As flutuações da bolsa oferecem uma tentação quase irresistível: tentar comprar nas mínimas e vender nas máximas. Não há nada de científico em investir com este viés especulativo e pior: quando a atividade de investimento fica parecendo um jogo de azar há algo de muito errado, pois, como se aprende em Las Vegas, é a banca quem sempre ganha.
É claro que numa coletividade como a dos investidores no mercado de ações, que congrega apenas pessoas inteligentes, não deveria prevalecer a especulação nem a irracionalidade, deveria haver mais método e, na média, o investidor deveria acertar. Ou não? Será que o comportamento de manada (vender na baixa, comprar na alta) é relevante no mercado de ações brasileiro?
Para responder a esta pergunta vamos convidar o leitor a três exercícios empíricos, onde trabalhamos com o comportamento dos investidores em fundos de investimentos em ações (FIAs) nos últimos anos.
Tomamos um ranking público e fizemos dois cálculos de taxa de retorno do investimento. O primeiro é a taxa de retorno da cota de cada um dos fundos, desde o início até outubro de 2010, ou seja, o retorno para quem ficou investido nos respectivos fundos. E o segundo repete o cálculo, mas levando em conta aplicações e resgates, ou seja, considerando as tentativas do investidor de entrar na baixa e sair na alta.
Note que os cálculos são idênticos se um fundo não tem aplicações ou resgates, ou ainda se as tem de maneira constante. Se, por outro lado, há resgates líquidos em períodos de baixa rentabilidade e/ou aplicações em períodos de alta rentabilidade, algo como vender na baixa e comprar na alta, é de se esperar que o segundo cálculo (tecnicamente a taxa interna de retorno) seja inferior à variação observada pela cota, pois um número maior de cotas observou rentabilidade inferior ou somente um número menor de cotas observou rentabilidade superior. Esta é a situação onde a atividade de resgatar e aplicar do investidor piora o resultado de seu investimento. É claro que pode perfeitamente ocorrer o inverso, é o que os dados adiante poderão nos informar.
Usando séries históricas completas para 109 FIAs, com patrimônio de R$ 14 bilhões, verificamos que, em 79% deles, a taxa interna de retorno (cálculo que considera resgates e aplicações) foi inferior ao retorno observado pela cota, ou seja, confirma-se a hipótese de que o investidor tem uma atividade pró-cíclica, assustando-se com as correções e animando-se nas altas, num típico comportamento de manada. A diferença entre a taxa interna de retorno média e o retorno médio observados pelas cotas, ambas anualizadas, foi de 5,8%.
Com vistas a refinar o resultado, e no entendimento de que investimentos (e investidores!) em renda variável necessitam de um período relativamente longo para amadurecer, fizemos um segundo exercício onde foram considerados apenas FIAs com histórico de cotas superior a quatro anos. O resultado obtido, para uma amostra menor, de 59 fundos, indica que, em 90% deles, a taxa interna de retorno foi inferior ao retorno observado pela cota, e a diferença entre ambas foi maior: 8,8%.
Diante desse aparente paradoxo, e da possibilidade do resultado ser uma distorção causada por estarmos trabalhando com fundos pequenos, o terceiro exercício contemplou apenas os FIAs maiores e mais testados do mercado, pois é aí que devem estar os investidores mais profissionais.
O resultado obtido para os 35 fundos maiores indica que, para 97% deles, a taxa interna de retorno foi também inferior ao retorno observado pela cota. E a diferença entre ambas foi ainda maior: 10,18%. Este é o retorno que os investidores maiores e mais experientes jogaram fora anualmente, em média, através da atividade de “operar” entradas e saídas de FIAs.
É claro que os três exercícios são apenas aproximações, mas se é assim que funciona a parte mais sofisticada do mercado, o que se pode dizer do restante?
O espaço não comporta uma discussão de detalhes metodológicos. Vale apenas, para terminar, retirar uma única e simples lição: se mesmo os mais profissionais comportam-se como manada, o melhor a fazer é ter a frieza de lembrar que a hiperatividade não compensa.
Fonte: Valor