Estou redigindo este parágrafo em um café, com um tablet. Até aí, nada de especial. Quando olho ao redor, vejo várias pessoas trabalhando com o iPad, o tablet da Apple. Só que o aparelho que estou usando é bem diferente – aliás, é histórico. É o primeiro computador fabricado pela Microsoft, empresa que por décadas fez questão de produzir apenas o software que faz outros computadores funcionarem.

Com o aparelho que tenho em mãos, o Surface, a Microsoft está adotando o modelo da Apple, a velha rival que sempre acreditou que a melhor abordagem para uma empresa de produtos digitais é cuidar de tudo: do hardware, do sistema operacional, dos programas básicos, de um ecossistema de aplicativos e conteúdo para download.

Faz três semanas que estou testando o Surface. Uso quase todo dia e estou gostando. É bonito, sólido e a mais pura expressão do novo sistema operacional com tela de toque da Microsoft, o Windows 8, que, como o Surface, chega ao mercado na sexta-feira. O novo sistema operacional também roda em notebooks e computadores de mesa. Pode ser usado com o mouse ou o touchpad. Mas sua interface radicalmente distinta, otimizada para o toque, é perfeito para o uso em um tablet.

O Surface não é uma imitação barata do iPad. É um tablet singular, feito com uma espécie de magnésio que passa uma sensação de qualidade e esmero. A versão mais barata do aparelho custa o mesmo que o iPad básico: US$ 499 nos Estados Unidos. Só que vem com 32 gigabytes, o dobro da capacidade do aparelho básico da Apple. Outras versões custam US$ 599 e US$ 699. Ao contrário do iPad, o Surface não permite contratação de plano com operadora de celular. Só tem Wi-Fi.

Office e Teclado

Por melhor que o Surface seja para o comando por toque e para aplicativos típicos de tablets que rodam no Windows 8, a Microsoft também permitiu que o aparelho se comporte como um velho PC com Windows, pelo menos em certas situações. O Surface vem com versões completas do Word, do Excel e do PowerPoint. Os três programas funcionaram bem, tanto para criar documentos novos como para editar arquivos em versões anteriores do software.

A Microsoft criou dois teclados opcionais finos e práticos, que se encaixam magneticamente e servem como capa. Eles são melhores do que qualquer teclado adicional que já vi para iPad. O aparelho da Microsoft vem com entrada para USB e suporte resistente para digitar numa superfície plana.

Não que os teclados sejam perfeitos. No colo, são praticamente inúteis, pois não há dobradiça para que a tela fique na vertical e o suporte não funciona bem quando apoiado nas pernas. Mesmo assim, os dois recursos fazem do Surface um aparelho melhor para atividades normais de trabalho do que qualquer outro tablet que já testei.

Escassez de aplicativos

Mesmo assim, o Surface tem lá os seus problemas. O maior deles é o número reduzido de aplicativos feitos para a nova interface por toque. No lançamento, a Microsoft calcula que haverá, no mundo todo, apenas uns 10.000 aplicativos de terceiros (sendo que, destes, algo como 5.000 estarão disponíveis nos EUA), uma pequena fração dos 700.000 aplicativos de toque disponíveis para o iPad. Pior de tudo será a ausência de aplicativos popularíssimos, incluindo o do Facebook.

E há outras más notícias no quesito aplicativos. Essa primeira edição do Surface roda uma versão do Windows 8, a RT, que é incompatível com o vasto arsenal de programas tradicionais que muitos usuários do Windows utilizam diariamente, como Google Chrome, Adobe Photoshop, iTunes, da Apple, ou até o Outlook, da própria Microsoft. Um novo modelo do Surface, esperado para janeiro, vai rodar a versão completa do Windows 8, e a maioria desses programas típicos do Windows. Mas vai ser mais pesado.

Bateria efêmera

No Surface, que tem mais ou menos a mesma espessura, mas pesa um pouco mais, que o iPad grande, a bateria durou bem menos nos meus testes: cerca de sete horas, contra dez do iPad. É mais do que muitos tablets que rodam o Android, mas não o que se esperaria da menina dos olhos da Microsoft.

Tela e câmeras

A tela do Surface tem 10,6 polegadas. É maior e mais fina que a do iPad tradicional. Ela mostrou brilho e nitidez nos meus testes, mas menos do que a tela Retina usada na terceira geração do tablet da Apple, cuja resolução é bem maior. As câmaras foram uma decepção. Elas tiraram fotos apenas razoáveis. A câmera traseira tem só um megapixel de resolução. A Microsoft diz que a câmera foi projetada mais para vídeo, mas nos testes que fiz os vídeos tampouco foram espetaculares.

Teclado na tela

O teclado na tela é rápido e fácil de usar. Permite várias configurações: uma tradicional, uma mais condensada para abrir espaço para teclas numéricas no alto, e uma versão dividida, como no iPad, para a digitação com o polegar. Também há um recurso para escrita à mão, embora o aparelho não venha com a caneta especial para isso.

Aplicativos de fábrica

O Surface vem de fábrica com os mesmos aplicativos no estilo novo que qualquer PC com Windows 8 tem, e a mesma loja de apps. Ao ser ligado, o Surface, assim como outras máquinas rodando Windows 8, carrega a nova tela inicial do sistema, que é radicalmente distinta, toda dividida em blocos.

A lista de aplicativos já instalados inclui uma versão de toque do Internet Explorer, um programa de e-mail e programas para redes sociais, mensagens instantâneas, fotos, mapas, vídeo, música e outros. Além disso, embora seja incompatível com a maioria dos aplicativos no estilo antigo do Windows, o Surface traz certos recursos típicos do Windows, como calculadora, bloco de notas e gerenciador de arquivos.

Todos os aplicativos de fábrica rodaram bem. A exceção foi o Mail, que não tem recursos comuns como uma caixa de entrada unificada e uma pasta para mensagens não lidas. E não trabalha com o padrão POP, um dos dois tipos comuns de sistema de correio eletrônico. A Microsoft reconhece que precisa melhorar o Mail.

Por outro lado, o aplicativo Music, batizado de Xbox Music, é uma grande promessa. A ideia é deixar o usuário baixar música como no iTunes e organizar o acervo em “estações”.

Problemas

Tive uma série de problemas ao usar o aparelho, alguns sérios. À exceção de um, bastante importante, todos tinham sido solucionados quando sentei para escrever esse artigo. O problema que ficou tem a ver com a incapacidade do Surface de estabelecer o acesso a serviços da Microsoft, como a loja de aplicativos, com certos tipos de modem de banda larga e roteadores. A Microsoft reconhece a falha, mas ainda está investigando o problema. Em meus testes, o problema só ocorreu em um dos locais nos quais testei o aparelho, mas, nesse caso, um já é demais.

Conclusão

O Surface é um tablet com uma vantagem: traz os principais programas do Office e teclados opcionais bacanas. Se não se importar com o pequeno número de aplicativos de terceiros e a autonomia meio decepcionante da bateria, você pode encontrar no aparelho da Microsoft a produtividade de que alguns sentem falta em outros tablets. Fonte:Valor

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