A redução do limite mínimo para investir em títulos públicos tornou o Tesouro Direto mais convidativo para o pequeno investidor. Com apenas R$ 30, ele pode realizar a sua primeira compra programando o investimento pelo site da corretora onde tem conta ou pelo site do próprio Tesouro. Apesar de acessível, a aplicação nos títulos demanda uma série de cuidados. O primeiro é em relação aos custos da operação. O maior deles para quem só pode aplicar os valores mínimos é a tarifa da transferência do dinheiro da conta corrente para a conta na corretora. Em média, os bancos cobram entre R$ 7 e R$ 8,60 para o correntista fazer um DOC pelo internet banking. Se decidir solicitar a transferência no caixa do banco, a tarifa chega a R$ 15. “Pagar uma tarifa tão alta para investir um valor tão baixo torna a operação inviável”, afirma Marcelo d’Agosto, autor do blog “O Consultor Financeiro”, no portal Valor.

Quem opta por abrir uma conta em uma corretora independente deveria, portanto, verificar quantos DOCs pode fazer sem custo ou buscar alternativas. Uma opção é procurar corretoras que permitam o depósito em suas contas de formas alternativas. Os clientes da corretora Spinelli, por exemplo, podem depositar por meio de boleto bancário sem custo. Quem aplica R$ 100 ou mais pela XP Investimentos pode, desde a última terça-feira (19/6), pedir o débito em sua conta corrente sem ônus algum. Quem paga esse custo ao banco é a própria XP. “Por enquanto, assinamos esse acordo com o Itaú. Mas queremos fechar o mesmo contrato com todos os grandes bancos”, afirma Eduardo Glitz, diretor de Operações da XP Investimentos.

Outra opção que o correntista tem é aplicar pela corretora do próprio banco. Normalmente, não há cobrança na transferência dos recursos da conta corrente para a conta da corretora. Entretanto, nesse caso, é preciso observar um outro custo. É a taxa de administração que, segundo o site do Tesouro Direto, varia de zero a 0,5%. Todos os agentes ligados a grandes bancos cobram algum percentual.

No Banco do Brasil, campeão no Tesouro Direto em número de compras, a taxa é de 0,5%. Na simulação feita por Marcelo d’Agosto (veja na tabela), fica evidente que o pequeno poupador deve preferir o ônus dessa taxa no lugar de pagar a tarifa do DOC para transferir o dinheiro. Essa foi a opção do engenheiro Luiz Rebelo. Correntista da Caixa, ele aplicou cerca de 40% dos seus recursos em três títulos públicos por meio do próprio banco. “Não me importo em pagar essa taxa, porque me sinto mais seguro ao trabalhar com o banco que já conheço”, diz Rebelo, que foi pessoalmente à sua agência para se cadastrar no Tesouro Direto.

Obviamente, o ideal é conseguir reduzir ao máximo as taxas e tarifas para maximizar a rentabilidade dos títulos, como mostra a comparação entre LFT (título pós-fixado que segue a Selic) e poupança. Há custos, entretanto, que não podem ser evitados, independentemente da corretora ou do banco. São a taxa de negociação (0,10% sobre operação ou 0,05% a partir da terceira compra programada) e também a taxa de custódia (0,30% ao ano sobre o saldo em títulos do investidor). Quanto às duas outras (taxa de administração e tarifa para a transferência do dinheiro), é possível negociar. “O investidor precisa entender que existe o custo da sola de sapato. Ele precisa pesquisar e procurar as melhores oportunidades”, afirma Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ e economista da Way Investimentos.

O pequeno poupador também precisa entender que ele terá um outro custo para driblar: o da preguiça. “Complicou, o brasileiro foge. E investir em títulos públicos é bem complicado. A começar pelos nomes dos papéis”, afirma William Eid Junior, professor da Fundação Getúlio Vargas. O próprio secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, admite a complexidade da operação. No prefácio do livro “O Mapa do Tesouro Direto”, de Mara Luquet (Editora Saraiva), ele diz: é um “mercado assustador à primeira vista”.

No caso do Tesouro Direto, quem decide qual ativo vai comprar é o próprio investidor. Ele precisa avaliar algumas variáveis, como preço, prazo, rentabilidade dos títulos, e questões pouco triviais na vida de um pequeno poupador como perspectivas para a inflação e para a taxa básica de juros. Via de regra, as corretoras e bancos não recomendam qual papel comprar. “De fato, o investidor precisa ter essa autonomia. E ele precisa também ter autonomia para fazer as operações pela internet. Porque as compras e as vendas são feitas pelo site”, afirma Nelson Gonçalves do Nascimento, diretor-presidente da BB Corretora. Os clientes do Banco do Brasil que operam no Tesouro Direto são, na maioria, de alta renda. Pertencem à categoria BB Estilo ou ao private do banco.

O engenheiro Rebelo trilhou um longo caminho até conquistar a sua autonomia. Conversou com algumas pessoas, foi ao banco, leu o noticiário econômico, fez simulações, aprendeu com o curso virtual do Tesouro Direto e mandou e-mail para o Tesouro Nacional. Só depois de tudo isso, conseguiu decidir o que compraria. Nem todo pequeno investidor tem tamanha vontade. “O que vejo é que, ao descobrir que precisa abrir uma conta na corretora do banco, o investidor já fica reticente”, afirma Robson Schüler, diretor de Operações da corretora do Banrisul, que cobra a menor taxa de administração (0,25%) entre os bancos.

Apesar de todo esforço do Tesouro Nacional em popularizar a compra de títulos públicos nos últimos 10 anos, a aplicação está longe de ser popular. Do investidor, é exigida uma certa sofisticação para entender a aplicação e bastante “sola de sapato” para comprar os títulos, visto que não há um esforço comercial maciço para a venda. “As aplicações no Tesouro Direto são extremamente interessantes para o (…) investidor, mas não para os bancos”, escreve Mara Luquet, em seu livro. Questões como essa ajudam a explicar o tamanho acanhado do Tesouro Direto no ano de seu 10º aniversário. Até maio, havia apenas R$ 8,4 bilhões em títulos na mão de pessoas físicas. O valor é irrisório diante do patrimônio total dos fundos de varejo (R$ 324 bilhões) e do saldo em caderneta de poupança (R$ 433 bilhões). Se driblarem os custos, os pequenos poupadores têm a chance de mudar esse retrato.
Fonte:Valor

Write A Comment

Bitnami