O primeiro semestre foi atípico no universo dos fundos de investimento. Enquanto a renda fixa exigia estômagos fortes, a renda variável premiava somente os investidores mais conservadores. Os fundos que aplicam em empresas que pagam bons dividendos fecharam o semestre com retorno de 10,93%, o maior entre as categorias apuradas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Também com retorno de dois dígitos, os fundos de renda fixa índices marcaram 10,43%, ainda que com bastante volatilidade.
Opção, em geral, de quem está de olho na distribuição periódica de rendimentos, e não no potencial de valorização, as apostas em dividendos se destacaram no grupo. Garantiram retornos diferenciados enquanto o principal índice da bolsa amargou queda de 4,23% e outras cinco categorias de fundos de ações sequer conseguiram bater o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referência para aplicações conservadoras, que variou 4,59% no semestre.
“Em cenários como o que vivemos, de aumento de incerteza, esses fundos se beneficiam por investirem em empresas mais maduras, menos sujeitas a problemas de cenários, que já fizeram seu ciclo de investimentos e têm fluxo de caixa mais previsível”, diz Marcelo de Jesus, superintendente nacional de gestão de ativos da Caixa Econômica Federal. É o caso das companhias de energia elétrica e telecomunicações. A aversão ao risco pesou especialmente em junho, quando esses fundos garantiram 3,06%.
O executivo da Caixa recomenda esse tipo de carteira como porta de entrada para o mercado de ações. O fluxo de dividendos aproxima a categoria da renda fixa e atrai especialmente com a queda dos juros.
Enquanto os fundos de dividendos arrancaram em junho, os renda fixa índices se destacaram na maior parte do semestre. O retorno, de 10,43%, ficou bem à frente do CDI. Essas carteiras investem em NTN-Bs, que pagam uma taxa de juros mais a variação da inflação. Seu componente fixo tornou-se cobiçado no mercado diante de uma de um juro básico que encolhia a passos rápidos, chegando a 8,5%. Com a Selic em mínimas históricas, entretanto, restou menos gordura para corte e, desde maio, essas carteiras passaram a amargar várias semanas no negativo.
Ainda há oportunidades de ganhos para esses fundos no segundo semestre, ainda que não tão robustos, considera Fausto Silva Filho, gestor de renda fixa da XP. “Os agentes ainda estão precificando novos cortes da taxa, mas já estamos no fim do ajuste monetário.”
Os renda fixa índices também podem ganhar com o componente de inflação dos títulos que carregam, diz Silva, que espera um aumento do nível de preços como resultado dos incentivos do governo ao consumo. A pressão inflacionária, considera, não deve ocasionar a retomada da alta dos juros básicos, porém. Em cruzada contra os juros altos, é mais provável que o governo lance mão de outros instrumentos, diz.
Os ganhos adicionais dos renda fixa índices, entretanto, não virão sem solavancos, diz Silva. As divergências sobre movimentos futuros de inflação e juros e as trocas dos vencimentos dos papéis na carteira devem gerar volatilidade no segundo semestre, assim como ocorreu no primeiro.
Também apoiados principalmente na queda dos juros, os fundos multimercados vivem em 2012 um ano de redenção. Os do tipo macro, que apostam em uma tendência para os ativos, fecharam o primeiro semestre com retorno de 9,55%, terceiro melhor desempenho entre as categorias levantadas pela Anbima. Os gestores dessas carteiras, com liberdade para vagar entre juros, bolsa e câmbio, não conseguiam ganhos robustos desde 2008.
Além de ter apostado na redução da taxa básica, os multimercados macro lucraram com a expectativa de alta do dólar e até com seleções de ações, segundo Luiz Augusto Monteiro, sócio-diretor da gestora Queluz. Para a segunda metade do ano, se não houver recuperação significativa no cenário externo, o Banco Central deve reduzir ainda mais a taxa de juros, espera, garantindo oportunidades de ganhos adicionais aos multimercados.
O dólar também pode trazer oportunidades aos multimercados. A moeda americana, com alta de 7,76% no semestre, ganhou força ante o real na esteira de dois movimentos. No começo do ano, o Banco Central comprou dólar nos mercados à vista e futuro para evitar que o real se valorizasse em excesso. Em meio a esse esforço, o governo foi pego pela piora do cenário externo. A incerteza internacional levou a uma corrida para o dólar, que ganhou, assim, motor próprio.
Até o fim de junho, os fundos cambiais despontavam como maior retorno no ano. No último dia útil do mês, entretanto, houve uma reviravolta. A notícia do acordo de líderes europeus sobre um fundo de socorro para a região levou a uma queda de mais de 3% do dólar. O movimento fez os fundos cambiais passarem de líderes a quarto lugar em rentabilidade no primeiro semestre.
Ainda há espaço para os fundos cambiais ganharem no ano, considera Marcelo Pacheco, gerente-executivo da BB DTVM. “A cotação confortável para a política econômica parece ser algo entre R$ 2 e R$ 2,10”, diz. No mercado futuro, importante para a definição das cotações, ainda existe um limitador para que o dólar perca valor – o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre posições vendidas (que ganham com a queda do dólar), parte do antigo arsenal do governo para conter a valorização do real. Já para as posições compradas (que lucram com a alta), destaca Pacheco, não há restrições.
Apesar da perspectiva positiva, os fundos cambiais são mais indicados para quem precisa se proteger contra a oscilação da moeda estrangeira, como quem planeja uma viagem para o exterior.
Fonte:Valor