado dos múltiplos, a bolsa brasileira se mostra atraente, avalia Lembi. Múltiplos são indicadores que mostram se um papel está caro ou barato. Pelo índice Preço/Lucro (P/L, que dá uma ideia do prazo para o investidor obter retorno com a ação), o Ibovespa está com um múltiplo de 9,5 vezes. Quanto menor esse número, melhor. Para se ter ideia, o mesmo índice para a bolsa chinesa é de 16 vezes e, dos EUA, de 15 vezes.
O investidor que já está na bolsa deve permanecer e olhar com atenção as ações de empresas atreladas ao mercado interno, avalia Rafael Espinoso, estrategista de renda variável da CM Capital Markets. “Mesmo baratos, é bom esquecer um pouco os papéis ligados a commodities e voltar-se mais a consumo, bancos, saúde e educação”, afirma.
Apesar de o Ibovespa acumular queda expressiva nesta primeira metade do ano, Espinoso avalia que ainda há chance para uma recuperação, o que deve garantir que a bolsa brasileira feche o ano levemente abaixo do nível de 2010.
Com tantas incertezas no cenário internacional, a possibilidade de uma recuperação do mercado no curto prazo não parece algo tão garantido, acredita Fernando Tendolini, superintendente de longo prazo da SulAmérica Investimentos. “Nada garante que a bolsa não cairá mais”, diz ele.
Já para o longo prazo, ele acredita que, com o Ibovespa em 61 mil pontos, esta é a hora de o investidor comprar ações de empresas interessantes e a preços convidativos, acredita Tendolini.
Ele lembra que existem empresas de menor porte e que caíram muito na bolsa. “Empresas como Providência, Rodobens, Helbor e Trisul valem hoje menos de R$ 500 milhões no pregão”, cita Tendolini.
Já as ações mais líquidas (as “blue chips”), na opinião dele, devem continuar apanhando com as variáveis internacionais. (Colaborou Beatriz Cutait)