Com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) mais alto para as operações de crédito à pessoa física, de 3%, o governo enfatizou a intenção de frear o consumo sem, contudo, mexer com a disposição de recursos para investimentos. De fato, esse novo aperto traz um ingrediente extra para bancos redirecionarem a oferta para os portfólios de pessoa jurídica. Só que, como o quadro geral é mais restritivo, até mesmo o ritmo de concessões para empresas deve ter algum freio.

Na sondagem de março da Federação Brasileira de Bancos (Febaban), as perspectivas eram de expansão maior para algumas linhas de pessoa física, caso do crédito pessoal e do consignado, com 18,3%, enquanto para veículos a expectativa era de um acréscimo de 16,2%. Para empresas, a média das estimativas apontava para um aumento de 16,6%.

Agora, a percepção do economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg, é de que tais projeções caiam na próxima enquete, com um peso maior sobre os portfólios de consumo. No conjunto, considerando-se também os recursos direcionados, a tendência é de que os números convirjam para os 15% almejados pelo Banco Central (BC), ante o ritmo atual que, em 12 meses, ainda exibe crescimento na casa dos 20%. O pé no freio também vem pela expectativa de inadimplência sensivelmente maior.

“Do ponto de vista da instituição financeira, um crescimento menor de carteira significa um custo unitário mais alto (por operação) e isso implica risco maior mais à frente, nada sério do ponto de vista da solvência, mas há um aumento potencial da inadimplência”, diz Sardenberg.

No preço final das operações, o efeito financeiro do IOF é marginal, mas dependendo de como o governo manejar os sucessivos ajustes no crédito, pode estar inibindo a rolagem de dívidas, diz o economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas. Ele conta que, entre as financeiras, já há quem esteja pintando um cenário mais adverso, com casas reportando aumento de atrasos no Nordeste, em carteiras de financiamento de motocicletas, em geral nos segmentos vinculados ao consumo das classes menos favorecidas da população – e que a inflação e qualquer aumento de custos engessam mais a renda.

Para Décio Carbonari, presidente da Anef, que representa os bancos ligados às montadoras, é razoável supor que a expansão no financiamento de veículos se situe mais perto de 10%. Ele espera também que sejam tomadas medidas equivalentes no leasing para impedir que haja uma migração do CDC. “O objetivo principal do governo é conter o consumo, e não induzir à uma troca de instrumento financeiro.”

Aumentar o IOF especificamente nas transações de crédito bancário à pessoa física deixa, porém, aberto um canal alternativo em que as instituições continuarão a emprestar recursos ao consumidor por intermédio do varejo, comentam os analistas Roberto Attuch and Fabio Zagatti, do Barclays Capital. Graças ao capital de giro, o comércio pode oferecer aos clientes a opção de pagar bens parceladamente no cartão de crédito.

O custo das operações fica mais caro, mas não é isso que vai frear a decisão do consumidor de tomar novos empréstimos, segundo o vice-presidente de gerenciamento de riscos do Citi Brasil, Victor Loyola. O executivo conta que tanto no banco quanto na Credicard Financiamento não houve redução de demanda em função das medidas que têm sido adotadas pelo governo desde dezembro. “Pelo contrário. Março foi, por exemplo, um mês excepcional, com crescimento de 10% sobre março do ano passado e ainda com o carnaval no meio.” Para o ano, o Citi ainda trabalha com expansão entre 15% e 20% para a carteira que hoje soma cerca de R$ 10 bilhões.

Fonte: Valor

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