Segundo dados divulgados pela Wines of Argentina, associação que reúne mais de 170 bodegas e representa em torno de 95% da exportação de vinhos argentinos, o país continuou a ganhar espaço no mercado internacional em 2009, mesmo com a crise econômica mundial. A mesma sorte não teve seus principais competidores do “novo mundo”: Chile, Austrália e África do Sul.

É bem verdade que boa parte desse sucesso se deve à malbec, sua casta emblemática, que caiu nas graças de críticos importantes, seduzidos pelos tintos diferenciados, intensos (às vezes em demasia), frutados e com taninos agradáveis que ela proporciona. Se tudo isso caiu do céu – o feliz encontro da malbec com condições naturais extremamente favoráveis -, não foi fácil nem rápido buscar o reconhecimento de que desfrutam hoje.

Houve, desde a segunda metade da década de 90, uma junção de esforços entre produtores para divulgar e promover seus rótulos no exterior, dando origem à Pró-Mendoza, precursora, de certa forma, da hoje globalizada Wines of Argentina. Situação bem diferente do que ocorre no Chile e na Austrália, onde o setor é bem mais concentrado, fazendo com que o grosso das exportações esteja nas mãos de poucos, não mais do que três ou quatro grupos, e cada um com força e condições para se promover.

Para levar adiante seus objetivos, essa união de vinícolas, por intermédio da Wines of Argentina, tem promovido toda a sorte de atividades, caso de eventos como os que organizam no Brasil anualmente e em diversos outros centros de consumo, espaços conjuntos nas principais feiras – Vinexpo, Prowein, London Wine Fair -, bem como atividades no próprio país, trazendo formadores de opinião para conhecer suas bodegas e regiões vinícolas.

Fazendo bom uso dessa última ferramenta, mas em um passo mais avançado – e que tem dado grande repercussão -, a associação teve a iniciativa de organizar o Argentina Wine Awards, concurso de vinhos que se realiza em Mendoza e aberto às vinícolas locais, do qual participam como jurados personagens de expressão em mercados importantes para os rótulos argentinos. Este ano, em sua quarta edição, realizada de 22 a 25 de fevereiro, conseguiram levar 12 “master of wine” – graduação mais cobiçada do mundo do vinho, mérito que, desde 1955, quando foi criado pelo instituto londrino de mesmo nome, foi concedido a menos 300 candidatos – de diferentes nacionalidades, entre eles o brasileiro Dirceu Vianna Jr., um dos dois únicos da América Latina a obter o título.

Ao grupo de convidados estrangeiros se juntou seis enólogos argentinos, formando seis grupos de três degustadores. Os 637 rótulos inscritos foram distribuídos por casta e faixa de preço no varejo argentino – abaixo de US$ 10, entre US$ 10 e US$ 20, de US$ 20 a US$ 50 e mais de US$ 50 – e a mesma bateria de vinhos era analisada por dois grupos em separado, para que o critério de análise fosse mais amplo e o resultado mais independente e justo. Os vinhos que obtivessem medalha ouro, na análise conjunta dos dois grupos, passavam no último dia por uma reavaliação, todos os jurados em conjunto, para se estabelecer o melhor em cada categoria, cabendo aí a distinção “Trophy”. Ao lado, a tabela com os vinhos premiados.

Vianna Jr., fez, com exclusividade para o Valor, os seguintes comentários sobre o evento:

“De todas as competições que já tive a oportunidade de participar, essa foi uma das melhores devido à organização impecável e o alto nível alto de conhecimento dos degustadores.”

“No geral a qualidade dos vinhos Argentinos está boa. Os vinhos do dia a dia (“entry level”) estão oferecendo boa relação qualidade/preço, mas gostaria que reduzissem um pouco o uso de madeira. Eu entendo que é isso que o consumidor americano quer (e eles representam a maior parte das exportações), mas o paladar europeu prefere mais elegância, menos álcool e menos madeira, nesse caso estou falando do uso de “chips” e “staves” (aduelas). Os vinhos premium, acima de US$ 20, estão muito bons. O destaque para muitos jurados, incluindo eu, não foram os 100% malbec, mas sim os cortes dominados por malbec.”

“O problema principal que notei foi superextração (“over-extraction”) nos tintos “mid-premium”, entre US$10 e US$ 20. Muitos desses vinhos vão precisar de mais de 3 anos para entrar em harmonia. Poucos consumidores vão deixar um vinho argentino desse nível envelhecer por todo esse tempo.”jorge.lucki@valor.com.br

Fonte: Valor

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