O novo ciclo de alta dos juros, aliado a um período turbulento na bolsa, que ontem tombou 3,35%, dá sobrevida aos investidores mais conservadores, amantes da renda fixa. Se antes os aplicadores começavam a buscar ativos mais arriscados na tentativa de ganhar um retorno mais atraente, a perspectiva de juro maior faz com que eles coloquem o pé no freio. Para se ter uma ideia, de julho de 2009 a março deste ano, com os juros básicos em 8,75% ao ano, os fundos multimercados acumulavam captação de R$ 34,836 bilhões, enquanto os fundos DI registraram resgates líquidos de R$ 352,55 milhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Com a alta da taxa de juros, para 9,50% na semana passada, os investidores que tinham medo de mudar ganharam um pouco mais de tempo, diz Demósthenes Pinho Neto, vice-presidente da Anbima. “Mas, lá na frente, ele não terá como, vai ter de pensar em migrar para algo mais arriscado se quiser retorno maior.”
A caderneta de poupança também perde um pouco de sua atratividade ante os fundos mais conservadores, como os DI. Antes, com a Selic a 8,75%, apenas fundos com taxa de administração inferior a 0,5% conseguiam empatar com a caderneta. Agora, com a taxa básica em 9,50% ao ano, os DI com taxa inferior a 1,5% conseguem empatar com a poupança nos prazos mais curtos, até seis meses, onde o imposto é de 22,5%. Com os juros em 11,75% ao ano em dezembro – como projetava o mercado no boletim Focus -, até mesmo fundos DI com taxa de administração de 3% superam a caderneta no curto prazo. Acima de dois anos, em que o imposto cai para 15%, até fundos com taxa de 4% ficam interessantes com juro de 11,75%.
O conservadorismo deve ganhar destaque também com os Certificados de Depósitos Bancários (CDB), que começam a pagar retornos mais atrativos. A necessidade de capital dos bancos aumentou diante da expansão do crédito e do consumo e do aumento do compulsório. Com taxas mais altas, a captação em CDBs voltou a ficar positiva. Só em abril, a aplicação apresentou ingresso de R$ 9,842 bilhões.
O investidor que começava a experimentar novos riscos deverá colocar um pouco o pé no freio e buscar aplicações mais conservadoras, avalia Rogerio Betti, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. “Mas ele precisa pensar que a inflação está alta e deve dar atenção ao retorno real (descontada a inflação) de suas aplicações”, diz.
Nem todos acreditam, no entanto, numa mudança já rápida no comportamento do investidor. Isso porque, as pessoas se acostumaram a ter um retorno de 1% ao mês e, quando o fundo não rende isso, ele acha que não está bom, lembra Marcelo Pereira, sócio da Tag Investimentos. “E mesmo que a taxa de juros chegue a 11,5% no fim do ano, o investidor ainda não terá ganho de 1% ao mês”, diz. “Muitos já perceberam que, para ganhar um pouco mais, têm de arriscar mais.”
Com o mercado antecipando o que podem ser as altas dos juros, volta a ficar interessante aplicar em fundos de renda fixa, que aplicam em taxas prefixadas, afirma Ronaldo Patah, superintendente de renda fixa do Itaú Unibanco. “Antes o melhor era fundo DI, que acompanha a alta dos juros, mas agora o melhor é ficar equilibrado ou mais em pré, pois há a previsão de o BC não fazer tantos ajustes quanto os previstos pelo mercado”, diz. Os juros projetados estão em 12,30% para 2012 e 12,50% para 2014, “mas como o BC deve derrubar o juro no ano que vem, essas taxas voltam a ficar apetitosas”, diz.
Patah alerta que nem todos os gestores de renda fixa devem seguir a mesma estratégia. O Itaú prevê mais quatro ajustes de 0,75 pontos e Selic de 12,50% em outubro. “Mas para investidor com horizonte de longo, já vale ficar em prefixados longas”, diz.
Outro ganho dos fundos de renda fixa pode vir das taxas de CBD, que subiram um pouco depois do compulsório, afirma Patah. “Bancos de baixo risco estão pagando 104% do CDI para um ano e há letras financeiras de dois anos saindo a 108% do CDI”, afirma. As debêntures das empresas, por sua vez, estão saindo com taxas menos atrativas e começam a perder o apelo. “Papéis de quatro anos de bom risco estão pagando 110% do CDI, mas é um risco, porque essa taxa pode subir no futuro”, diz.
Fonte: Valor