Favorecida por uma onda de quedas nos preços dos alimentos in natura, tanto no atacado quanto no varejo, a inflação desacelerou em julho para 0,24% na segunda prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), divulgada ontem. No mesmo período de junho, o indicador marcou 0,74%. Os preços dos alimentos, no entanto, devem voltar a subir – e a preocupar-, disse o superintendente adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros. Para a segunda prévia do índice, que serve de referência para o reajuste de contratos, como os de aluguel, a FGV monitorou preços entre os dias 21 de junho e 10 de julho.
Em julho, atacado, varejo e construção civil apresentaram taxas menores de inflação sobre junho. Entre os componentes do IGP-M, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) – que tem peso de 60% nos IGPs – subiu 0,24% na segunda prévia de julho, ante 0,60% um mês antes; o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,01%, ante 0,38%; e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) teve variação de 0,78%, ante 2,41%.
No entanto, Quadros considerou que a influência preponderante na taxa menor da segunda prévia foi a dos alimentos in natura, que no atacado saíram de queda de 0,31% para recuo de 6,18% de junho a julho. Somente o tomate registrou deflação de 43,5% na segunda prévia, contra recuo de 19% em junho, disse o técnico. “Esse movimento dos in natura acabou contribuindo para a deflação dos alimentos no varejo (- 0,43%) na segunda prévia”, afirmou.
Houve no período, no entanto, um fortalecimento na inflação das matérias-primas brutas agropecuárias no atacado, que saltou de 1,25% para 1,63% da segunda prévia de junho para igual prévia em julho. Isso porque itens de peso na formação do indicador, com cadeia expressiva de derivados no varejo, estão subindo de preço. É o caso de aves (1,27%) e trigo (9,88%). O especialista voltou a falar que os preços dos alimentos, no varejo, devem voltar a subir entre agosto e setembro – reflexo das elevações atuais de suas matérias-primas no atacado.
Quadros reiterou ainda o fortalecimento da influência do câmbio na inflação. Com o dólar alto, sobem também preços de itens importados e daqueles que acompanham a evolução da moeda norte-americana – commodities, por exemplo. Na segunda prévia, a alta dos preços dos materiais para manufatura, que são insumos para a indústria e contam com forte presença de commodities industriais, acelerou de 1,15% para 1,44% entre junho e julho.
Para o especialista, o cenário atual deve levar a uma inflação em 2013 dentro do limite da meta perseguida pelo Banco Central, cujo teto é 6,5% – assim como disse na quarta-feira presidente Dilma Rousseff. No entanto, considerou que o foco deveria ser pensar em como voltar para o centro da meta, de 4,5% – algo cada vez mais longínquo, na visão do técnico. “Só nos aproximamos do centro da meta em 2009, o ano da crise global, em momento de contexto atípico”, lembrou. “Creio que só conseguiremos novamente se algo mudar muito bruscamente no cenário internacional”, avaliou.Fonte:Valor