Por muitos anos, diversas gerações tiveram que conviver em nosso país com períodos de forte instabilidade, que chegaram ao extremo do processo de hiperinflação, com taxas de juros exorbitantes, configurando um ambiente de total desordem econômica e financeira sem o menor apelo ao planejamento.

A correção monetária e as aplicações financeiras indexadas a taxas de juros foram armas oferecidas por nossos governantes para tentarmos nos defender naquele ambiente hostil, alimentado por uma falta de compromisso com as finanças públicas e respeito pela moeda.

A história mostra que uma nação sem uma moeda forte carece de perspectiva. Por todos esses anos, os cidadãos não tiveram estímulo para procurar e entender outras formas de investimentos, o que dirá pensar sobre planejar nossas finanças.

É compreensível optar por uma postura passiva em um ambiente que oferecia aplicações de curto prazo e com liquidez diária a taxas reais de juros (descontada a inflação) extremamente elevadas. A possibilidade de planejar o longo prazo é uma prerrogativa de países que alcançam estabilidade e oferecem a seus cidadãos o direito de organizar suas vidas.

O Brasil, nos últimos 11 anos, tem buscado esse caminho. Sem dúvida alguma, foram muitas as conquistas, mas sérias distorções permanecem. O custo do crédito é uma delas. Voltemos ao momento de desordem citado no início. O que levaria os agentes econômicos a serem ativos na alocação de seus recursos? Qual o propósito de ter interesse em conhecer alternativas se tínhamos um Estado perdulário que oferecia taxas de juros reais exorbitantes por seus títulos?

Então o processo de estabilização passou a oferecer dois mundos aos cidadãos. Um é o da estabilidade, que remunera recursos em aplicações conservadoras entre 0,58% (caderneta de poupança) e 0,80% (alguns fundos de investimento). O outro, da desordem que oferta crédito com taxas que, dependo da modalidade, podem chega a alcançar 14% ao mês.

Muitas pessoas físicas e jurídicas, por falta de orientação e de um bom planejamento, convivem com sérios desequilíbrios financeiros. O preço desse desajuste está expresso no custo de crédito. O profissional que se dedica ao planejamento financeiro tem um papel fundamental neste processo.

Nossa principal missão é com a educação financeira, um processo que demanda tempo e abrange diversas etapas. O estudo das finanças comportamentais é rico em subsídios para tentar compreender o comportamento das pessoas, em particular neste nosso mundo de tantas incertezas.

Situações de desajustes das finanças acabam por desestabilizar estruturas familiares e de negócios. É inerente ao ser humano desejar ter e consumir, mas é fundamental para a harmonia e equilíbrio saber quanto e como. O ambiente das finanças e da psicologia está cada vez mais próximo e é extremamente fascinante constatar essa relação entre números, sentimentos e relacionamentos.

Provavelmente devido a uma severa crise é que estamos neste momento presenciando importantes mudanças de comportamento. Nos EUA, os pais estão conscientes e reivindicando educação financeira para seus filhos. O que nos leva a uma reflexão importante sobre esta questão. Estamos fazendo menção à maior economia do mundo, com forte perfil de consumo e movida a muito crédito. As dificuldades que diversas famílias estão enfrentando em suas vidas devem estar contribuindo para uma nova consciência, que pode levar a mudanças que busquem formar cidadãos mais educados e preparados financeiramente.

No Brasil, felizmente, não tivemos situações dessa gravidade. Mas temos dois mundos (como definido no início) que podem ocasionar sérios desequilíbrios se mau administrados. Temos mais oportunidades de consumir e de comprar, com mais crédito e maiores prazos, o que é muito bom para todos.

Há crescimento de renda e emprego e uma nova classe de consumidores, poupadores e investidores está se formando no Brasil. Isso significa que estamos diante de um universo maior de pessoas que irão demandar os serviços dos profissionais dedicados ao aconselhamento das finanças. A educação financeira terá a função de criar bases sólidas para formamos cidadãos com condições de ter vidas estruturadas.

Ivan Maximo é mestre em finanças pelo Ibmec

Fonte: Valor

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