Em 2008, Larissa Floris, então com 19 anos, jogava futebol, sem maiores perspectivas, no Tigres do Brasil, clube de Duque de Caxias (Baixada Fluminense) cuja equipe masculina acaba de ser rebaixada da série A do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Foi quando soube que no bairro do Rocha, próximo ao Riachuelo onde mora (ambos na zona norte do Rio), havia um curso para formação de operárias da construção civil e que havia uma turma em fase de inscrições.
Matriculou-se na especialização de carpinteira de forma (forma para colunas de concreto), uma das duas oferecidas. A outra era de pedreira. Ao final, foi encaminhada a um processo seletivo na Cofix Construções e contratada. No próximo dia 16 completa 14 meses de carteira assinada no seu primeiro emprego formal, ganhando em torno de R$ 1.100 por mês. Agora, aos 21 anos, pretende concluir este ano o ensino médio e fazer um curso de edificações no Senai, sonhando com uma faculdade de engenharia civil.
Clarissa gostou tanto de trabalhar na construção que estimulou a mãe a fazer o mesmo curso. Cleia Floris é uma das 40 carpinteiras e 20 pedreiras formandas que recebem certificado amanhã, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Ontem Cleia estava passando por uma seleção na mesma Cofix Construções.
Mãe e filha estudaram no projeto Mão na Massa, idealizado em 2007 pela engenheira civil Deise Gravina, presidente da Federação das Instituições Beneficentes do Rio de Janeiro (FIB-RJ). “Ela (Deise) achou que o capricho feminino nos arremates seria bem-vindo à construção”, conta a psicóloga Norma Sá, especialista em responsabilidade social e coordenadora do projeto. O formato do curso nasceu de uma pesquisa feita na favela do Jacarezinho (zona norte).
O Mão na Massa é um projeto de inclusão social e formação profissional para mulheres de 18 a 45 anos. Já formou 210 carpinteiras de formas e pedreiras desde a sua criação. A qualificação em 460 horas-aula, segundo Norma, garante às novas operárias pular dois degraus na escala da profissão, começando como meio-oficial, cujo piso no Rio de Janeiro é de R$ 830.
A coordenadora disse que 70% das operárias formadas no projeto estão trabalhando na profissão, sendo mais de 50% em empregos formais e 71 delas em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Das 60 profissionais que se formam amanhã, 20 serão pedreiras nas obras do PAC do Complexo do Alemão (zona norte) e outras 21 estão passando por outros processos de seleção, incluindo Cleia. Em julho começa um novo curso, desta vez incluindo a formação de eletricistas. O projeto é apoiado por várias empresas e instituições.
Fonte: valor