Quando há inflação costuma-se ter também crescimento econômico. O pior dos mundos é quando existe inflação e a economia está estagnada, fenômeno conhecido como estagflação. Ou seja, existe o ônus do crescimento, que é a inflação, enquanto o bônus, que é o próprio crescimento em si, desaparece. A batelada de indicadores americanos que saiu ontem deixou o mercado com a pulga atrás da orelha de que os EUA podem estar em plena estagflação.
Essa percepção levou os mercados a terem um dia bastante amargo. Um pouco pior nas bolsas americanas, mas de qualquer forma negativo em outras praças. No Brasil, por exemplo, o Índice Bovespa caiu 0,97%, aos 61.603 pontos. Essa é a menor pontuação desde 5 de julho do ano passado, quando indicador fechou aos 60.865 pontos.
Apesar do tom negativo do mercado nas últimas semanas, o Ibovespa abaixo dos 62 mil pontos causou surpresa ontem. “Os 62 mil pontos é um nível psicológico importante e que eu esperava que pudesse ser respeitado”, diz o sócio da Cultinvest Asset Management Walter Mendes.
Os números de ontem mostraram que, enquanto a inflação americana continua forte, a economia dá sérios sinais de fraqueza. A inflação ao consumidor em maio teve alta de 0,2%, acima das expectativas dos analistas que esperavam algo em torno de 0,1%. Apesar de o indicador ter mostrado queda ante o mês anterior, ele continua acelerando em 12 meses. A variação nesse período foi de 3,6%, a maior desde outubro de 2008.
Já os indicadores econômicos mostraram que a recuperação fica cada vez mais para trás. O pior deles, segundo Mendes, foi o índice manufatureiro da região de Nova York que, em junho, está negativo em 7,79. Essa é a primeira vez desde novembro do ano passado que o indicador fica no campo negativo, sendo que as expectativas eram de um indicador positivo em 12, ou seja, bem diferente do que veio.
Para o sócio da Cultinvest, os novos indicadores negativos podem deflagrar um novo movimento de rebaixamento das revisões do PIB americano. “Esses números podem ser os primeiros indícios de que os EUA podem não crescer nem os 2,5% que se esperava”, diz Mendes. Ele lembra que esse cenário bastante negativo ainda não está nos preços dos mercados. Isso significa que, se essa situação de fato ocorrer, outras quedas da bolsa estão por vir.
O sócio da Modal Asset Management Alexandre Póvoa lembra que o mundo vai crescer menos e os mercados já estão colocando nos preços esse cenário mais adverso. Ele acredita, no entanto, que será crescimento, menor, mas crescimento.
Fonte: Valor