Sábado passado fui assistir ao ótimo “O Bem Amado”. Após o cinema, fomos à pizzaria com o casal de amigos que nos acompanhou. Gasto total do programa, por pessoa: R$ 98,00 (ingresso, pipoca, pizza, dois chopes, serviço e estacionamento). Mas o que teria a ver um programa de fim de semana com um artigo aqui neste espaço?

Faz doze anos que leciono finanças. No primeiro dia de aula, sempre abordo a questão das dificuldades que inúmeras pessoas aposentadas encontram, não somente em nosso país, para ter uma velhice condigna. Invariavelmente, algum aluno concorda, dando exemplos de parentes ou conhecidos. Nesse instante, sugiro que reflitam sobre o futuro, buscando algum tipo de programação financeira, visto que a previdência oficial, ano a ano, apresenta déficits crescentes, o que deixa os beneficiários com receio.

Em nosso país, o sistema de previdência social (INSS) funciona em regime de repartição simples, ou seja, os trabalhadores da ativa arcam com os benefícios dos que já cumpriram seu tempo de serviço. Se não mudar, assim será com você, quando chegar a sua vez!

Como é notório, com o avanço da medicina, a tendência é vivermos cada vez mais. Portanto, apesar de os brasileiros não serem orientados a pensar nesse assunto, faz todo o sentido planejar-se desde cedo, para que possamos desfrutar a vida à época da idade avançada (tomemos como base viver até os 90 anos). Sob esse aspecto, o mercado financeiro está repleto de boas e sólidas instituições financeiras, que oferecem bons produtos, como fundos de aposentadoria do tipo PGBL e VGBL, cuja diferença básica se dá na tributação.

Meu conselho aos alunos é que eles “abram mão” de um gasto referente a um único fim de semana por mês (R$ 100) e invistam na formação de um fundo complementar. Vejamos um exemplo numérico (desconsiderando os impostos):

1) Suponha que o jovem aplique os tais R$ 100, todo mês, entre os 20 e 30 anos (nessa idade muitos investem na graduação e na pós e não buscam empregos com salários elevados)

2) A partir dos 30, já bem empregado, aumente esse desembolso mensal para R$ 200, assim procedendo até os 40 anos

3) A partir de então, com empregos potencialmente ainda melhores, aumente a parcela investida para R$ 300, até os 60 anos.

Admitindo que se apliquem os recursos a uma taxa de juros de 0,714% ao mês, em um fundo que cobra 1% ao ano de taxa de administração, ao final desses 480 meses (40 anos) o montante acumulado será de R$ 500 mil. Nesse momento, o sábio investidor poderá aplicar esse valor na caderneta de poupança, por exemplo. Com os 6% ao ano de remuneração, ele poderá sacar R$ 3 mil todo mês, durante 30 anos, instante em que o dinheiro acumulado acabará (aqui terá 90 anos de idade).

Cabe ressaltar que essa não deve ser a única maneira de se planejar o futuro. A pessoa deve aproveitar a sua vida laborativa para acumular um patrimônio que lhe traga tranquilidade, depois de cumprida sua jornada profissional. Em outras palavras, comprar o seu imóvel, investir neles com o intuito de auferir rendas com aluguéis, investir em ações que sejam boas pagadoras de dividendos etc…

Outra sugestão é que se considerem os empregos em empresas que oferecem fundos de previdência complementar. Nesse caso, o empregador entra com uma parte da contribuição mensal, o que é muito positivo. Você, que é jovem, deve encarar oportunidades de emprego nessas firmas com melhores olhos, pois representam um salário indireto que pode ser vantajoso.

Como disse anteriormente, o mercado oferece bons produtos e o ideal é que se procure um profissional para orientá-lo, que explique detalhadamente as vantagens de cada um, a tributação, além dos fatores de riscos envolvidos. Você, que nunca cogitou tomar essa decisão, lembrará deste artigo, quando estiver para se aposentar. Por fim, duas observações:

1) Como salientei, no exemplo acima não foram considerados os impostos incidentes sobre o investimento, que reduzem os valores (não os da caderneta, que é isenta) e o tempo previsto. Todavia, ele pode servir como um norte para os interessados

2) O rendimento de 0,714% ao mês, usado no exercício, equivale à metade da remuneração média mensal da Selic, nos últimos 12 anos.

Alexandre Espírito Santo é diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ e economistas da Way Investimentos

Fonte: Valor

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