Eles ignoram as recomendações de analistas. Não embarcam nos rumores do mercado. Acreditam que são as únicas pessoas genuinamente preocupadas com as próprias aplicações. São investidores que, depois do trabalho, se dedicam a estudar o mundo financeiro e a encontrar uma forma de fazer o dinheiro trabalhar a seu favor. A estratégia, dizem especialistas, pode ser boa, principalmente para quem se empenhar em aprender de fato os complexos meandros do mercado. Porém, é preciso controlar o excesso de confiança para não acabar com prejuízo no bolso.
O consultor de empresas Leonardo Lorentz conta que começou a investir em ações em 2004 com a cara, a coragem e R$ 10 mil. Que logo viraram R$ 11 mil. “Quando vi aquilo, me animei”, afirma Lorentz, sócio de uma consultoria de gestão de negócios. Continuou comprando e vendendo ações e opções, mas nem todas as apostas foram vencedoras. Como o saldo estava positivo, porém, foi ousando e aplicando mais. “Aprendi investindo. Nunca gostei de me deixar levar por recomendações. Qual o comprometimento financeiro da pessoa que me dá uma dica? Nenhum. Leio muito e tiro as minhas próprias conclusões”, diz o investidor de 38 anos. Foi assim que criou seu método. Primeiro, define um setor com o qual já tenha afinidade, escolhe a empresa e, depois, fica de olho nas pequenas flutuações do papel. “Tenho mais sucesso ganhando 3% em cinco operações do que procurando um papel que renda 15%”, diz.
Muitos dos que operam os próprios recursos já tiveram experiências profissionais prévias. “Trabalhei 14 anos no mercado financeiro e gosto de cuidar dos meus investimentos”, afirma Michael Viriato, professor de Finanças do Insper. Viriato pondera, no entanto, que enveredar-se pelo universo financeiro tem um preço. No caso dele, é monitorar as aplicações todos os dias, mesmo quando viaja a lazer. Também diz que não basta dedicar tempo e energia ou ter bastante coragem para arriscar o próprio dinheiro em operações em que não há garantia de ganho. É preciso entender da tributação, dos negócios das empresas e dos rumos da economia. “Administrar os recursos sozinho sempre é uma opção. Mas quem estudou e se dedica profissionalmente a isso tende a ter resultados melhores”, diz. O investidor também pode cair na armadilha da “sorte de iniciante”. “Depois de ganhar muito dinheiro no primeiro ano, achei que eu fosse um gênio. Projetei meu desempenho e concluí que seria bilionário em 20 anos. Descobri que não é tão fácil assim”, diz Lorentz.
Há cerca de seis anos investindo na bolsa, o mineiro Alessandro Pereira também não leva mais em consideração as recomendações que lê ou ouve no mercado. Nem sempre foi assim. Quando começou, chegava a compilar as orientações de especialistas e monitorava o que compravam e vendiam grandes gestores de renda variável. O exercício era proveitoso, porque ele aprendia muito. Mas não se comprovou o mais eficiente para ele. Pereira conta que acabou tendo mais sucesso quando desenvolveu o seu próprio método, baseado na análise do comportamento estatístico de séries históricas de risco e retorno das ações. Para o consultor de gestão de negócios e engenheiro por formação, o trabalho era prazeroso. Passava horas desenvolvendo a estratégia de operação e aplicando testes para verificar se ela teria funcionado no passado. “Meu foco hoje é buscar os papéis com a maior volatilidade. Acredito que quanto mais longe você fica das fofocas do mercado, melhor a avaliação”, afirma.
A estratégia de ignorar as dicas e se concentrar em seu próprio método tem ângulos acertados, sob a luz da psicologia econômica. Segundo a especialista Vera Rita de Mello Ferreira, o excesso de dados, notícias e opiniões prejudica o investidor. “As pesquisas mostram que temos uma capacidade limitada para processar informação”, afirma a psicóloga e autora do livro “Decisões Econômicas – você já parou para pensar? ” (Editora Saraiva). Para não paralisar o raciocínio ou mesmo prejudicar a tomada de decisão, o ideal é o investidor fazer um filtro do tipo ou da fonte de informação. Porém, um outro conceito importante da psicologia econômica, o excesso de confiança, deve ser um aspecto a ser monitorado com cuidado por quem investe por conta própria. Alguns, para evitar esse viés de comportamento, adotam mecanismos como o dos gráficos, por exemplo.
O empresário de Brasília Onildo Maciel é um dos que optou pela análise técnica. Em 2007, fez um curso sobre o assunto, leu alguns livros e, desde então, conduz as suas compras e vendas a partir da análise que leva em consideração o comportamento do preço dos ativos. “Não uso análise fundamentalista. Criei um conjunto de índices que norteiam a melhor hora para entrar e sair”, afirma o investidor de 46 anos. “Não me preocupo com boatos nem levo em consideração conselhos que recebo. Uso apenas a análise técnica”, diz.
O professor Viriato lembra que, ao assumir a gestão sozinho, o investidor não deve considerar só a redução do custo financeiro. “Ele precisa pôr na conta o custo emocional. Quando você delega a decisão e o resultado é ruim, a frustração pessoal pode ser menor, e você ainda pode cobrar a outra pessoa.”
Fonte: Valor