Em alguns momentos, o Ministério da Fazenda e o Banco Central parecem ter discursos opostos sobre a condução da política monetária. Ontem, no entanto, o mercado se surpreendeu com a sintonia entre os integrantes do governo. Num movimento orquestrado, a presidente da República, Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, passaram o mesmo recado. Cada um à sua maneira, os três deixaram claro que o governo fará o que for preciso para conter a inflação.
O mercado gostou de ver que o governo trabalha na mesma direção, ou no mínimo está se esforçando para passar essa impressão para quem está de fora e, assim, acalmar a plateia. A interpretação dos investidores para esse sincronismo todo na luta contra a inflação é que novas medidas macroprudenciais devem estar por vir.
Como não se espera um processo acentuado de alta da taxa de juros por parte do Comitê de Política Monetária (Copom), o governo usará tais medidas para conter a escalada dos índices de preços.
Não foi à toa que algumas ações de varejo e consumo estiveram entre as maiores baixas do Índice Bovespa ontem. Um dos efeitos das medidas macroprudenciais é conter o consumo dos brasileiros e, em parte, a demanda por crédito nas instituições financeiras.
Ontem, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da B2W fecharam em queda de 2,44%. Já as ON da Duratex caíram 2,35% e as ON da Lojas Americanas, 1,08%.
As ações ON da Hypermarcas caíram 2,65%, a segunda maior queda do Ibovespa, atrás apenas das ordinárias da OGX, mas por um motivo específico. Existe a expectativa de que haja a venda de um bloco de ações que está em poder dos ex-donos da Mantecorp
Na ponta contrária, as ações das construtoras estiveram entre as maiores altas do índice ontem. Como as ON da MRV, que subiram 2,91%, da Rossi Residencial, 2,23%, da PDG Realty, 2,19% e da Brookfield, 1,79%. Para alguns, esse movimento positivo generalizado entre as construtoras não fazia sentido exatamente no dia em que o mercado passou a esperar novas medidas para conter a inflação e, portanto, o crescimento econômico.
Na visão de um gestor, no entanto, o governo não deve divulgar medidas que afetem a demanda habitacional, já que o setor é visto como estratégico na economia. Ele lembra também que, ontem, um banco revisou para cima suas projeções para as construtoras.
Ontem, o Ibovespa fechou em leve alta, de 0,26%, aos 67.144 pontos. O mercado está em compasso de espera para a reunião de hoje do Federal Reserve (Fed, o BC americano) que define o destino dos juros nos EUA, além da ata da última reunião do Copom, que será divulgada na quinta-feira.
Fonte: Valor