Os indicadores de inflação e o ambiente de menor aversão ao risco resultaram em um pregão de baixa para os contratos de juros futuros.

Mas tal movimento ficou restrito aos contratos de prazo mais dilatado.

Os Depósitos Interfinanceiros (DIs) de curto prazo seguem apontando ao menos duas elevações de 0,25 ponto percentual na Selic, indicando que boa parcela do mercado não acredita que o plano de voo do Comitê de Política Monetária (Copom) possa ser alterado por indicadores e curto prazo.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, que marcou 0,47%, e o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), de 0,01%, reforçaram as apostas de preços ainda menores nos próximos dois ou três meses.

O sócio da Platina Investimentos, Marco Franklin, aponta que há chance bastante razoável de observarmos IGP-M com variação negativa agora em junho, assim como IPCA.

No caso do IGP-M, o viés de baixa é garantido pelo IPA Agrícola, que deve continuar mostrando variação negativa. E no caso dos preços industriais está contratada menor pressão do minério de ferro e há, também, uma queda do etanol.

Dando força a essa expectativas estão a coletas de preço ao consumidor que estão entre a estabilidade e o território negativo. “E o IPCA pode seguir o mesmo caminho.”

Ainda de acordo com Franklin, essa melhora contratada para a inflação não deve mudar a visão do Banco Central (BC) nem seu plano de voo que aparentemente conta com mais duas altas de 0,25 ponto percentual na Selic.

Segundo o economista-chefe da gestora Western Asset, Adauto Lima, como o resultado do encontro de hoje do Copom está dado, a expectativa se concentra, primeiramente, na redação do comunicado.

O que todos querem saber é se a expressão “suficientemente prolongado” continuará lá, quando o BC falar do ajuste das condições monetárias.

Se essas duas palavras saírem de cena, a ideia de mais uma elevação da Selic em julho perde muita força.

O cenário base de Lima é de duas elevações de 0,25 ponto. Mas o economista acredita que se a intenção do BC é mesmo trazer o IPCA para o centro da meta em 2012, o aperto de juros teria de ir além desse meio ponto, que levaria a Selic para 12,50% ao ano.

Para o especialista, há um componente nítido de demanda na formação da inflação e isso requer um esforço maior do governo e da autoridade monetária para reverter o processo de alta.

“Há uma série de eventos que não facilitam a tarefa em 2012”, diz Lima, apontando para a inércia da inflação de serviços, reajuste de 15% no salário mínimo e preços administrados ainda elevados.

Pelo lado fiscal, o resultado do começo do ano é muito bom, mas a questão, diz o economista, é como manter esse comprometimento ao longo do ano, conforme a arrecadação cai, e em 2012, que é um ano de eleições municipais.

Segundo Lima, o processo de formação de preços está muito mais complexo. Então, o combate tem de mostrar persistência para conter uma inflação relacionada a salários e serviços.

Ainda de acordo com o economista, a banda de dois pontos percentuais da meta de inflação foi feita para absorver choques. “Não dá para viver dentro da parte superior da banda”, conclui.

Enquanto aguardam a decisão do Copom, os agentes lidam com a saída de Antonio Palocci da Casa Civil, primeiro homem a tombar dentro do governo Dilma Rousseff.

Depois de 24 dias do descobrimento de um aumento patrimonial de 20 vezes em quatro anos, Palocci entregou carta à presidente solicitando o seu afastamento do governo. Quem assume é a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Agentes de mercado não descartam algum “estresse” no preço dos ativos, principalmente na abertura do pregão.

Mas esse movimento seria mais especulativo do que por uma preocupação fundamental com a saída do ministro.

Para dois operadores que preferiram não se identificar, a ordem é: se os juros futuros subirem, somos vendedores.

 

“Não enxergava nele figura de tamanha ingerência no mercado financeiro. Creio que superestimaram a função dele dentro do governo como fiador da política econômica. Fora isso, ele já estava sem moral para bater de frente com o Congresso ou outras alas do próprio governo”, diz um deles.

Essa é a segunda vez que Palocci cai de cargo de alta relevância. Em 27 de março de 2006 ele deixou de ser ministro da Fazenda. Na época sua permanência ficou insustentável em função da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa.

Fonte: Valor

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