Apesar do coro de especialistas de que as locadoras de vídeo tendem a minguar ainda mais ou simplesmente desaparecer, há quem vá na contramão dessa maré. Algumas redes como a 2001, Premiere, 100% Vídeo e Videoteca têm planos de expansão mesmo diante desse cenário pessimista.
O que motiva esses empresários é ver suas lojas ainda cheias. O crescimento nessas quatro redes chegou a ser de até 13% no ano passado – índice que chama atenção em um setor que diminuiu pela metade nos últimos quatro anos por causa da concorrência com a pirataria, locadoras virtuais (em que o cliente faz sua escolha no site e recebe o filme em casa) e com a possibilidade de copiar arquivos de filmes da internet.
Esse crescimento não significa que o setor está retomando suas atividades a todo vapor. Ao contrário, estima-se que entre 10% e 15% das atuais locadoras de São Paulo ainda vão fechar suas portas até o próximo ano, segundo o sindicato do setor. Mas, entre aqueles que sobreviveram à avalanche, há um ponto em comum. Essas redes apostaram em um nicho – que pode ser desde o público com mais de 30 anos até cidades com poucas opções de lazer – e estão diversificando o seu negócio, vendendo livros, cafés, jogos e outros apetrechos que possam atrair a clientela.
A locadora Premiere, que tem seis lojas em São Paulo, por exemplo, vende jogos (ou games, na linguagem da garotada) para engordar o faturamento, que aumentou 12% no ano passado. Hoje, a comercialização dos jogos representa 40% do faturamento. “Os anos de 2007 e 2008 foram péssimos, mas no ano passado retomamos o crescimento. Inclusive, temos planos de abrir uma loja ainda este ano”, disse Alberto Esteves, dono da Premiere. “Não é porque tem pizza delivery que as pizzarias acabaram. Acredito no mesmo raciocínio para as locadoras”, afirma.
Outra rede que atua em nichos é a 2001 Vídeo. No último dia 20, a locadora paulistana abriu uma loja de 380 m2 com um investimento de R$ 500 mil. A 2001 atende um público premium e se diferencia do mercado pelo seu atendimento e acervo com 12 mil filmes europeus, clássicos e outros que atendem ao gosto dos cinéfilos.
“Mesmo tendo o maior valor de locação de mercado, conseguimos ter um público cativo. Nunca tivemos queda na receita, que cresce em média 9% ao ano”, disse Sonia Abreu, sócia da 2001, que possui na cidade outras seis unidades. A rede encerrou 2010 com faturamento de R$ 12 milhões.
Outra aposta das redes de locação são as praças menores ou com poucas opções de lazer. “Cidades em que o cinema não tem uma diversidade tão grande de títulos em cartaz, como Florianópolis, acabam ajudando a impulsionar o negócio”, lembra Sara Camargo, dona da rede catarinense Videoteca, que comprou a locadora Megamil, de Campinas (SP). Hoje, a Videoteca conta com 34 unidades espalhadas em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Piauí. A empresária avalia a abertura de novas lojas este ano.
“Abri a minha locadora em 2008, quando o mercado já dava sinais de problemas. Não me arrependo e já amortizei meu investimento. Mas minha loja fica em Macaé [Rio], onde a pirataria é menor, há carência de locadoras e há menos entretenimento. Não abriria nunca em São Paulo porque lá a concorrência é muito grande”, disse o engenheiro Ciro Ken Jouti, franqueado da 100% Vídeo, que morou em São Paulo por 15 anos.
Após dois difíceis anos com o fechamento de 10 pontos, a 100% Vídeo tem projetos ambiciosos para este ano, quando pretende abrir 15 novos pontos. O presidente da 100% Vídeo, Carlos Augusto, ressalta que a maior parte será de conversão de bandeiras, ou seja, pequenas locadoras que passam a usar a marca 100% Vídeo. Ele também está negociando com investidores novas franquias. A abertura de franquias de locadoras é um desafio à parte. “Nos últimos dois anos, não tivemos nenhuma procura para abertura de locadora e não acredito na retomada desse setor”, disse Marcos Hirai, ex-franqueado de locadora e hoje consultor da Franchise Store, empresa que comercializa franquias. Diante desse cenário, Augusto lançou recentemente um pen-drive com o qual o cliente pode copiar arquivos dos filmes pelo computador.
Também não faltam soluções “caseiras” para permanecer nesse setor e aproveitar a nova onda do blu-ray, que tem motivado alguns empresários a renovar apostas. O franqueado Roberto Biassoto, de Niterói (RJ) abriu sua segunda loja 100% Vídeo no final do ano passado investindo apenas R$ 45 mil. O investimento médio para uma nova franquia é de R$ 190 mil. “Quando veio a crise, retirei uma parte do acervo de filmes e coloquei outros produtos como livros para compensar a queda nas locações”, disse Biasotto. “Guardei os filmes, móveis, iluminação da primeira loja e aproveitei na outra unidade. Com isso, consegui economizar para esse segundo ponto”.
Ele decidiu apostar na nova loja porque percebeu um aumento de 20% a 30% na receita em 2010, motivado pelo blu-ray. Sandra, da Videoteca, também confirma que a nova tecnologia já representa 30% das compras feitas para as lojas, percentual que deve saltar para 40% a partir de fevereiro. Novamente, os especialistas são céticos. “O blu-ray ainda não é um sucesso nos Estados Unidos e a sua disseminação está acontecendo em velocidade menor do que o DVD”, disse Hirai, da Franchise Store.
“Se a minha loja está cheia de gente porque vou focar em outro negócio ou ferramentas tecnológicas?”, rebate Sonia, sócia da 2001, que recebeu 650 inscrições no fim de semana da inauguração da sua sétima loja, há cerca de 10 dias.
Fonte: Valor